Há males que vêm para bem. Embora pareça absurdo, as péssimas condiçoes das estradas brasileiras colocaram o país na ponta da engenharia automotiva mundial. Como as relaçoes estao cada vez mais globalizadas, em um futuro muito próximo a intervençao de engenheiros brasileiros no desenvolvimento de um automóvel em qualquer parte do mundo será quase tao necessária quanto o óleo que lubrifica os motores.

Outra característica que deve constar dos manuais dos engenheiros nos próximos anos é a personalizaçao. Ainda que pareçam aparentemente antagônicas, ambas as tendências devem se completar. "Nossos profissionais serao cada vez mais requisitados para apontar as necessidades dos veículos destinados ao Brasil", explica Fábio Braga, gerente geral da SAE Brasil, associaçao sem fins lucrativos composta por estudantes e profissionais ligados à indústria da mobilidade. "Com isso, os modelos destinados ao mercado brasileiro trarao soluçoes específicas para as condiçoes adversas das vias públicas brasileiras."

A indústria automotiva brasileira deverá se aperfeiçoar, ao mesmo tempo em que se assemelha ao padrao europeu automotivo. "A tendência é que os modelos brasileiros apresentem cada vez mais funcionalidade e economia", acredita Braga. "Dessa forma, em uma escala gradativa, o padrao racional irá imperar por aqui." Essa é, sem dúvida, uma mudança que vem ocorrendo aos poucos. Afinal, se nos Estados Unidos as "banheiras" seduzem consumidores, atualmente o Brasil consome modelos de pequeno e médio portes que sejam compactos e econômicos.

Futuro - O fórum SAE Brasil 2000 - Congresso e Exposiçao Internacional de Tecnologia da Mobilidade irá debater, além desses assuntos, outras proposiçoes sobre o futuro do automóvel no país. O evento, fechado ao público, será realizado de 3 a 5 de outubro.

Os engenheiros discutirao temas ligados ao futuro do automóvel. "Sao pesquisas desenvolvidas, durante meses, nos principais montadores, sistemistas, autopeças e universidades, com o objetivo de solucionar os mais diversos problemas da indústria automotiva e aeroespacial", explica Braga. Os trabalhos abordam, entre outros temas, suspensao, meio ambiente e materiais, segurança, ruído e vibraçao, motores, telemática, emissoes, qualidade e combustíveis.

Uma outra tendência que será discutida na SAE Brasil 2000 diz respeito à "integraçao" entre automóveis em caso de batida. Montadoras querem tornar carros pequenos e grandes "compatíveis" em uma colisao para evitar que, nessas circunstâncias, os ocupantes de um veículo pequeno corram maior risco de morte. Segundo José Fernando Penteado, que ministrará uma palestra sobre o assunto, as montadoras já começaram a implementar o conceito de compatibilidade, com a adoçao de novas formas, materiais, design e disposiçao de componentes nos veículos. "Cada fábrica tem a sua estratégia na busca de soluçoes para o problema", informa. A cada novo projeto, sao incorporados os avanços desenvolvidos em testes físicos de laboratório, complementados com simulaçoes em computador e resultados observados no campo.

A área de veículos de passageiros também será tema de outros debates, como o fórum Integraçao entre Ergonomia, Conforto, Segurança e Entretenimento no Interior de Veículos, com representantes da Johnson Controls, Delphi Automotive, Visteon e Mercedes-Benz. O grupo vai apresentar os avanços da indústria para garantir mais conforto e segurança ao motorista e passageiros que passam horas dentro do carro nos grandes centros urbanos. n