O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o discurso que fez nesta quarta-feira no encerramento do Seminário Empresarial Brasil-Venezuela, realizado em Manaus (AM), para criticar a burocracia e reclamar de pressões de setores sobre o Congresso que acabam atrasando votações. "Muitas vezes, nos nossos países, temos uma atividade econômica que quer determinar a política do Estado", disse. "Nós precisamos, muitas vezes, relativizar uma pressão de um setor e pensar no conjunto do setor produtivo de cada país, para ver o que pode produzir mais comércio, mais exportação, porque muitas vezes a pressão de um setor, por menor que seja, faz com que o nosso Congresso, os nossos governos, demorem meses para tomar uma decisão de uma coisa que poderia acontecer numa semana ou num mês."

Tendo a seu lado o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Lula começou seu discurso elogiando o colega venezuelano e lembrando que foi muito criticado quando elogiou Chávez, há dois anos, e disse que era amigo dele. Em seguida, conclamou os empresários brasileiros a investirem na Venezuela, assim como os venezuelanos a investirem aqui. "Não tenham medo de fazer parcerias com empresas venezuelanas", estimulou. "Não tenham medo de investir na Venezuela e, tampouco, os venezuelanos, aqui."

O presidente fez questão de elogiar o sucesso da consolidação democrática na Venezuela a partir do referendo realizado em agosto e disse que as condições estão dadas para o crescimento. "A bola não está apenas com o presidente Chávez ou o presidente Lula. A bola está com todos nós, porque, como no futebol, a atividade econômica é uma arte coletiva, e temos de exercitá-la juntos."

Ainda se referindo ao referendo, Lula disse que ninguém pode nem deve colocar em dúvida a lisura do processo ocorrido na Venezuela. "Sua vitória (de Chávez) é um marco que não deixa dúvida em nenhum país do mundo de que há democracia na Venezuela", afirmou para Chávez. Ele criticou a burocracia depois de ouvir um apelo do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para que os presidentes reduzam a burocracia entre os dois países. Segundo Furlan, essa redução depende de vontade política. Ele ressaltou a necessidade de a vontade política chegar à ponta, se os países estão buscando a integração.

Lula disse que Furlan tocou num ponto crucial das relações entre os países da América do Sul e da América Latina. Disse que não estava ali como um presidente fazendo uma crítica evasiva à tecnocracia e à burocracia, até porque esses funcionários trabalham com base em regras, normas e legislação.