Turismo Titulo Suíça
100 anos no topo
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
03/05/2012 | 07:09
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Fevereiro de 1912. Começava a ser construída a estrada de ferro mais alta do mundo, fruto da ousadia do visionário Adolf Guyer-Zeller. Para concretizar a obra, os funcionários da Jungfrau Railway tiveram de enfrentar as tonturas, dores de cabeça e náuseas provocadas pela altitude, além de enormes paredões de gelo e da baixíssima temperatura que impera nos picos 365 dias por ano. Pelo menos 30 trabalhadores morreram na obra. Mas isso tudo ficou para trás. Passado um século, a famosa estação de Jungfraujoch está em festa, embalada por uma série de novidades e atrações em comemoração ao aniversário de 100 anos da ferrovia.

As homenagens tiveram início logo no primeiro dia do ano, quando o artista Gerry Hofstetter, ainda na noite de Réveillon, iluminou a montanha Jungfrau com uma projeção da bandeira suíça. E prosseguem até o fim de 2012. Em março, os Correios do país lançaram um selo comemorativo do centenário. A moeda de 20 francos suíços também ganhou cunhagem especial e um livro com fotos e fatos históricos foi publicado. Até a tradicional fabricante de relógios Tissot resolveu celebrar a data com a criação de oito modelos exclusivos e limitados.

A atração mais aguardada do ano, no entanto, é o Alpine Sensation, tour em trem subterrâneo que passa por 250 metros de túneis no coração da montanha. O novo passeio, inaugurado há cerca de um mês, parte do Palácio de Gelo, passa por um memorial que conta curiosidades e lembra a construção da estrada de ferro por meio de recursos audiovisuais e termina no ponto de observação Sphinx Hall, onde os visitantes são recebidos por uma projeção em 360 graus que os transporta para os Alpes do início do século 20, quando a região parecia inalcançável à maioria dos mortais.

Murais mostram figuras com trajes típicos, imagens e ilustrações sobre o estilo edelweiss de vida alpino. O espaço dedicado a Adolf Guyer-Zeller destaca não apenas sua visão vanguardista como também todo o desenvolvimento tecnológico que sua obra proporcionou à região. Fotos históricas relembram os trabalhadores anônimos que participaram da construção da estrada de ferro e um memorial presta homenagem aos 30 homens que perderam a vida durante a empreitada.

O Palácio de Gelo, por sua vez, tem 20 metros de profundidade. Como o próprio nome indica, tudo lá é gelo: o chão, as paredes, o teto e, para decorar, imagens esculpidas em grandes blocos de água solidificada. Não é preciso muito tempo ali para sentir-se uma delas. Até as baterias das máquinas fotográficas e filmadoras costumam congelar. Por isso, faça a visita durar apenas o tempo necessário para se locomover com segurança pelo piso escorregadio - e não desdenhe dos corrimãos.

A construção do Alpine Sensation levou 17 meses e consumiu total de 18 milhões de francos (cerca de R$ 38 milhões) junto com outras melhorias na infraestrutura da montanha. E tudo funciona de forma tão perfeitamente impecável quanto os relógios suíços. Vale cada um dos quase 210 francos (R$ 437) pagos pelo passeio - lembrando que quem visita o Corcovado, no Rio de Janeiro, tem desconto de 50% para subir o Jungfrau e vice-versa. Só não esqueça de levar água: ela ajudará a evitar as tonturas e dores de cabeça típicas dos locais de grande altitude. E você nem terá de colocá-la no freezer para mantê-la geladinha.

Além da inauguração do Alpine Sensation, que será permanente, o calendário de eventos dá a largada neste mês para a Festa Internacional do Bombeiro, que destacará todas as ações de heroísmo que salvaram vidas em meio à neve do Jungfraujoch. Em setembro a maratona de montanha de Jungfrau, considerada a mais bonita do gênero no mundo, chega à 20ª edição.

E as celebrações não se restringem apenas ao solo suíço. Mostras sobre a mais alta ferrovia do mundo também poderão ser conferidas em Berlim, Paris, na Exposição Mundial de Yeosu, na Coréia do Sul, e na Casa da Suíça durante os Jogos Olímpicos de Londres. Confira os destaques da programação e outras informações nos sites www.jungfrau.ch, www.interlaken.ch e www.jungfraubahn.ch.

O charme de Interlaken

A viagem ao topo da Europa deve começar por Interlaken, cidade que mantém o autêntico charme suíço, entre o azul-turquesa dos lagos Brienz e Thun. É de lá que partem as excursões de turistas rumo aos imponentes picos Eigger, Mönch e Jungfrau, de 3.970, 4.099 e 4.158 metros de altura, respectivamente.

O trem da centenária Jungfrau Railway sobe devagarzinho, quase parando, mas ninguém tem pressa de chegar. Pelo contrário: a vontade é de ficar parado, contemplando a beleza das cachoeiras que despencam de gigantescos paredões alternada com o bucólico panorama de casinhas tipicamente suíças erguidas ao pé da montanha. Algumas quedas d'água chegam a ter 400 metros de altura.

Não à toa, a região, declarada Patrimônio Mundial pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), oferece farto menu de atividades de lazer nas quatro estações do ano. As opções vão desde passeios de bicicleta e caminhadas por trilhas até aventuras como voo de paraglider, rafting, canyoning e hydrospeeding - modalidade na qual os atletas descem corredeiras em uma prancha.

Para completar, diversos eventos artísticos prometem esquentar ainda mais o verão em Interlaken. Concertos de rock - dos mais clássicos aos mais alternativos - serão realizados a céu aberto, e bandas de jazz farão shows gratuitos todas as quintas-feiras, entre os meses de julho e setembro.

Se você não é tão apreciador assim de música, destine o resto da tarde para conhecer Interlaken. Carruagens puxadas por cavalos fazem o city tour pelos principais pontos do município, considerado um dos mais fiéis à imagem que fazemos da Suíça, com casinhas de telhado anguloso e canteiros floridos nas janelas. Tudo impecável, acolhedor e organizado, como um autêntico vilarejo suíço.

Mas não se deixe levar pelas aparências. Apesar do clima de interior, Interlaken é farta em danceterias e pubs badalados, lojas de grife - todas as principais marcas de relógios possuem filial lá, de Swatch a Rolex - e restaurantes sofisticados. Tem até um cassino, o Kursaal, construído em 1859, embora com fachada recatada e florida, bem diferente dos letreiros luminosos a que estamos acostumados.

Opções de esportes de aventura também não faltam nas agências locais. Mas se você prefere ganhar a perder calorias, opte por visitar o número 56 da Rua Höheweg.É lá que funciona a doceria Schuh, a mais antiga de Interlaken. Todos os dias, das 17h às 18h, o estabelecimento realiza o Chocolate Show, quando um chocolatier ensina aos visitantes os segredos do cacau (o boliviano é o melhor), as técnicas para preparar o doce, sua história e, claro, abre as portas de seus refrigeradores para o momento mais esperado: a degustação.




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