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Crescer com segurança
Mauro Lourenço Dias
02/04/2011 | 07:49
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Se os números do governo estiverem corretos, o Brasil registrou em 2010 um crescimento da ordem de 8%, inferior apenas ao da China. Aparentemente, esse é um fato a ser comemorado. Mas, analisando tudo friamente, a comemoração deve ser feita com reservas. Afinal, para crescer a 8% ao ano, o País deveria ter se preparado mais porque, a continuar nesse ritmo, não é só o fantasma da inflação que pode ressurgir, mas a questão do ‘apagão' logístico.

Para crescer sem sobressaltos e abalos, o Brasil precisaria dispor de uma infraestrutura menos atrasada, com investimentos mais bem direcionados. E não com a perspectiva de projetos megalomaníacos, como a construção do trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo, que só servirá a passageiros, ou a promoção de eventos mundiais, que trazem muita visibilidade, mas que, se não tiverem um acompanhamento seguro, também podem levar à bancarrota. Mirem-se no exemplo da Grécia.

Tanto isso é verdade que o novo governo passou a trabalhar com a perspectiva de um crescimento em torno de 5% em 2011. Afinal, para crescer a 8% ou mais, seriam necessários investimentos da ordem de 25% do PIB (Produto Interno Bruto). E, pouco acima dessa faixa, o que está é a carga tributária, da ordem de 37% do PIB, uma das maiores do mundo.

Para piorar, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) só conseguiu cumprir satisfatoriamente, em quatro anos, 62% das obras previstas, excluindo-se saneamento e habitação, que registram atrasos ainda maiores. Já se sabe de antemão que as obras incluídas nos PACs 1 e 2 serão insuficientes para a melhoria da produtividade dos portos, pois estão previstos investimentos de apenas R$ 15 bilhões.

Além das obras que estão apenas no papel, há atrasos na construção ou recuperação de píeres, berços de atracação, terminais e pátios de estacionamento, além da necessidade de investir R$ 2,7 bilhões em dragagem e aprofundamento dos canais de navegação.

Diante disso, parece óbvio que há necessidade urgente de aumentar os investimentos e, sobretudo, executá-los de acordo com um cronograma rígido. Entre as prioridades, está uma solução para os gargalos que se apresentam nas vias de acesso ao Porto de Santos.

 

 Mauro Lourenço Dias é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no departamento de Engenharia Civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).




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