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FHC encontra-se com presidente eleito do Uruguai
Do Diário do Grande ABC
07/12/1999 | 16:16
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O presidente Fernando Henrique Cardoso irá encontrar-se esta quarta-feira com o presidente eleito do Uruguai, Jorge Batlle, no único compromisso bilateral da viagem para participar da cúpula de chefes de Estado do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul), cuja sede é em Montevidéu.

A esperança de Battle com o encontro, segundo assessores do presidente eleito, é obter de Fernando Henrique informaçoes concretas de que o real nao irá se desvalorizar mais em relaçao ao dólar.

Político de formaçao ortodoxa do ponto de vista financeiro, Batlle está com os movimentos limitados para fazer reformas estruturais no país e depende da evoluçao econômica do Brasil e da Argentina para melhorar os índices da economia uruguaia. Este ano, o déficit fiscal do país nao ficará em menos de US$ 500 milhoes, segundo as previsoes governamentais, podendo atingir US$ 800 milhoes, ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeçoes extra-oficiais.

O comprometimento da receita uruguaia com o pagamento de servidores e de inativos, segundo informaçoes de analistas econômicos divulgadas nos últimos dias, deverá ficar acima de 65% e o déficit na balança comercial poderá atingir US$ 1 bilhao. No último trimestre, a produçao industrial uruguaia caiu 15,9% e calcula-se que existam 160 mil desempregados, número expressivo num país com menos de 4 milhoes de habitantes.

A situaçao do país deteriorou-se com a desvalorizaçao do real, com a arrecadaçao tributária caindo em razao do esfriamento da economia.

Durante as reunioes técnicas preparatórias do encontro de cúpula do Mercosul, assessores do governo uruguaio comemoravam a queda da cotaçao do dólar no Brasil para menos de 1,87 real a unidade. Brasil e Argentina respondem por mais de 50% das exportaçoes uruguaias e o país tem dificuldades para procurar mercados alternativos por causa do mal momento no mercado internacional das commodities do Uruguai, como a la, o arroz e a carne bovina.

Ao contrário de Brasil e Argentina, o Uruguai nao adotou políticas estruturais de restriçoes de gastos. As privatizaçoes foram brecadas desde a derrota do governo no plebiscito que proibiu a venda da telefônica local (Antel) e o funcionalismo público manteve a estabilidade. Assessores de Batlle pregam a adoçao de um rígido programa de ajuste fiscal, que seria adotado depois das eleiçoes municipais de maio de 2000, envolvendo a diminuiçao de encargos trabalhistas e a taxaçao de inativos, entre outros pontos.

Nao é descartada por algumas correntes a desvalorizaçao do peso, mas as dificuldades políticas para qualquer mudança drástica a partir de 1º de março, quando Batlle assume a presidência, nao sao pequenas. "Nao se poderia acabar com a estabilidade do servidor público sem um plebiscito, e, dificilmente, Batlle conseguirá apoio popular para a idéia", opinou um assessor do futuro presidente. A desvalorizaçao do peso também é considerada de difícil operacionalizaçao, uma vez que a imensa maioria das empresas do país possui dívidas em dólar.

O aumento de tarifas para combater o déficit fiscal é uma soluçao descartada, uma vez que a diminuiçao do custo de produçao no país foi uma das promessas de campanha de Batlle. Também nao se pensa num aumento de impostos, pois um dos motivos que levou o opositor dele, o esquerdista Tabaré Vasquez, a perder as eleiçoes do dia 28, foi justamente a proposta de instituir-se o Imposto de Renda de Pessoa Física.

Extinto desde a década de 60 no Uruguai, o Imposto de Renda proposto pela esquerda taxaria apenas os assalariados que recebem mais de US$ 1 mil mensais, mas a tese de Vasquez foi mal compreendida pelo eleitorado, abrindo um flanco para Batlle avançar na conquista de indecisos, afirmando que o tributo seria facilmente sonegável pelos contribuintes com maiores recursos.




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