Política Titulo
Secretária quer acabar com clientelismo na área social
Do Diário do Grande ABC
03/01/1999 | 20:14
Compartilhar notícia


A nova secretária nacional de Açao Social, Wanda Engel Aduan, assume o cargo disposta a comprar uma briga: ela afirma que só será bem sucedida em sua nova funçao se acabar de vez com as práticas clientelistas e fisiológicas que, na sua análise, historicamente marcaram a política oficial no setor. Sem ser filiada a qualquer partido político, já trabalhou no Rio com administraçoes do PDT e do PFL. No comando da pasta recém-criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ela pretende imprimir um perfil técnico no trato com as açoes sociais, custe o que custar.

"A área social só avança se conseguirmos limpá-la do histórico clientelista e fisiológico. É preciso ter prioridades superdefinidas, para usar bem os parcos recursos, e integrar as açoes com outros setores, como empresários e ONGs", afirma Wanda, que de 1993 até semana passada foi a secretária municipal de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio. "Pode ser que eu vá contra interesses específicos. Se essas forças políticas forem muito fortes, posso cair", prevê.

Uma das principais metas de Wanda é descentralizar a aplicaçao dos recursos, instalando em todos o país os conselhos municipais de assistência social, hoje existentes em apenas 30% dos municípios. De acordo com o que estabelece a Lei Orgânica da Assistência Social, esses conselhos, formados por representantes das prefeituras e da sociedade civil, devem decidir quais sao as prioridades e fiscalizar a aplicaçao das verbas, sem interferências políticas. Wanda pretende criar um grande programa de capacitaçao de gestores e incentivar municípios pequenos a formar consórcios para gerir as verbas.

Com verba de R$ 1,4 bilhao para o próximo ano, Wanda pretende centrar sua açoes em três áreas: crianças, adolescentes e idosos carentes. Ciente de que comandará uma área na qual o governo precisa mostrar resultados rapidamente, Wanda diz que nao poderá se dedicar só às reformas estruturais. "Vamos precisar de alguns milagrinhos nos próximos seis meses, desenvolver açoes pontuais demonstrativas".

Wanda adianta que a secretaria só será bem sucedida se integrar suas açoes com outros setores do governo e nao se limitar a práticas meramente assistencialistas. A secretária cita programas desenvolvidos no Rio, para explicar sua linha de açao. Entre eles, o bolsa-escola, que beneficiou 20 mil famílias com renda per capta de até meio salário mínimo. "Nao damos dinheiro, mas cestas básicas para as famílias com filhos entre 7 e 14 anos que estejam na escola e tenham pelo menos 90% de freqüência. Assim, a cesta básica é uma alavanca para mudar, para que essas crianças deslanchem socialmente. Isso só acontece se houver ligaçao coma outras políticas sociais, como as de saúde e de educaçao".

Antes de trabalhar com prefeituras do PFL (Cesar Maia e Conde), Wanda colaborou com o PDT. Nos anos 80, foi diretora do primeiro "brizolao', na Mangueira, onde aprendeu a importância dos programas preventivos. Em sua memória, está a turma de 21 alunos, com idade média de 14 anos, alfabetizados ao estudarem o samba em homenagem a Dorival Caymi, que deu à Mangueira o título de supercampea do Carnaval de 1986. Vindos de famílias problemáticas e envolvidos com drogas, só seis estao vivos. Os outros morreram de forma violenta. "Os trabalhos reintegradores sao mais caros e menos eficientes", diz Wanda. "Se historicamente a política de assistência social tem um grande ranço clientelista, isso vem se diluindo. Só assim foi possível minha indicaçao. A criaçao da Lei Orgânica da Assistência Social, em 1995, também é uma prova de que as coisas estao mudando".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;