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Direita lidera disputa para prefeito do Rio
José Afonso Primo
Colunista do Diário
05/08/2000 | 18:01
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Considerada pelo professor Alberto Carlos de Almeida, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, como uma cidade de eleitorado típico de esquerda, menos conservador do que o de Sao Paulo e o de Curitiba, por exemplo, o Rio de Janeiro coloca no primeiro e segundo lugares da campanha para a Prefeitura dois candidatos com perfil marcadamente de direita.

A última pesquisa do Datafolha dá iguais 26% de intençao de voto ao prefeito Luiz Paulo Conde (PFL) e ao seu antecessor Cesar Maia (PTB), enquanto registra 13% para a vice-governadora Benedita da Silva (PT) e 10% para o ex-governador Leonel Brizola (PDT).  

Em Sao Paulo, ocorre justamente o inverso. Duas mulheres de esquerda - Marta Suplicy (PT) e Luiza Erundina (PSB) - ameaçam chegar ao segundo turno, deixando para trás candidatos com perfil de direita e centro-direita como Paulo Maluf (PPB), Romeu Tuma (PFL) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Esse quadro nega a análise feita pelo cientista político Alberto Carlos, uma vez que, segundo os atuais números das pesquisas, Conde e Maia se apresentam com maiores chances de passar para o segundo turno carioca.

O professor da UFF recomenda, no entanto, esperar o horário gratuito no rádio e na televisao: "Num quadro eleitoral embaralhado como o do Rio, tudo pode acontecer", adverte.

Este sobe-e-desce nas pesquisas para a Prefeitura do Rio de Janeiro - em um mês Cesar Maia caiu de 32% para 26%, e Luiz Paulo Conde subiu de 18% para 26% - reflete apenas uma mudança nas primeiras posiçoes da campanha. Benedita da Silva continuou estável nos 13%, e Leonel Brizola desceu de 12% para 10%.

Os números indicam que houve migraçao de eleitores de Maia para Conde e que a batalha eleitoral está se travando entre os dois. O prefeito Conde é beneficiado também, segundo uma pesquisa do Ibope realizada no dia 18 de julho, pelos 70% de ótimo e bom dados pela populaçao à sua administraçao.  

Enquanto os concorrentes mais à direita dao mostras de que poderao ir para o segundo turno, a esquerda se divide e perde terreno.  

Primeiro foi a briga do PT com o PDT de Leonel Brizola, que nao aceitou o acordo feito na eleiçao para governador em 1998, quando a petista Benedita da Silva se tornou vice de Anthony Garotinho com a condiçao de que seria a candidata à Prefeitura com o apoio dos pedetistas. Brizola negou que o partido tivesse se comprometido a abrir mao da cabeça-de-chapa na eleiçao para prefeito, e Garotinho manteve a palavra, apoiando sua vice-governadora.  

A situaçao ficou mais complicada quando o próprio Leonel Brizola se candidatou a prefeito pelo PDT e passou a exigir o apoio de Anthony Garotinho à candidatura. O bate-boca do ex-governador com seu sucessor atingiu o limite máximo na semana passada, quando Brizola disse que Garotinho é um "marqueteiro da segurança", "a nova cara da direita no Rio". O ex-governador levou a comissao de ética do partido a analisar pedidos de expulsao feitos por Brizola, tudo porque Garotinho nao se mostrou disposto a apoiá-lo. No dia 11, o parecer será divulgado e encaminhado ao Diretório Regional pedetista.  

Os xingamentos de Leonel Brizola parecem nao afetar Anthony Garotinho, que continua com o projeto de se viabilizar para uma eventual candidatura presidencial em 2002. Mas, pelo andar da carruagem, dificilmente permanecerá no PDT, que é pequeno demais para o tamanho do ego de ambos. Conhecendo, porém, a disposiçao de seu ex-padrinho político para a briga, Garotinho se limitou a divulgar uma nota lamentando "que um homem com a biografia de Brizola se preste a um papel tao deprimente como esse".   

Os discursos essencialmente ideológicos de Leonel Brizola, que tenta ganhar os votos da parcela mais à esquerda do eleitorado carioca, chamando Anthony Garotinho de direitista, e de Benedita da Silva, que participou de ato do PT em Sao Paulo na semana passada, na tentativa de nacionalizar a campanha eleitoral, recorrendo a temas como o da ética na política e propondo CPI para o desvio de R$ 169 milhoes da obra do Tribunal Regional do Trabalho de Sao Paulo, perdem para as propostas do pefelista Luiz Paulo Conde e do petebista Cesar Maia, mais preocupados com as questoes administrativas. Talvez esteja aí a explicaçao para as boas colocaçoes desses dois últimos nas pesquisas.  

Além disso, com Brizola desgastado e Benedita isolada, Conde e Maia aparecem para o eleitorado como alternativas mais viáveis para cuidar dos problemas da cidade.




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