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Comércio da região começa a fechar as portas

João Doria determinou que só serviços essenciais podem funcionar; moradores relatam desconhecimento

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
23/03/2020 | 10:55
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Nario Barbosa/DGABC


Atualizado às 14h05

O comércio da região começa a fechar as portas nesta segunda-feira (23). O decreto estadual, anunciado no sábado pelo governador João Doria (PSDB), prevê fechamento nos estabelecimentos a partir de amanhã até 7 de abril. Entretanto, os lojistas já se anteciparam como medida de prevenção ao novo coronavírus. Em Mauá, na Avenida Barão de Mauá, no Centro, pelo menos 90% do comércio estava fechado. “É uma ação necessária para precaver a manifestação da doença (Covid-19)”, afirmou a desempregada Giovana Sousa, 20 anos, moradora da Vila Assis, que estava aguardando para comprar álcool gel em uma perfumaria. Cuidadora e moradora do Jardim Zaíra 4, Pâmela Silva, 23, defendeu que “é apropriado fechar o comércio”. “Cada um precisa da sua renda, mas é por um bem maior, é pela saúde de todos.” Um homem, que não quis parar para conversar com a reportagem, discorda da atitude. “Não vão abrir não? Tinha que abrir, é um absurdo”, opinou.

Já a Prefeitura de Diadema antecipou em um dia, com relação à decisão do governo estadual, a data de fechamento dos comércios considerados não essenciais, como venda de roupas, móveis, eletrodomésticos e outros. A partir de hoje, as lojas devem permanecer fechadas e só funcionam estabelecimentos de alimentação (não é permitido servir refeições prontas, apenas para viagem ou entrega), supermercados, açougues e hortifrutis, saúde (farmácias e clínicas), petshops e qualquer tipo de manutenção e reparo de veículos. Muitas pessoas foram pegas de surpresa e estavam no centro esperando pelo funcionamento das lojas.

Lucimara Souza, 32 anos, veio do Eldorado ao centro procurando atendimento bancário, mas foi orientada a tentar atendimento pelos canais digitais. "O que eu precisava não estão fazendo na agência", lamentou. Mesmo sem conseguir atendimento, a moradora avaliou que a decisão de fechar o comércio é acertada. "São medidas essenciais, mas fico com a sensação de que ainda tem muita gente circulando", pontuou. Quem também foi surpreendida com o fechamento das lojas foi a dona de casa Jussara Torres de melo, 34. Moradora do Serraria, ela aguardava a abertura de uma loja para pagar o carnê. "Não sei nem se posso fazer pela internet e não domino muito essas ferramentas", afirmou. Jussara disse que tentou ligar no atendimento do estabelecimento no domingo, mas não conseguiu orientações. "Hoje vou tentar ligar de novo e ver se alguém me ajuda com o pagamento pela internet", completou. A dona de casa se divide entre aprovar ou não a medida de fechamento das lojas. "É bom porque as pessoas ficam em casa, mas é ruim porque atrasa tudo. O pior mesmo foi terem fechado as igrejas", concluiu.

Funcionária pública da área de segurança, Marcely Moreira, 21, reclamou do grande número de pessoas que ainda estão nas ruas. "No mercado tem um monte de gente, idosos que parecem que estão só passeando, sem necessidade", declarou. A enfermeira Edvania Maria da Silva, 38, também criticou as pessoas que, podendo, ainda não estão em suas casas. "A gente que está lidando diretamente com a doença sabe que está ficando cada vez mais grave. Parece um dia normal. Fiquem em casa", pediu.

SANTO ANDRÉ

O cenário nos comércios em Santo André não está diferente. O município também decretou o fechamento dos estabelecimentos, a partir de hoje, e com isso, comércios e serviços - não essenciais à população - já amanheceram de portas fechadas e divide opiniões de munícipes que ainda precisam circular pela cidade. O cabeleireiro, Jorge Carvalho, 30 anos, precisou fechar seu salão no parque Novo Oratório, visitou o local hoje pela manhã para buscar alguns itens pessoais e soma os prejuízos futuros. “Infelizmente, precisei fechar. Vou buscar clientes para atender a domicílio e vender produtos para o cabelo em delivery”, lamenta. A proprietária de uma petshop na Vila Curuça, Raquel Souza, 35, avalia a medida como positiva apesar de observar suas vendas que caíram em 70%. “Eu já vendia alguns itens pela internet, por meio das redes sociais, agora é reforçar essas vendas para não ficar tanto no prejuízo”, comenta.

SÃO BERNARDO

A Rua Marechal Deodoro, no Centro, em São Bernardo, está fechada para o tráfego de carros, apenas os cruzamentos estão liberados. Segundo funcionário da Prefeitura, a medida foi tomada para evitar aglomeração de pessoas e a GCM (Guarda Civil Municipal) estaria atuando para barrar os comércios que tentassem abrir as portas. Funcionária de um restaurante na via, que falou sob anonimato, disse que o estabelecimento já sabia da medida e como os proprietários optaram por não operar com delivery, hoje o dia foi apenas de limpeza. "Organizamos as coisas para deixar fechado por tempo indeterminado", relatou.

Moradora do bairro Jerusalem, a recepcionista Érica Gonçalves, 29, sabia do fechamento dos comércios, mas foi pega de surpresa pelo funcionamento dos bancos. "Eu precisava sacar um cheque, mas eles disseram que não é possível no momento, agora, estou vendo uma conta para eu poder depositar. Estamos até podendo entrar no banco, mas nem todo atendimento está disponível."

Movimento nas ruas surpreende população

Trânsito livre nas principais vias das cidades, poucas pessoas nos pontos de ônibus e circulando pelas calçadas. Este é o cenário desta segunda-feira no Grande ABC, uma vez que a população está buscando isolamento como medida de prevenção ao novo coronavírus. Pâmela Silva, 23 anos, cuidadora e moradora do Jardim Zaíra 4, em Mauá, saiu de casa nesta manhã para buscar encomenda no Centro e aproveitou para comprar álcool gel. “O terminal (de ônibus da cidade) está bem mais vazio, tem pelo menos metade de passageiros a menos”, observou. O taxista mauaense Paulo Rogério Domeneghetti, 40, comentou que, desde a semana passada, o movimento caiu “bruscamente”. “Com o fechamento do comércio e o isolamento, estamos fazendo no máximo quatro corridas por dia. Em um dia normal, chegamos a fazer até 15”, detalhou. “Estamos na incerteza, não sabemos o que vai acontecer, já que dizem que vai durar pelo menos três meses.”

Moradora do bairro Alvarenga, em São Bernardo, a aposentada Vilma Amador Vigilato, 58, foi até a Rua Marechal Deodoro, no Centro, em busca de medicamentos e álcool gel. Ela se surpreendeu com o fechamento da via, onde os carros não estão podendo transitar. "O que é isso? Eu sabia que o comércio estava fechado, mas não imaginava que seria sério assim", disse.

(Colaboraram Aline Melo e Yasmin Assagra)




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