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Jovens vão ao Exterior para praticar esporte e estudar
Thaís Pacheco
Do Diário do Grande ABC
07/02/2010 | 07:20
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Em toda esquina ou quadra, nas praias e nas ruas é possível ver alguém, no Brasil, praticando esporte. Seja um futebol descontraído, uma partida de vôlei de praia ou até mesmo corrida num parque. Que o Brasil é o País do futebol todo mundo sabe, mas também é a Nação de esportistas que praticam atividades por prazer e que, muitas vezes, para buscar conectividade no esporte e, sobretudo, nos estudos, precisam ir atrás de chances em outros países.

É o caso do tenista de São Bernardo Hugo Moriya, que chegou aos Estados Unidos em 2008 para continuar jogando tênis e ao mesmo tempo cursar uma universidade.

"Comecei a treinar mais frequentemente a partir dos 16 anos, mas nunca pensei em me tornar profissional. Nessa época, alguns amigos foram estudar nos EUA com bolsa por meio do tênis. E como eu queria continuar jogando e estudar, surgiu essa oportunidade de conciliar tudo. Além disto, propicia uma boa bolsa", diz o tenista.

Moriya é representante de uma classe de atletas pouco divulgada do Brasil. São jovens que veem na oportunidade de representar o esporte universitário norte-americano uma chance de praticar o esporte, sem que isso atrapalhe os estudos.

Segundo o proprietário da 2SvSports, Ricardo Silveira, ano passado cerca de 60 jovens foram enviados para outro país, por intermédio da empresa. "A procura pelo serviço aumentou, em comparação com 2007; com a diminuição do dólar e o alto custo para se manter um estudante em uma faculdade particular no Brasil, mesmo que o estudante não consiga uma bolsa integral, sai um custo mais barato para a família", comenta o empresário, que espera mandar de 30 a 50 alunos neste ano.

A dúvida se parava de jogar tênis ou de estudar foi o que motivou também outro tenista a tentar vaga no esporte universitário norte-americano. Guilherme Cervezão, de São Caetano, passou seis meses estudando e treinando para os testes até que recebeu uma proposta da Tennesse Wesleyan College, para jogar e estudar com bolsa integral.

Após quatro anos longe do Brasil, o atleta concilia os estudos com as competições e responsabilidades esportivas. "Quando estamos na temporada de tênis, nós treinamos todos os dias duas horas de quadra. As competições normalmente são em dias de semana no período da tarde e muitas vezes temos que viajar para outros Estados para jogar contra as outras faculdades", relata ele.

Segundo Felipe Fonseca, fundador da Daqui para Fora, os esportes mais procurados são tênis, futebol, natação, golfe e vôlei. O empresário diz que, a cada ano, o brasileiro tem melhor receptividade em outro país. "Atletas brasileiros, principalmente os nadadores, jogadores de vôlei e tenistas, são vistos com muito bons olhos lá fora.

Um atleta que sai de casa aos 18 anos para encarar uma oportunidade desta demonstra muita maturidade e comprometimento, além de disposição para se empenhar no esporte e nos estudos para manter sua bolsa", exalta Fonseca. Só em 2009, a Daqui para Fora conseguiu bolsas para mais de 190 brasileiros.

O ex-jogador de vôlei da Seleção Brasileira Antonio Carlos Moreno teve dois dos seus seis filhos jogando o mesmo esporte do pai, em terras estrangeiras. Anna Laura Moreno que chegou aos Estados Unidos em 1999 para estudar e jogar na Oral Roberts Univeristy e atualmente é técnica de vôlei no mesmo país. E Carlos Henrique Moreno que atuou pela Brigham Young University e hoje joga, profissionalmente, num time de Portugal.

Para Antônio Carlos Moreno, as condições para atletas que as universidades norte-americanas oferecem são inigualáveis. "Elas permitem que os atletas estudem e treinem no mesmo local, possuem instalações modernas e funcionais, equilibram o ensino e os esportes, seja individual ou coletivo", pontua Moreno.


Aporte financeiro faz a diferença

A força da economia dos Estados Unidos comparada com o Brasil pode fazer toda a diferença, inclusive no esporte. E faz. Além de ter aporte financeiro maior, as universidades norte-americanas têm a tradição de implementar padrões de competição e incentivar de forma permanente o esporte.

No Brasil, algumas instituições apoiam seus atletas de formas diferenciadas. A bolsa é uma delas. Universidades como a USCS, de São Caetano, e o Mackenzie, de São Paulo, que atualmente têm 800 atletas bolsistas são exemplos isolados.

Diferentemente dos Estados Unidos, o esporte universitário do Brasil não tem a mesma divulgação, incentivo governamental e campeonatos estruturados. Portanto, as diferenças são muitas.

"Normalmente o que se vê nas faculdades brasileiras são os alunos se reunindo de vez em quando para jogar contra outras universidades, em um clima mais descontraído. Já nos EUA, eles veem os atletas como se fossem filhos da faculdade, querendo que eles representem bem e com orgulho o nome da universidade. Sem contar o aspecto dos treinos, viagens, e dedicação que são muito valorizados aqui", afirma o tenista Guilherme Cervezão.

Para o presidente da Associação Brasileira do Desporto Educacional, Georgios Hatzidakis, para o Brasil ter um padrão internacional de esporte universitário, precisa não só de investimentos, mas também como uma mudança cultural. "A falta de recursos das instituições se torna uma barreira para o desenvolvimento da prática no país e que para agravar é uma questão cultural, já que ex-aluno de universidades lá tem orgulho do time e da universidade que fez e isso acaba trazendo torcida, verba e ainda mais incentivo para os times universitários e as ligas norte-americanas", explicou Hatzidakis.

Nos Estados Unidos, o esporte universitário é uma vitrine para o profissionalismo, ao contrário do que acontece no Brasil. "As universidades daqui investem muito nos esportes em geral. Um exemplo de que os norte-americanos valorizam muito o esporte é o canal ESPN, que transmite jogos universitários para o mundo todo. E muitos tenistas que hoje são profissionais, como James Blake, John Isner, Benjamin Beker, Sam Querrey, saíram das universidades", contou Hulo Moriya. TP




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