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Duhalde mostra dúvidas sobre paridade dólar-peso
Do Diário do Grande ABC
16/07/1999 | 17:47
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O candidato do governo à presidência da Argentina, Eduardo Duhalde, tornou-se o primeiro político argentino a mostrar uma posiçao menos rígida em defesa da paridade um a um entre o peso e o dólar, até agora, um dogma na sociedade da Argentina. Duhalde nao negou convincentemente o fim da paridade, o que implicaria na desvalorizaçao da moeda nacional, fato que tem sido negado constantemente por políticos e economistas tanto da oposiçao como do governo.

Em Buenos Aires, Duhalde respondeu à pergunta sobre a possibilidade de desvalorizar o peso com uma irônica negativa: "Nao". O candidato peronista, governador da poderosa província de Buenos Aires, fez uma pausa e em seguida explicou o teor verdadeiro de sua resposta, contando que encontrou-se com FHC em Brasília, pouco antes da desvalorizaçao do real: "Perguntei sobre o mesmo tema a ele, ao vice-presidente e ao ministro da Fazenda, e me disseram o mesmo que digo a vocês: Nao". Rindo, Duhalde encerrou o comentário.

Analistas consideram que o único homem que poderia remover o país da paridade seria o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo. Atualmente, ele é candidato à presidência do país pelo partido Açao pela República. No entanto, Cavallo admitiu que se perder, poderá chegar a algum acordo com Duhalde para o segundo turno. Os analistas consideram que Cavallo poderia ser chefe de gabinete do governo Duhalde, o que inspiraria confiança aos mercados internacionais de que o país faria uma saída ordenada da paridade.

Esta é a primeira vez desde 1991 que um candidato presidencial nao nega a possibilidade de desvalorizar o peso. Na semana passada, Duhalde causou a queda da bolsa ao afirmar que iria a Roma pedir apoio ao Papa Joao Paulo II para conseguir um adiamento da dívida externa por um ano. Segundo ele, isso permitiria que a economia local se recuperasse da recessao.

Duhalde disse que os países ricos devem ajudar os que possuem dificuldades para pagar a dívida "antes que seja tarde demais". Duhalde confirmou sua ida à Roma nesta semana. Extra-oficialmente fala-se que teria um encontro com o Papa na quarta-feira.

Duhalde também referiu-se ao futuro do Mercosul, afirmando que o bloco comercial do Cone Sul "é para nossos países o elemento que pode nos possibilitar que nos defendamos melhor dos demais mercados. Separados, é mais fácil que nos desrespeitem, especialmente sobre os subsídios da agricultura. Mas se constituirmos um mercado potente, nossa voz será ouvida, e assim teremos alternativas de negociar com os mercados que mais nos convenham".

O candidato peronista, que está em empate técnico com o candidato da oposiçao para as eleiçoes presidenciais de outubro deste ano, declarou que os países do Mercosul "estao com dificuldades econômicas. Por isso surgem choques, complicados pela falta de mecanismos de resoluçao de conflitos".

Duhalde sustentou que a idéia de uma moeda única poderá ser implementada ainda em seu governo. "As vezes pensamos que certos temas estao muito distantes, mas a rapidez das mudanças sao impressionantes, e o que pensamos que vai ocorrer daqui a 10 anos, acontece daqui a três", afirmou. Ele disse que a integraçao foi desacelerada nos ultimamente "por causa dos problemas que ocorreram no Brasil, como a desvalorizaçao, que também é um problema para nós. Quando nossas economias se estabilizarem, buscaremos a simetria, e criaremos a moeda comum".

O futuro da conversibilidade será resolvido quando for criada uma moeda regional, afirmou Duhalde, que descartou a dolarizaçao da economia, ao declarar que "para ter a moeda comum, teremos que fazer uma adequaçao e nao poderemos estar relacionados com outras moedas, a nao ser com a de nossos sócios". Ao ser perguntado se para criar a moeda única seria necessário colocar o peso na mesma altura do real, Duhalde riu e disse: "Isso veremos em seu momento".

O candidato peronista afirmou que viajará à Brasília no dia 1º de setembro, para encontrar-se com FHC e seus ministros. A viagem será de um dia e meio, e na volta passará por Sao Paulo.




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