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A princesinha do Leste
Heloísa Cestari
Enviada à Suíça
28/07/2011 | 07:13
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Heloísa Cestari/DGABC


Não se deixe levar pelas aparências. Embora Praga seja uma das cidades europeias que melhor se conservaram desde a Idade Média - nem nazistas nem soviéticos tiveram coragem de derrubar tanta beleza -, a capital tcheca tem se transformado vertiginosamente nos últimos anos. Para melhor, é claro! Saiu de trás das cortinas de ferro sedenta por brilhar no palco tanto quanto seus cristais swarovski, sem vergonha de mostrar beleza e ostentar opulência. Tudo o que os comunistas execravam. Nos tempos de domínio vermelho, as palavras luxo e culto ao belo soavam como uma ofensa aos ideais socialistas. Agora, a situação é outra. Praga não tem mais que esconder seu lado romântico nem a harmonia de seus traços arquitetônicos por trás de uma falsa sobriedade. É exuberantemente bonita e ponto.

Não fosse suas curvas, Franz Kafka (1883-1924) não teria se apaixonado por ela. Foi nesta musa que o escritor tcheco encontrou inspiração para escrever a novela A Metamorfose (1915) e o romance O Castelo (1926).

E não é para menos: de castelos e metamorfoses Praga entende bem. Haja vista o suntuoso Prazsky Hrad no alto do bairro de Malá Strana, elencado no Livro dos Recordes como o maior castelo do mundo. De fato, o monumento é tão grande que mais parece uma cidade dentro da cidade. Erguido por volta de 880, o local foi palco da Defenestração de Praga em 1618, quando um grupo de nobres protestantes arremessou pela janela dois governadores e um secretário católico. Ninguém ficou ferido, mas o episódio serviu de estopim para a Guerra dos Trinta Anos.

Ao longo de um milênio, vários pátios e construções foram erguidos nos domínios do castelo, como a gótica catedral de São Vito, com lindos vitrais, afrescos e o túmulo do rei Venceslau; o Palácio Real, residência dos senhores da Boêmia entre os séculos 11 e 16; a Basílica de São Jorge, que guarda uma coleção ímpar de arte tcheca; e a Viela Dourada, rua com pequenas casas coloridas que hoje abriga lojas de suvenires, mas que era habitada por guardas do castelo no século 16 e artistas pobres no século 20. Kafka morou ali, na casa de número 22, durante dois anos.

Não à toa, o poeta Johannes Urzidil (1896-1970) escreveu um dia que "Praga era Kafka e Kafka era Praga". Se a Eslováquia soubesse da estreita relação entre os dois, teria pedido o divórcio há mais tempo.

Em maio de 1915, Kafka escreveu em suas anotações: "Sentei-me no Parque Chotek, o lugar mais bonito de Praga. Pássaros cantando, o castelo com a galeria, as velhas árvores cobertas com a folhagem do ano anterior, a semiescuridão". No mundo kafkiano, os personagens estão sempre em conflito existencial, e nunca sabem que rumo podem tomar.

Para o turista que visita Praga, no entanto, alguns destinos são certos, não podem ficar de fora do roteiro. É o caso da Ponte Carlos, cartão-postal por excelência de Praga. Erguida por ordem do rei Carlos IV em 1357, a ponte liga a Cidade Velha ao bairro de Malá Strana.

Outras 15 pontes cruzam o Rio Vltava (ou Moldava), que transbordou nas enchentes de 2002. Mas nenhuma oferece vista tão especial, tanto de dia quanto à noite. Sob a luz do sol, o vai e vem de pedestres é abençoado por 36 estátuas barrocas de santos em meio a caricaturistas, músicos de rua e vendedores de suvenires. À noite, as esculturas adquirem feições mais misteriosas, enquanto outros monumentos são iluminados ao redor.

A noite em Praga, aliás, merece capítulo à parte. Depois de contemplar o pôr do sol na Ponte Carlos, pegue o velho bonde turístico, de madeira, para conferir a iluminação dos monumentos em um tour animado, com direito a taça de champanhe e música ao vivo. O sanfoneiro tem um vasto repertório e certamente tocará Garota de Ipanema ou algum hit de Roberto Carlos se souber que você é brasileiro.

Explorado o território, é hora de escolher a cervejaria que mais lhe pareceu acolhedora. Mesmo quem não é lá muito chegado à bebida deve incluir um bar no programa. Afinal, as cervejas tchecas são consideradas as melhores do mundo. E há sabores para todos os gostos, desde as encorpadas escuras até loirinhas suaves, de paladar adocicado e toque frisante.

Mas lembre-se: neste matrimônio entre República Tcheca e Eslováquia, Praga ainda faz o papel da noiva comportada. Ou seja, a cidade dorme cedo. A maioria dos cervejarias fecha antes da 1h. Para quem prefere varar a noite, algumas casas noturnas estendem o horário até um pouco mais tarde. É o caso do lounge do Hotel Hilton, na cobertura do prédio, que conta com drinques, música animada e uma bela vista da agora desquitada princesinha do Leste.

 




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