Por ser mais experiente que seus dois colegas – o paraguaio tem dois dias de mandato e o equatoriano, seis meses –, Lula se fez de conselheiro. “Nem tudo é tão maravilhoso quanto pensávamos que fosse. Quando nós governamos, o único dia que não tem problema é o dia da posse. Nossos problemas começam no dia seguinte. E os problemas econômicos são muito mais graves do que denunciávamos na campanha”, afirmou o presidente, em tom professoral.

Lula, bem-humorado, fez várias brincadeiras e arrancou risos da platéia, formada por políticos brasileiros e paraguaios, técnicos dos dois países e pela inesperada presença do general Lino Oviedo, condenado à prisão no Paraguai. Oviedo ficou do lado brasileiro, pois corria o risco de ser preso se passasse a fronteira. Ele disse ter sido convidado pela direção brasileira da Itaipu e causou constrangimento, pois os jornalistas paraguaios amontoaram-se próximos a ele assim que a cerimônia acabou.

As queixas de Lula sobre a dificuldade de governar referem-se principalmente aos problemas internos que vem enfrentando para fazer as reformas, por causa dos protestos dos servidores públicos. Em sete meses de mandato, ele conseguiu aprovar a reforma da Previdência na Câmara, em primeiro turno, mas teve muitos problemas. O PT vai perder três deputados (João Batista de Araújo, o Babá; Luciana Genro e João Fontes) e uma senadora (Heloísa Helena), que serão expulsos no mês que vem, por fazerem violenta oposição ao governo. Sem contar que oito deputados petistas teimam em não votar as reformas, o que causará a eles algum tipo de punição – possivelmente, a suspensão por um ano e a perda da legenda para se candidatar às eleições municipais de 2004.

Além do mais, Lula tem enfrentado protestos de servidores públicos por onde vai. Na última quinta-feira, em Curitiba, funcionários públicos queimaram um cartaz com sua fotografia, enquanto gritavam palavras contrárias à reforma da Previdência. Entidades resistentes à proposta prometem ocupar de novo a Esplanada dos Ministérios nesta semana, quando for votado o segundo turno da reforma da Previdência. E a greve dos servidores, mesmo esvaziada, tem causado problemas no setor de arrecadação da Previdência e da Receita Federal, paralisando portos importantes como o de Santos e o de Paranaguá.

Mercosul - Lula disse neste sábado que a Usina de Itaipu Binacional é um exemplo de cooperação entre duas nações e deve servir de modelo para a integração dos países do Mercosul.

Ele revelou que voltará a se encontrar em breve com o presidente paraguaio para a inauguração da segunda ponte de ligação entre os dois países. Esta é uma antiga reivindicação dos empresários que utilizam a ponte para escoar sua produção.

Sobre a consolidação do Mercosul, Lula destacou que os chefes de Estado da América Latina devem trabalhar para que a integração deixe de ser apenas uma discurso, para se tornar realidade. "Eu não acredito que há uma saída individual para qualquer país da América do Sul. Ou nós pensamos em conjunto ou, possivelmente, a América Latina continuará mais um século como uma região de pobreza onde milhões de pessoas não têm sequer o que comer", avaliou.

Durante a solenidade, os governos do Brasil e do Paraguai assinaram um convênio para atender 600 famílias carentes pelo programa Bolsa Escola, sendo trezentas do lado brasileiro e trezentas em Ciudad del Este, no lado paraguaio. O dinheiro para as bolsas será repassado pela Itaipu Binacional. Cada família beneficiada receberá até R$ 75,00 por mês, desde que mantenha os filhos nas escolas.