Economia Titulo Desde 2014
Balança comercial da região tem saldo negativo após cinco anos

Grande ABC registrou no último ano perdas de pelo menos US$ 46,79 milhões

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
17/01/2020 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


O saldo da balança comercial do Grande ABC voltou a ficar negativo no fechamento de 2019, após cinco anos seguidos de resultados positivos. O deficit, que acontece quando há mais importações do que exportações, foi motivado pela crise da Argentina e pela saída de empresas da região, segundo especialistas. No total, a região teve saldo de menos US$ 46,79 milhões, ou seja, perda de aproximadamente R$ 196 milhões, pela cotação do dólar comercial de ontem.

O levantamento foi feito pelo Diário com base nos dados de comércio exterior dos municípios disponibilizados pelo Ministério da Economia. A cidade que mais registrou perdas foi Diadema, com deficit de US$ 271,26 milhões. Em compensação, São Bernardo, mesmo com a saída da Ford, teve superavit – quando há mais exportações do que importações – de US$ 387,2 milhões.

Porém, no total o saldo da região ficou no vermelho. Além de Diadema, Santo André (- US$ 103,46 milhões), Mauá (- US$ 193,47 milhões) e Rio Grande da Serra (- US$ 232 mil) também fecharam o ano no negativo.

Em 2018, a balança apresentou saldo positivo de US$ 500 milhões. Em 2017, o resultado foi ainda melhor, de US$ 1,2 bilhão. A última vez em que o resultado foi negativo se deu em 2014, quando o deficit foi de US$ 409,9 milhões.

De acordo com o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Diadema, Anuar Dequech Júnior, além da questão argentina (leia mais abaixo), o êxodo de firmas acabou pesando no resultado. “Temos visto um número grande de empresas e indústrias da região, que têm ido principalmente para o Interior, além de outras que não se recuperaram da crise e fecharam as portas. Aliás, muitas empresas foram para outra cidade para sobreviver um pouco mais, já que o incentivo ajuda a ter sobrevida”, afirmou ele, que também destacou que na região tem aumentado cada vez mais o número de vagas de trabalho no setor de serviços, enquanto a indústria continua em retração.

De acordo com o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, o deficit é preocupante por conta da queda nas exportações. No último ano, a região exportou um total de US$ 3,7 bilhões e importou US$ 3,8 bilhões. Em 2018, foram US$ 5,3 bilhões para fora do País e US$ 4,8 bilhões importados. Ou seja, em um ano, a perda de operações externas foi de US$ 1,5 bilhão, ou pela cotação do dólar comercial de ontem, cerca de R$ 6,2 milhões.

“Isso significa perda do mercado internacional”, afirmou. Ele também destacou que “a saída da Ford, por sua vez, reduz o potencial exportador. Há necessidade de se repor uma empresa desse tamanho”, completou.

Segundo Balistiero, quedas na balança comercial também podem acontecer em períodos de aceleração econômica. “Porque naturalmente se aumentam as importações. Em 2014, por exemplo, foi o ano anterior à recessão, então muito provavelmente naquele momento nós ainda conseguíamos ter um grande nível de exportações e importações. Depois na recessão, como o mercado interno estava ruim, aumentou muito as exportações”, disse.

Mesmo com este cenário, Dequech Júnior acredita na recuperação em 2020. “Estamos com taxa de juros baixa e ainda pode cair mais, então se vê aí uma perspectiva de consumo melhor. Acredito que possamos ter uma retomada, mesmo que ainda lenta.”

Exportações para a Argentina caem

Principal parceiro comercial da região, a Argentina perdeu ainda mais mercado no ano passado. No total, os hermanos tiveram queda de quase metade no volume exportado pelas sete cidades (- 46,09%), passando de US$ 1,5 bilhão para US$ 808,7 milhões.

A maior perda foi em São Bernardo, que passou de US$ 1,35 bilhão em 2018 para apenas US$ 589,8 milhões em 2019. No total, a região perdeu aproximadamente US$ 700 milhões.

De acordo com o coordenador do curso de administração Ricardo Balistiero, as primeiras ações do novo presidente Alberto Fernández, eleito no fim do ano passado, mostram a retomada da política de Cristina Kirchner, sua atual vice-presidente, que não deu certo para a Argentina no governo anterior. “Ainda é cedo para fazer uma avaliação, mas não vejo uma situação positiva. Acho que continuar dependendo da Argentina para algumas coisas será complicado. Vejo com dificuldades nos próximos anos”, disse.

Como já vinha sinalizando desde o fim do ano passado, a indústria do Grande ABC vê o cenário político do vizinho com cautela, e já demonstrava preocupação sobre a possibilidade de recuperação da crise em 2020.

Diretor do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech Júnior também não tem boa perspectiva. “Acompanhamos pelos noticiários que várias empresas estão saindo por não acreditar na forma de governo. Na minha empresa, nosso principal cliente é Argentina e já caiu 50% das compras. O medo é de que aconteça a volta do populismo, mas sem dinheiro. A indústria é o setor que mais emprega, mais paga e movimenta a economia. Mas ainda estamos sofrendo com crescimento baixo por não decolar internamente, somado a este problema da Argentina”, afirmou.

Em 2019, a inflação na Argentina chegou a 53,8%, a mais alta desde 1991. Além disso, o indicador está entre os mais altos do mundo e na América do Sul, só perde para hiperinflação da Venezuela. 




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