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Federaçao autoriza homens a vender acarajé
Do Diário do Grande ABC
04/05/2000 | 16:11
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A tradicional baiana de acarajé ganhou oficialmente um parceiro masculino na arte de armar o tabuleiro e vender os quitutes típicos: os homens foram autorizados pela Federaçao do Culto Afro Brasileiro a comercializar acarajé, depois de décadas de resistência. Esse ato de "modernidade" da federaçao, conhecida pelo seu conservadorismo, se deve ao novo presidente, Aristídes Mascarenhas, que assumiu em fevereiro.

Como as baianas, que só podem se apresentar vestidas tipicamente com saia rendada, bata, colares e outros apetrechos, os homens precisarao também de roupas adequadas, calça, bata e cilar (espécie de gorro) originários da cultura africana. Eles receberao crachás de identificaçao e terao o registro de baiano de acarajé na carteira de trabalho, com o que podem pagar a Previdência Social para aposentadoria.

"Já temos oito registrados, mas a federaçao sabe que há, em Salvador, pelo menos 25 homens vendendo acarajé", disse Mascarenhas. O número ainda é reduzido se comparado com o total de vendedores de acarajé cadastrados em Salvador, 1.800.

A proposta de autorizar homens a vender acarajé foi levantada pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que nao entendia a proibiçao."Muitos homossexuais procuravam o GGB para reclamar que a federaçao nao autorizava 'homem' a vender acarajé", disse Marcelo Cerqueira, diretor do grupo, lembrando que mesmo sem o registro oficial muitos se aventuravam nesse comércio. "Conhecemos um gay assumido, o Roberto Valois, que há mais de dez anos mantém seu tabuleiro no bairro da Ribeira e faz o maior sucesso", contou Cerqueira, elogiando a decisao da Federaçao do Culto Afro.

Outra inovaçao da nova diretoria é permitir que pessoas de outras religioes, que nao o Candomblé, também possam entrar nesse mercado. "Estamos registrando as evangélicas que vendem acarajé em Salvador, mas elas também precisam se submeter às normas da federaçao e da Prefeitura de Salvador, que impoe às baianas,se vestirem tipicamente", disse Mascarenhas. Como os evangélicos sao adversários ferrenhos do Candomblé é preciso ter muito jogo de cintura para contornar o problema.

O mercado de acarajé e os outros quitutes do tabuleiro da baiana movimenta milhoes de reais por mês em Salvador. A disputa pelos clientes é muito acirrada e já provocou alguns conflitos como a briga das três baianas famosas Dinha, Regina e Cira que se instalaram no bairro do Rio Vermelho passando a trocar ofensas. A briga nao tem qualquer conotaçao de defesa cultural: embora as três nao falem quanto faturam, sabe-se que cada uma consegue tirar pelo menos R$ 40 mil por mês dos seus tabuleiros.




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