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Brasil tem Câmara Federal bilionária
Alceu Luís Castilho
Especial para o Diário
11/02/2007 | 22:09
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A reforma da churrasqueira do deputado Henrique Fontana (PT-RS) custou R$ 21.443, quase 30% do valor de sua casa em Porto Alegre. Esse é um dos detalhes que podem ser encontrados nas 513 declarações dos novos parlamentares entregues à Justiça Eleitoral, durante a campanha para a Câmara.

A reportagem analisou nos últimos quatro meses essas informações e chegou a números impressionantes. Juntos, os deputados possuem nada menos que R$ 1.246.592.432,81. Média de R$ 2,48 milhões para cada um.

Para alimentar a churrasqueira do deputado gaúcho não faltará carne, no que depender de seus colegas do campo. Eles declararam 62.626 cabeças de gado, no valor de R$ 2,5 milhões. O número deve ser bem maior, pois vários deputados especificaram apenas o valor das reses – mais R$ 2,89 milhões, fora caprinos, ovinos, suínos e eqüinos. Somente Vadão Gomes (PP-SP) declarou R$ 1,43 milhão em bovinos, e Juvenil Alves (PT-MG), R$ 1,7 milhão em bovinos e eqüinos.

Toda essa prosperidade prossegue pelas cinco regiões do país. Os números dos deputados são de dar inveja não somente a cidadãos comuns, mas a muitos municípios – ou mesmo Estados. O total de R$ 1,25 bilhão entre os parlamentares é superior ao orçamento anual de Roraima: R$ 1,15 bilhão para 391 mil habitantes. O orçamento de São Bernardo para este ano é de R$ 1,99 bilhão.

Quase a metade dos bens dos 513 deputados (mais precisamente 503, pois o TSE não divulgou informações sobre 10 deles) está em suas empresas: são R$ 580,5 milhões. Em seguida vêm os imóveis urbanos, com R$ 208,8 milhões. Juntos, eles possuem mais de 3 mil imóveis (568 apartamentos, 473 casas, 1.654 lotes, 208 salas comerciais, 51 prédios inteiros).

Depois aparecem os imóveis rurais, com R$ 180,9 milhões. Gado, plantações e casas estendem-se numa área somada de mais de 500 mil hectares – área equivalente ao total de Reservas Particulares do Patrimônio Natural no País.

Em quarto lugar aparece o dinheiro, aplicado em bancos, ações ou guardado em casa – mais R$ 70,2 milhões. Os carros e outros veículos ficam em quinto lugar no patrimônio geral, com R$ 47,8 milhões.

TOUR DA PROSPERIDADE

Tomemos o Mitsubishi 2005 declarado por Clodovil Hernandes (PTC-SP), de R$ 80 mil, para conhecer um pouco mais desse país da fartura. A casa de praia do apresentador, em Ubatuba, no km 27,5 da rodovia Rio-Santos, foi declarada por R$ 900 mil – R$ 100 mil a mais que o valor de sua residência na Granja Viana. Foram os três únicos bens declarados pelo deputado.

Seus novos colegas de trabalho possuem no total 117 casas de praia (excluídas as residências dos que moram no litoral) e 89 lotes em cidades litorâneas (fora os 42 lotes que o gaúcho Osmar Terra, do PMDB, possui sozinho na fronteiriça Passo de Torres, em Santa Catarina).

Somente no Rio de Janeiro, 12 deputados de outros Estados possuem 17 casas ou apartamentos. O litoral do Nordeste e o de Santa Catarina também são visados pelos parlamentares, detentores de 30 veículos aquáticos (entre eles oito lanchas e três jet-ski) Em Brasília, sem contar os oito brasilienses, eles têm 43 imóveis. Apenas o deputado Eunício de Oliveira (PMDB-CE) possui ali mais de R$ 2 milhões em casas, apartamentos, escritórios e lotes.

Em alguns pontos do país o Mitsubishi seria desnecessário. Nove deputados têm aviões. Os mais caros são os dois bimotores de Odílio Balbinotti (PMDB-PR), um Beech Aircraft de 1988 e um Piper Cheyenne II, de 1980, nos valores de R$ 5,87 milhões e R$ 1,8 milhão, respectivamente. Fora os dois aviões agrícolas dele, que somam mais R$ 950 mil.

Sim, alguns Estados têm parlamentares mais ricos, e alguns entre estes (o próprio Balbinotti e o capixaba Camilo Cola à frente) são ultramilionários, ajudando a puxar a média para cima. Mas o que se verá nos próximos dias, nesta série de reportagens, a partir dos dados de 503 deputados, é o retrato de um Brasil desconhecido da maioria – o dos carros importados, mansões, latifúndios e muito dinheiro no bolso.

Mais do que isso, porém: em muitos casos, um país de fazendas e imóveis a preços de banana, de empresas não declaradas, das auto-doações polpudas para a campanha eleitoral, da incompatibilidade entre declarações de bens e doações de campanha. Um país quase subterrâneo, ainda que declarado pelos próprios parlamentares aos Tribunais Regionais Eleitorais.



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