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Marruá, o retorno do Engesa
André Gomide
Agência Hp Press
15/12/2004 | 15:44
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Muitas marcas e empresas brasileiras já se aventuraram na promissora idéia de construir um veículo utilitário espartano e robusto para atender a necessária renovação da frota de jipes militares das forças armadas. Muitas ficaram apenas no protótipo e outras conseguiram, por força de muito loby, vender uma meia dúzia de unidades para fins de combate. O Marruá, a nova geração do jipe Engesa, também nasceu com esse propósito. Mas pelo visto, irá fazer mais sucesso junto ao público consumidor comum.

Avaliado pelo Jornal Veículos no quintal do Grande ABC, tendo como palco às famosas trilhas do Riacho Grande, o Agrale Marruá mostrou logo de cara que está superdimensionado para ser usado como veículo de lazer. O motor MWM diesel turbo, proporciona uma agilidade de respeito, mas o câmbio está mais para um veículo de carga do que parta caro de passeio. Pelo menos para essa safra especial de 150 unidades que começa a ser vendida no início de janeiro ao preço de R$ 75 mil, a intenção é manter a mesma construção militar. Se houver demanda, nasce à versão civil, uma picape com chassi mais longo, enfim, a linha pode crescer muito.             

Exatamente como o original Engesa, o Marruá não tem sistema de tração reduzida. O sistema pode ser acoplado em 4x2 ou 4x4 a uma velocidade de até 80 km/h (eis aqui uma das evoluções) e o máximo que oferece nesse sentido é uma primeira mais curta que o normal, permitindo explorar melhor a força do motor MWM de 132 cv e 34.6 mkgf conseguidos graças à atuação do turbo compressor. Os dados técnicos mais interessantes desde produto vêm exatamente das suas propriedades off-road como ângulo de ataque e saída e curso de suspensão (veja quadro).

Embora a trilha escolhida não trouxesse alto nível de exigência, o Marruá fez lembrar as muitas trilhas realizadas a bardo do Engesa. Mais alto, ele apresenta maior roling de carroceria e chega a incomodar quando se aperta um pouco mais o acelerador. O sistema de direção parece meio retardado, pois só responde depois de um certo tempo após do acionamento do volante. Mas esse também é um efeito causado pelo altura elevado do jipe que tem 1,95 metros de altura e 27 centímetros de vão livre. Sem recursos adicionais, é capaz de transpor alagados de até 60 centímetros. Com snorkel, acessório que eleva o "nariz" do motor, não se sabe o quanto ele capaz de suportar. "Mesmo que o nível da água ultrapasse a conformação técnica, o diferencial fica protegido, pois os respiros possuem uma válvula que impede a entrada da água", explica João Batista Lima, chefe a engenharia experimental da Agrale.

Outra vantagem técnica do Marruá é que 100% dos componentes são de procedência nacional. Ocorre que uma das exigências das formas armadas é que o veículo seja robusto, simples e de manutenção rápida. Por isso, a Agrale reuniu em seu projeto fornecedores que possuem linha de produção local como a MWM (motores), Eaton (câmbio), Dana (eixos), ZF (caixa de direção) e Luk (embreagem), entre outros. Segundo Flávio Costa, diretor de marketing da empresa, foram investidos nesse projeto cerca de US$ 11 milhões, aplicados  na atualização do projeto (está mais largo que o Engesa original), na construção da nova linha de montagem e no desenvolvimento e na aquisição de ferramentas.

A intenção de direcionar o produto para o consumidor civil se deveu à crescente demanda por veículos utilitários com esse perfil. "Percebemos a carência, no Brasil e no exterior, de produtos dessa natureza e decidimos investir neste segmento de mercado", esclarece dizendo que a Agrale tem como política atacar nichos específicos de mercado. Com a desativação do dinossauro Toyota Bandeirantes, clientes como as empresas que atuam na manutenção de redes elétricas e construção de hidrelétricas ficaram desprovidas de veículos específicos para o trabalho pesado como o Marruá, cuja simplicidade chega ao extremo das portas serem de lona.

Da mesma forma é o painel, os bancos e tudo o mais no Marruá cujo padrão de conforto está estacionado no nível 03, em uma escala de 0 a 10. Isso se estivemos falando de quem viaja na frente. Atrás ele perde mais um grau. Mas nada que desabone o produto cuja concepção original é para atender rapidamente às necessidades por terra em situação de guerra. Caso venha mesmo a ser oferecido para o público consumidor final (esse caminho é sempre o percorrido) o Marruá deverá ganhar melhor padrão de conforto, o que significa mais acessórios como ar condicionado, capota rígida e até um sistema de tração com reduzida, equipamento já em testes na empresa.

Essa safra especial que começa a ser vendida em janeiro irá perder apenas alguns excessos exigidos pelos militares como o sistema de voltagem, que cai de 24V para 12V (é o padrão de todos os veículos), e os faróis auxiliares externos. A cor também será alterada. De resto, continua com as mesmas características técnicas como o enorme tanque de combustível de 102 litros que garante uma autonomia de mais de 1.000 quilômetros. Nem mesmo as alavancas de engate trazem as informações das posições da marchas, que estão mostradas no painel. 



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