Economia Titulo
Juros atingem maior
patamar em 2 anos
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
31/05/2011 | 07:06
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Medidas macroeconômicas e macroprudenciais para segurar a inflação. Os termos são complicados, mas seus conceitos são compreensíveis: elevação nos juros para que o consumidor empreste menos, consequentemente compre menos e, por fim, os preços subam menos. O resultado primário desejado pelo governo foi comprovado pelo boletim de operações de crédito do Banco Central. O documento aponta que as famílias pagaram, em média, juros de 46,8% ao ano em abril, maior patamar dos últimos dois anos. O cheque especial teve grande contribuição para o movimento.

A taxa média do crédito ao consumidor foi 5,7 ponto percentual superior ao registro do mesmo mês do ano anterior e 1,8 ponto percentual sobre março. É o maior patamar desde maio de 2009, quando o custo do crédito estava, em média, a 47,2% ao ano.

Esses juros são das operações de crédito com recursos livres, cujas instituições financeiras tem liberdade de cobrar o quanto desejarem pelos empréstimos. Essas transações não são vinculadas aos programas do governo, como ocorre no crédito com recursos direcionados.

VERMELHO - O cheque especial, uma das modalidades mais caras do mercado aos consumidores, registrou taxa média de 178,1% ao ano. São os juros mais inchados desde abril de 2003, quando o BC captou 178,4% ao ano.

Quem entrou no vermelho e utilizou o cheque pagou 3,5 pontos percentuais ao ano a mais do que era cobrado em março. E 16,8 pontos percentuais acima do custo da modalidade em abril do ano passado.

Entre as modalidades listadas no boletim, o cheque especial teve o maior encarecimento na comparação com o abril de 2010. Crédito pessoal e empréstimos para aquisição de bens elevaram, consecutivamente, 7 e 6,8 pontos percentuais. O pesquisador Fabiano Guasti Lima, do Instituto Assaf, afirmou que é normal o acréscimo maior no cheque. "Quanto maior o risco para o banco, maiores são as taxas de juros e seus aumentos quando ocorrem elevações na taxa Selic", explicou Lima.

Em taxa mensal, o preço do cheque especial estava em R$ 8,89% ao mês. Portanto se um consumidor deixar de pagar R$ 750 por 30 dias, gastará R$ 66 só de juros, pois a dívida passará a R$ 816.

Mesmo caro, o limite da conta-corrente é ferramenta essencial para muitas pessoas. Em abril, os clientes que utilizavam o recurso ficavam no vermelho por 23 dias em média. Portanto quase o mês inteiro se financiando e pagando juros.

O crédito pessoal, incluído o consignado, ficou com juros médio de 49,9% ao ano ou 3,43% ao mês. O financiamento de veículos ficou em 30,9%. E o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para aquisição de bens atingiu 54,8% ao ano.

 

Medidas do governo reduzem demanda por empréstimos

A inflação e a elevação nos juros surtiram efeito, ainda que pequeno, na vontade das famílias contratarem crédito. O BC informou que o volume de crédito concedido em abril recuou 2,3% na comparação mensal, passando de R$ 71,7 bilhões para R$ 70,1 bilhões.

O aumento do valor de entrada nos financiamentos de veículos, que o BC determinou em dezembro, fizeram a modalidade puxar o total, tendo em vista que recuou 5,2% no mês passado e 24,5% no acumulado dos primeiros quatro meses do ano contra o quadrimestre anterior.

Também caíram na comparação mensal o volume emprestado por meio do cheque especial, 4,7%, e crédito pessoal, 7,5%. Essas duas modalidades somaram, respectivamente, concessões de R$ 23,6 bilhões e R$ 13,7 bilhões.

SENTIDO OPOSTO - O volume monetário de financiamentos imobiliários com recursos livres, que não são vinculados ao governo e os bancos cobram os juros que desejarem, subiu 2,3% ante março e 86,6% sobre abril do ano anterior. Foram R$ 599 milhões contratados.

O saldo dos empréstimos por meio do cheque especial atingiu R$ 19,6 bilhões e registrou avanço de 1,6 ponto percentual sobre o mês anterior e 10,7 ponto percentual ante abril de 2010. No acumulado ano, o crescimento chegou a 14,9%.

 

Inadimplência do tomador de crédito cresce em abril

A inadimplência do consumidor nas operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional em abril foi de 6,1%, resultado 0,1 ponto percentual superior a março e 0,4 ponto percentual acima de dezembro.

O BC considera inadimplente o tomador de crédito que deixa o pagamento de sua dívida atrasado por mais de 90 dias.

Crédito para aquisição de bens, conhecido como CDC, puxou o avanço da inadimplência das pessoas físicas. Para aquisição de veículos subiu 0,3 ponto percentual com 3,3%. E para a compra de outros bens aumentou 1,5 ponto percentual, ficando em 11,8%.

ESTABILIDADE ­- O cheque especial, cujos usuários pagam caro pelo empréstimo, teve 7,9% de inadimplência em abril. O resultado é igual ao de março, mas é 2,2 ponto percentual menor do que em dezembro e 1,6 ponto percentual inferior a abril do ano passado.

O mesmo ocorreu com o crédito pessoal, considerando também o empréstimo consignado, que tem parcelas descontadas direto na folha de pagamento. Essa modalidade teve estabilidade na comparação mensal, com 4,4%. E em relação ao resultado do mesmo mês do ano anterior, queda de 0,1 ponto percentual.




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