Um forte estalo durante a madrugada acordou os moradores do apartamento 42. "Quando vi, o tijolo da parede estava prensado, como se houvesse excesso de peso em cima", explicou o morador Adalberto Augusto Benício. A rachadura, segundo ele, passa por toda a parede divisória com o apartamento 41. "O gesso e o bloco cederam."
Avisados, os vizinhos tiveram de abandonar os apartamentos sem poderem recolher os pertences e objetos pessoais. As 4h todos já tinham descido e esperavam uma soluçao. "Estou com a roupa do corpo e ainda tive de pedir um chinelo emprestado de outras pessoas", explica a moradora do apartamento 107, Sônia Maria de Souza. Como trabalha até tarde, como garçonete, Sônia nem teve tempo de subir. "A hora em que eu cheguei do serviço todos já estavam aqui embaixo", disse.
De acordo com os moradores, o prédio, de 100 apartamentos de dois quartos, apresenta problemas desde a construçao, em 1994. Um laudo pericial, feito em maio de 98, constatou situaçoes de risco. "A maioria dos apartamentos tem rachaduras e infiltraçoes", afirma o consultor Francisco José Dias Júnior, morador do 115. "Todo o ladrilho do banheiro está trincado e existem infiltraçoes em vários cômodos."
Há um mês, ele entrou com um processo no Procon contra a construtora Reizfeld por causa de trincos e queda do reboco no teto de um dos quartos. "Eles colocaram novo reboco, que também caiu", afirma Dias Júnior. "Agora a construtora diz que o problema é da pintura externa, que está com a validade vencida e causa infriltraçoes; é um absurdo, nao tem nada a ver."
Desespero - A maioria dos moradores do Torre Azul nao tem para onde ir. Sem parentes na cidade, Dias Júnior pretende ficar em um hotel, até que a questao seja resolvida. "Espero que a construtora pague a hospedagem." Sem roupas e documentos, a moradora Rosângela Anacleto, entrou em desespero. "Estou aqui desde madrugada dependendo da ajuda do pessoal dos outros prédios, isso nao é certo, toda a minha vida está lá", diz. "Até quando vou esperar para retomar meu cotidiano?"
Cleana Rodrigues, do apartamento 124, comparou a situaçao com as tragédias no Rio de Janeiro, Olinda e na Itália. "Tenho medo de voltar, mesmo que liberem o edifício", afirmou. "A gente vê pela televisao e nao pensa que pode acontecer na sua casa." Como saiu às pressas, Cleana deixou para trás a gata Lindinha. "Acho que nem vou conseguir subir para resgatá-la", disse.
Para o secretário de Obras de Taboao da Serra, Orlindo Domingos, o estado estrutural do prédio é preocupante e o risco de desabamento é sério. "A estrutura está movimentando-se, parece que a parede vai se romper", disse. Ele afirmou, no entanto, que ainda é difícil avaliar os riscos. Nem a construtora, nem a incorporadora Cyrela, responsáveis pelo condomínio, foram até o local verificar a situaçao.
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