Cultura & Lazer Titulo
Mao-de-obra pode dificultar correçao do bug do milênio
Anderson Amaral
Da Redaçao
29/03/1999 | 18:55
Compartilhar notícia


A pouco mais de nove meses para o ano 2000, as empresas que ainda nao protegeram seus sistemas contra o bug do milênio podem ter acionado uma bomba, cujo detonador nao pode ser mais desligado. Isso porque, de acordo com os técnicos consultados pelo Diário, a mao-de-obra especializada em análise de sistemas presente no País nao tem condiçoes de atender à demanda existente, o que pode transformar a busca por esses profissionais em um verdadeiro leilao.  

Segundo uma pesquisa divulgada em meados de 1998, somente entre 10% e 30% das empresas brasileiras privadas haviam começado a corrigir seus sistemas. Se levarmos em conta apenas as pequenas e médias corporaçoes, o número cai para apenas 3%. A corrida contra o tempo fez subir o preço da mao-de-obra especializada em todo o mundo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o custo de correçao de uma linha de um programa proprietário pode chegar a US$ 1,80 - vale destacar que um banco de dados tem em média 25 mil linhas.  

David Bertelli, gerente do programa Year 2000 da HP (Hewlett-Packard) para a América Latina, revela que nos Estados Unidos o custo de uma hora de um programador pode chegar a US$ 90. "Atualmente, há nos Estados Unidos uma carência de 70 mil profissionais em Cobol. Muitas empresas têm buscado mao-de-obra aqui no Brasil", ressalta Bertelli. "O Brasil tem um déficit de 5 mil profissionais em informática", diz José Ricardo Pereira, diretor da InfoServer Engenharia de Sistemas. Além da escassez de mao-de-obra, há também a dificuldade de captaçao de dinheiro, uma vez que as altas taxas de juros podem inviabilizar um financiamento.  

Ainda que a empresa tenha profissionais e recursos disponíveis, o tempo passa a ser o principal adversário na corrida contra o bug do ano 2000. Isso porque boa parte das corporaçoes ainda utiliza sistemas proprietários, que demandam mais tempo para serem corrigidos, uma vez que, em sua maioria, sao aplicaçoes antigas e nao há documentaçao que auxilie os programadores a corrigi-las. Nao basta, no entanto, corrigir o bug internamente. "É necessário também que os pequenos fornecedores sejam orientados a resolver o problema nos seus sistemas, sob o risco de termos o efeito cascata", adverte Pereira, da InfoServer.  

O Gartner Group, que em 1997 estimava em 18 meses o tempo necessário para a soluçao do bug do ano 2000, hoje já fala em 30 meses. Assim, pequenas e médias empresas podem nao ter tempo suficiente para corrigir o problema. A soluçao, nesse caso, seria priorizar os sistemas vitais, indispensáveis ao correto funcionamento da empresa. "Devem ser priorizadas as atividades-fim, como a produçao e os controles de estoque e de fornecedores", explica Bertelli, da HP.  

Outras atividades, como folha de pagamento e benefícios oferecidos a funcionários, podem ser renegadas a um segundo plano. "Em uma emergência, essas atividades podem ser realizadas manualmente ou terceirizadas", explica Bertelli. "Dependendo da atividade, a soluçao mais viável pode ser desligar a máquina", ressalta Pereira, da InfoServer.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;