Cultura & Lazer Titulo
A voz e o tempo
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
12/04/2011 | 07:29
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Paulo César Pinheiro é um capítulo especial da cultura popular brasileira. Profícuo compositor, em verso e música deixou legado que eternizou intérpretes nacionais (Clara Nunes entre eles). À veia poética do autor soma-se um mundo próprio brasileiro, formado de gêneros, ritmos e personagens tradicionalíssimos, uma gama de olhares que é reverenciada pela voz de Soraya Ravenle em seu primeiro projeto solo, 'Arco do Tempo' (Biscoito Fino, preço médio R$ 30).

Ao mesmo tempo que é homenageado, Pinheiro reverencia Soraya com seu baú de inéditas, aberto à cantora para a composição da obra, cuja maior parte do repertório é de canções desconhecidas do autor. Artista há 25 anos, ela se lança em projeto solo pela primeira vez. Até então, seus trabalhos na área se resumiam a peças musicais.

"A Soraya cantora ia andando a passos de tartaruga", conta a artista, que profissionalizou-se dançarina e em seguida rumou para o teatro. "Sempre, no fundo, tive desejo de fazer um disco, mas ele era atropelado pelos outros trabalhos. Tem cantoras que aos 20 anos já estão maduras, eu fui amadurecendo, me definindo junto à caminhada com o teatro musical", completa Soraya.

Instigada por amigos, resolveu esmiuçar o universo de Pinheiro, pois sabia que lá encontraria novos e bons materiais. "Ele, muito afetuoso, pediu que eu fosse à sua casa. Ia mostrando e eu gravando. Saí de lá com 124 músicas e o projeto ficou guardado."

Com a aprovação do disco, o contato foi retomado, e veio um presente especial do compositor para Soraya. "Eu estava dirigindo quando ele me ligou e falou que havia feito uma música com o nome do disco e queria cantar para mim. Respondi: ‘Deixa eu estacionar o carro para não bater de emoção'. E fiquei ouvindo, logo me pareceu um mantra, falando do tempo, da vida e da arte."

'Arco do Tempo' saiu uma belíssima homenagem ao ofício artístico. Caiu como uma luva para o tempo de Soraya, que foi maturando as experiências para chegar ao disco. No álbum, a canção entra em duas versões, uma delas em parceria com Júlia Bernat, filha da cantora.

MAIS ACHADOS
"O Paulo César surpreende. Você pensa que ele é assim ou assado e ele te apresenta algo novo. Esse disco mesmo, tem desde parceria dele com Lenine até com Baden Powell."

No repertório, entram samba de roda, ciranda, tango e frevo, entre tantos outros. Entre os clássicos, tem 'Súplica'. "Ele tem uma brasilidade indiscutível, se apodera de ritmos brasileiros de forma colorida, com a sua capacidade poética e seu jeito de falar de e para muitos de forma que não é nem um pouco mediana."

O achado maior é uma Soraya que cruzou com o arco do tempo de Paulo César Pinheiro. E fez da poesia dele a voz dos sentimentos seus. "Não há uma intérprete específica neste trabalho, o que eu acho que tem é uma Soraya filha de todas as coisas que eu aprendi e ouvi durante toda a vida. É um pedaço de mim, do meu momento."




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