Economia Titulo
Carros flex colaboram para alta do álcool
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
19/10/2009 | 07:15
Compartilhar notícia




Nos últimos dois meses, o consumidor sentiu pesar no bolso o custo do álcool, combustível que durante cerca de dois anos e meio permaneceu com preços bastante competitivos em relação a gasolina, com custo até 40% inferior que o derivado do petróleo e poluindo 90% menos.

Porém, do patamar médio de R$ 1,29 o litro, praticado no primeiro semestre, o álcool subiu R$ 0,10 em agosto, para R$ 1,39 e, neste mês, passou a cerca de R$ 1,44.

Segundo Sérgio Prado, representante da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto, o padrão do etanol era muito vantajoso sobre a gasolina, mas este era um padrão irreal. Desde o início de 2007 foi assim, o valor cobrado não remunerava a atividade, mas como havia super oferta de cana-de-açúcar, o preço era menor.

Além disso, com a eclosão da crise econômica em setembro do ano passado, a exportação de etanol começou a diminuir, assim como as vendas de veículos e muitos usineiros não conseguiam financiamento. Quem tinha o produto, colocava no mercado ao menor preço para desovar o estoque. Na época, o litro do álcool era vendido por cerca de R$ 1,19 nos postos. Nas usinas, saía abaixo de R$ 0,60. Hoje, sem contar os impostos - ICMS, PIS e Cofins - o produto é vendido a R$ 0,90 aos distribuidores.

Prado afirma que a questão é estrutural, pois com a demanda extremamente aquecida devido à quantidade de carros bicombustíveis (flex) em circulação, foi preciso fazer o reajuste. Atualmente, de acordo com o executivo, cerca de 50% dos veículos leves abastecem com etanol, índice que pode chegar a 80% no próximos anos.

Com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos, e a isenção para os automóveis com motor 1.0 flex fuel, muitos clientes aproveitaram para trocar de carro, deixando a gasolina como opção de abastecimento e outros tantos compraram seu primeiro automóvel. De abril a junho, as vendas de etanol cresceram 25% frente ao mesmo período de 2008.

Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontam alta de 5% no licenciamento de bicombustíveis de janeiro a junho, em relação ao mesmo período do ano passado, com 1,2 milhão de unidades, o que representa 92% de todos os automóveis emplacados no período.

CONTRAPONTO
Somado a isso, Prado cita que, desde junho, a quantidade de chuvas têm atrapalhado o canavial, fazendo com que as canas maduras perdessem açúcar e álcool. Por outro lado, porém, a safra deste ano foi antecipada para março e deve se estender até dezembro. Tradicionalmente ela se inicia em abril e segue até novembro. Ao mesmo tempo, o País tem vivido expansão de usinas. Desde 2004, foram inauguradas 415, sendo que, dessas, 23 iniciaram as atividades em 2008 e 20 neste ano.

Ou seja, em tese, a oferta de cana cresceu, o que não justificaria o aumento do álcool. Mesmo assim, o executivo aponta que a produção do Centro-Sul não deve passar dos 25 bilhões de litros, e a do Nordeste, dos 2,5 bilhões. Número semelhante ao obtido no ano passado. As exportações, que encerraram 2008 com 4,5 bilhões de litros vendidos, neste ano não devem passar de 2,8 bilhões.

Na opinião de Toninho Gonzalez, presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo) da região, em vez de vender o etanol, os usineiros preferiram optar pelo açúcar. "A exportação do álcool está defasada, mas a do açúcar não. O produto está muito valorizado no mercado mundial. Então, para eles á mais vantajoso", ressalta.

Para Gonzalez, o ideal é que haja um estoque regulador, principalmente para períodos de entressafra e quando a produto não está 100%, para que o preço seja mantido e ninguém pague tão caro. "Estamos recebendo o etanol a R$ 1,30, sem contar os nossos gastos com a manutenção dos postos. Para não repassar tudo ao consumidor, encolho minha margem de lucro. Assim, tenho de vender por no mínimo R$ 1,59 o litro do álcool, senão os que vendem combustível adulterado dominam o mercado e quebram quem compra o de marca", desabafa.

Etanol só é competitivo até R$ 1,60

Para que o abastecimento com álcool seja vantajoso em relação à gasolina, seu preço tem de equivaler a, no máximo, 70% do custo do derivado do petróleo, já que a gasolina consome 30% a menos. Em outras palavras, se para encher o tanque do carro com gasolina gasta-se hoje, em média R$ 100, não se pode pagar mais de R$ 70 com o abastecimento usando álcool.

O que não justifica, no entanto, o aumento do combustível da cana-de-açúcar. Mesmo assim Sérgio Prado, representante da Única em Ribeirão Preto, justifica: "Antes, com R$ 40 dava para encher o tanque. Hoje, por mais que eu gaste R$ 65, ainda a melhor opção é o etanol. Ele é competitivo até R$ 1,60, já que a gasolina está custando de R$ 2,40 a R$ 2,50."

Questionado sobre o preço do etanol estar quase no limite da vantagem, e a entressafra estar se aproximando, o que poderia justificar novo aumento, Prado acredita que o custo do álcool não tem muito por onde disparar. "De qualquer maneira, a margem do varejo quem dita é o carro flex."

Ele ressalta que a maior parte dos veículos é flex fuel, e o motorista pode optar pelo combustível. Um dilema para quem quer gastar menos e, ao mesmo tempo, contribuir com o meio ambiente.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;