Economia Titulo
Walter Braido: a arte de conciliar negócio e política
Walter Wiegratz
Da Redaçao
26/06/1999 | 20:16
Compartilhar notícia


O que distingue o empresário de tradiçao do político de corpo e alma? Se o leitor conseguir a resposta para esta pergunta certamente definirá, ao término destas linhas, as duas vertentes da essência que marca a trajetória de vida de Walter Braido, o sul-caetanense que hoje constrói edifícios e que já governou sua cidade por três vezes. Na última quarta-feira, Braido recebeu o Diário para contar um pouco de suas experiências de vida. O que se descobriu foi um homem permeado por uma consciência de sua participaçao política na história de Sao Caetano, utilizando o aprendizado na gestao dos negócios privados para conduzir suas açoes na vida pública.

Sua família chegou ao país por volta do ano de 1879. Naquela época, o avô de Walter, o seu Giovanni Braido, desiludido com a morte da esposa, deixa a regiao de Venetto, na Itália, trazendo no colo o filho Pietro, de apenas seis meses de idade. O local escolhido para fixar as raízes eram as terras da atual Sao Caetano. No Brasil, Giovanni constitui uma nova família, com vários filhos, entre eles, Joao Nicolau, o pai de Walter.

Braido conta que aos dez anos de idade já trabalhava pesado na olaria do pai, que ficava na Vila Alpina, em Sao Paulo. Das travessuras de menino, ele diz recordar com vividez as inúmeras vezes em que foi repreendido pelo pai ao tentar dirigir um caminhao da família.

A fase de discernimento das reais responsabilidades da vida vem logo, aos 16 anos, quando ele deixa de estudar, para substituir o pai doente no comando da fábrica de resíduos de gordura e ossos de animais para agricultura. Era o segundo dos quatro filhos, tendo Wanda como a irma mais velha, além de Nelson e Irene. Em 1952, nasce a incorporadora Braido S.A., enquanto o negócio de resíduos animais fica com um primo.

Falando de política... - Por mais que se tente arrancar de Braido informaçoes e relatos de sua trajetória empresarial, ele sempre mostra determinaçao em conduzir a conversa para a atuaçao política, sua nítida predileçao. "Um dia resolveram me levar para a política e eu acabei pegando gosto pela coisa."

Nos anos 50, Braido presidiu o Sao Caetano Esporte Clube e, por duas vezes, o Departamento de Esportes de Sao Caetano. Até que se elegeu vereador em 1957, com 36 anos. A favor da empreitada na política ficou apenas o pai. "Até minha esposa me criticou, mas eu fui em frente."

Três anos depois, disputava e "apanhava" na briga pela Prefeitura da cidade. "Em 1965, voltamos, ganhamos e aí nao perdemos mais."

Ao todo, foram três mandatos (1965/1969, 1972/1976 e 1979/1982). "Em 1982, botamos a chave na porta e paramos", diz Braido. Antes disso, em 1968, atuou como secretário do governo Abreu Sodré e, em 1970, elegeu-se deputado estadual.

Braido abandonou o cargo de prefeito, mas nao se distanciou da política, elegendo Luís Tortorello para o cargo em 1988. Quatro anos depois, era convidado para voltar ao posto. "Insistiram que eu fosse candidato de novo, mas recusei. Senao, o povo ia começar a falar que eu estava querendo a cidade só para mim. Além disso, a gente tem de saber o melhor momento para sair."

Saudoso, mas realista, Braido fala que no seu primeiro mandato, em 1965, a cidade de Sao Caetano era totalmente carente de serviços de infra-estrutura, com 10% de pavimentaçao e rede de esgoto. "Fiz um programa de necessidades e elegi o saneamento como prioridade. Em um ano, resolvemos o problema de água e esgoto da cidade."

Na área da educaçao, criou um programa de pré-escola, muito criticado na época. "Acharam que eu era biruta, mas eu fiz assim mesmo", afirma Braido, acrescentando que, ao fim do primeiro governo, Sao Caetano tinha 18 escolas e 28 pré-escolas.

Seu estilo de governar foi pouco comum. Ele conta que, apesar de ser um incorporador de imóveis, nao quis deixar que a cidade apresentasse um crescimento desenfreado. "Foi um drama implementar uma lei de zoneamento que feria muitos interesses, inclusive os meus", confessa. No segundo mandado, Braido atacou de frente as questoes voltadas para o ensino superior, criando o Imes (Instituto Municipal de Ensino Superior), a Faculdade de Medicina do ABC e a Mauá, de Engenharia.

Político ou empresário? - Perguntado sobre qual dos lados ele mais enfatizava em sua trajetória de vida - se o político ou o do empresário empreendedor -, Braido é contundente: "Por incrível que pareça, consegui equilibrar essas duas fases da minha vida". Ele nao esquece, entretanto, a participaçao do irmao Nelson, que cuidava dos negócios da família em seus longos anos de incursao na política.

Orgulhoso, Braido conta que nunca fez um programa de governo ou prometeu algo durante as várias campanhas de que participou - o que é algo difícil de acreditar, sobretudo para um político. "No meu segundo mandato, tive 93% de aprovaçao, um fato inédito na regiao", ressalta.

Seu modo de liderar o município também era peculiar. "Eu nao gosto de reunioes. Só fiz uma única reuniao com meus vereadores no segundo mandato, além de despachar diariamente."

Braido nao tem dúvida de que o poder público tem de ser administrado com o mesmo profissionalismo de quem comanda uma empresa. "Estou certo de que herdei o meu jeito de administrar a coisa pública da minha prática no comando das empresas. Se você nao se impoe logo de saída, aí nao consegue mais. Se dá um benefício hoje, outro amanha e, assim, sucessivamente, eles tomam conta de você. Isso porque aquilo que você deu nao pode mais tirar, e quem nao ganhou passa a exigir também", explica.

Emoçao - Braido deixa de lado a dureza das convicçoes políticas e lembra a amizade inspiradora de sua mae, dona Elvira, de quem ele afirma ter herdado um pouco da teimosia. De olhos marejados, recorda: "Ela sempre brigou por mim. Quando eu era prefeito e ela encontrava alguém me criticando na feira, tomava as dores e partia para minha defesa. `Nao critiquem meu filho, nao', dizia para os feirantes. Na opiniao dela, eu estava sempre certo", descreve aos risos.

Alfinetando os altos escaloes do poder, afirma que o país nao tem líderes de peso e carisma na atualidade. Ele sugere que qualquer político que se preze deve buscar inspiraçao no passado das grandes figuras que passaram pela política brasileira.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;