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Consórcio já fala em rever suspensão de ônibus municipais

Colegiado se reúne na terça com o Comitê Administrativo Extraordinário COVID-19 para avaliar situação

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
19/03/2020 | 19:14
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Nario Barbosa/DGABC


Atualizada às 23h08

Após videoconferência realizada com o vice-governador e coordenador do comitê administrativo extraordinário Covid-19, Rodrigo Garcia (DEM), o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC já avalia rever a suspensão do transporte coletivo municipal na região. A decisão foi anunciada na quarta-feira, após assembleia extraordinária do colegiado, e prevê que a suspensão seja gradual até 28 de março e total por tempo indeterminado a partir do dia 29. A reação do governo do Estado não foi boa e o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, declarou em entrevista à rádio CBN que pediria para que os prefeitos revissem a medida.

A reunião foi efetivada com diversos prefeitos da Região Metropolitana do Estado de São Paulo e pela região participaram os chefes dos Executivos de Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires, além do prefeito de Rio Grande da Serra e presidente do Consórcio, Gabriel Maranhão (Cidadania). Maranhão elogiou a postura respeitosa de Garcia com relação à decisão do colegiado. “Não foi uma atitude impensada, foi baseada nos números de casos suspeitos e confirmados na região. Temos feito projeções numéricas e se seguir no ritmo que estamos, em 60 dias a região pode ter 4.200 casos e, por isso, optamos pela suspensão do transporte municipal”, justificou. “Não temos vaidade e nem decidimos por ego. Se a situação mudar, se o fechamento de escolas, shoppings e empresas resultar em menor circulação de pessoas, podemos reavaliar essa decisão na próxima reunião, marcada para terça-feira, e, ao invés de suspender totalmente, reduzir em 30% (a frota), por exemplo”, completou.

Presente à reunião, o prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), corroborou que não houve pedido formal por parte do governo estadual para revogação da medida, e reforçou as preocupações com a circulação de pessoas. “Temos muitos idosos que usam o sistema de transporte municipal e queremos preservar essas pessoas”, disse o verde. Lauro declarou que já houve queda de 30% no fluxo de passageiros da cidade e que se a decisão for mantida, usará os veículos das secretarias de Saúde e Educação para criar microlinhas e atender os funcionários públicas da saúde e defesa social. “O Estado deveria se preocupar também em ajudar as cidades. Pedi máscaras, porque não temos mais onde comprar, e não recebemos nada”, reclamou o verde.

Chefe do Executivo de Ribeirão Pires, Adler Kiko Teixeira (PSDB) concordou com a fala de Maranhão e completou que todos os prefeitos estão convictos de que era urgente e necessária a medida, mas que tudo será avaliado dia a dia, à luz dos novos fatos. “De qualquer forma, a suspensão só se concretiza no dia 29 e foi dado um intervalo de 11 dias para que sejam feitos os ajustes necessários”, pontuou.

A FUABC (Fundação do ABC) protocolou no Consórcio ofício questionando como se dará o transporte de funcionários da saúde. O documento, que também foi encaminhado aos sete prefeitos e ao governo do Estado, pede que seja apresentado um plano de contingenciamento “garantindo aos profissionais da área da saúde transporte aos postos de trabalho, assegurando a manutenção do serviço assistencial e o regular exercício da profissão, sem prejuízo ao usuário final”. Maranhão reafirmou que cada cidade está estudando como os profissionais serão levados aos seus postos de trabalho.

Em nota enviada pela assessoria do vice-governador, Rodrigo Garcia ponderou que a decisão cabe a cada município, assim como a revisão dela. “Vivemos uma pandemia em que os fatos nos levam a mudar a conduta numa questão de horas.”

Doria critica decisão e a classifica como ‘precipitada’

Em coletiva realizada no fim da manhã de ontem, o governador João Doria (PSDB) afirmou que proibir o transporte público no Grande ABC não é uma medida adequada. O tucano demonstrou preocupação com profissionais de áreas essenciais, como a saúde, e criticou a decisão tomada pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que anunciou a suspensão do transporte coletivo municipal a partir do dia 29 de março.

“Proibir não é a forma correta. Quero registrar que pedi aos nossos secretários do governo do Estado da área de Transportes Metropolitanos e também ao secretário de Desenvolvimento Regional que dialoguem com os prefeitos da região da Grande São Paulo, que, ao nosso ver, tomaram uma medida precipitada da interrupção das linhas de ônibus da região do Grande ABC e outras áreas”, sustentou Doria.

O presidente do Consórcio e prefeito de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão (Cidadania), rebateu a fala de Doria e afirmou que o governador precisa verificar a peculiaridade da região e o grande número de passageiros transportados diariamente, além da proximidade geográfica com a Capital, cidade que concentra a maior parte dos casos de Covid-19 do Estado. “O Grande ABC está mais vulnerável do que outras regiões. Estamos ao lado do Porto de Santos, do aeroporto de Cumbica e nossa atitude quer fazer com que a população fique em casa”, justificou (colaborou Yara Ferraz).

Em outros países, transporte coletivo não foi interrompido

Entre todas as medidas tomadas pelos países para combater a pandemia de Covid-19, a suspensão de transporte coletivo não foi adotada até o momento. No Brasil, além do Consórcio Intermunicipal, que anunciou a suspensão a partir do dia 29, Santa Catarina suspendeu desde o dia 18 o transporte municipal e intermunicipal. O Diário conversou com pessoas da região e de outras cidades que atualmente estão na Europa e os relatos são de confinamento e de dificuldades.

Cursando mestrado em Braga, em Portugal, Gabriela Guimarães, 25 anos, relatou que não é possível sair sem motivo e que as pessoas podem ser multadas. Faltam produtos nos mercados e a demora para compras é grande, porque o acesso às lojas é controlado e limitado. Aulas têm sido apenas on-line.

Trabalhando como babá em Virgínia, nos Estados Unidos, Bruna Capassi, 19, relatou que as coisas começam a se complicar. Todas as atividades das duas crianças que ela cuida foram canceladas e nem sair para brincar com os vizinhos é permitido. A venda de itens nos mercados é limitada e a expectativa é que tudo piore em breve.

A bióloga Daniela Ferrari, 37, está em Bournemouth, na Inglaterra, onde as aulas acabam de ser suspensas e aos poucos as pessoas vão se isolando em casa. Debora dos Santos, 43, artesã, vive em Paris, onde a polícia está controlando quem pode ou não sair de casa. Só estão permitidas idas ao trabalho e o transporte público é acessível para quem tem essa necessidade. As ruas estão vazias e no mercado sempre falta coisa, segundo seu relato.




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