Turismo Titulo Em Tiradentes
Surpreendente gastronomia mescla sabores locais com elementos de outros países

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
09/01/2020 | 07:33
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Ari Paleta/Divulgação


Em poucos lugares do mundo se faz jus ao clichê comer ‘rezando’ como em Tiradentes. Na pequena e pacata cidade mineira, a gastronomia, que se tornou globalizada, mas sempre com elementos da culinária local, surpreende. E muito. Vale cada centavo empregado tanto nos alimentos mais simples como uma maçã do amor gourmetizada, até num prato que mescla culinárias tailandesa, italiana, portuguesa e mexicana com a mineira. E cada um deles tem história tão saborosa quanto suas receitas.

Um desses estabelecimentos é o Gourmeco, chefiado pelo ex-casal formado pela brasileira Juliana Ferreira, que assina os pratos, e pelo italiano Umberto Pierrucci. “Nasci em Itabira (Minas Gerais) e dava aula de letras em Belo Horizonte quando decidi ir para a Itália me aprimorar em gastronomia e conheci Uberto. Lá vivi por seis anos. Nos casamos, separamos e seguimos amigos”, conta Juliana, que abriu o restaurante em 2013. As receitas misturam ingredientes das duas nações e o risoto de lagostim com camarão (R$ 70) é memorável. Para quem não é fã de prato agridoce, há o pappardelle com linguiça caseira, queijo burrata e azeite trufado (R$ 60). Para acompanhar, a cerveja Libertastes, da cidade vizinha São João del-Rei (R$ 30). Diferencial é que o estabelecimento traz, no cardápio, alerta sobre itens que podem provocar alergia, e quais pratos têm quais deles.

Outro que vale muito a visita é o CasAzul, em referência à pintora mexicana Frida Kahlo, da carioca Rejane Cunha, que comandava restaurante do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ela estava infeliz no trabalho quando uma amiga que morava em Nova York voltou ao Brasil, durante crise de 2008, e elas resolveram abrir um restaurante em Tiradentes um ano depois. Sem conhecer a culinária do México, Rejane adaptou as receitas com ingredientes mineiros, como o milho e o fubá, e o resultado impressiona.

Vale muito a pena experimentar o apimentado filé poblano, que é filé-mignon alto e mal passado com molho especial de mole poblano de chocolate e mais 18 itens que não são revelados e levam 45 minutos no fogo (R$ 65). De sobremesa, a panqueca Diego Rivera, com recheio de brigadeiro, avelãs, castanha-do-pará, amêndoas e sorvete com calda de chocolate quente (R$ 25) é espetacular.

Outro imperdível é o Uaithai, que mistura sabores tailandeses e mineiros. O local por si só já impressiona, pois está instalado em estabelecimento que possui teatro de arena onde funcionou a primeira escola de teatro de Minas Gerais, em 1920. O chef Ricardo Martins trabalhava no renomado D.O.M, de Alex Atala, em São Paulo, quando resolveu ir à Tailândia. “Não tinha dinheiro para isso, mas meu irmão mais velho, o fotógrafo Lufe Gomes, comprou a passagem e me emprestou dinheiro. Pedi as contas e fui realizar o sonho da minha vida”, conta ele, que abriu seu estabelecimento há cinco anos.

Goiano, descobriu a cidade após dar consultoria por lá e se apaixonou. “Esse lugar respira gastronomia. E temos semelhanças com a comida tailandesa, pois lá eles também comem muito porco, legumes e torresmo.” Como entrada, a papaya salad (R$ 40) vale por uma refeição, mas é verdadeira explosão de sabores. Leva mamão verde com amendoim, tomate cereja, cebola roxa, coentro, hortelã, namplá (molho de peixe tailandês) e vinagre de arroz. O delicioso pad thai, mais tradicional prato tailandês, com toque mineiro é composto por talharim de arroz, camarões marinados na cachaça artesanal da vizinha Bichinho, legumes, amendoim, molho de ostras e rapadura (R$ 70). Para acompanhar, o drink Laos, infusão de gin com flor de hibisco, suco de limão siciliano e água tônica (R$ 25) cai muito bem.

TRADIÇÃO

O restaurante Atrás da Matriz, especializado em bacalhau e pizza, é um dos mais tradicionais da cidade, há 19 anos no local. Arlete Santos e uma amiga o fundaram após se aposentarem da função de bibliotecárias na Fiocruz, no Rio de Janeiro. O carro-chefe é o bacalhau, e o fumeiro (R$ 98), receita que nasceu há três anos no Festival de Gastronomia da cidade (em agosto), é feito de lombo de bacalhau levemente defumado, assado com batatas, cebolas, pimentões, brócolis, alho e azeitonas pretas. Como entrada, o torresmo de bacalhau (R$ 14) é fantástico, assim como porção de bolinho de bacalhau (R$ 36).

Quem busca culinária essencialmente mineira vai ‘lamber os beiços’ no Pau de Angu, de Leonídia Bezerra, que fica a caminho de Bichinho. São imperdíveis a porção de linguiça (R$ 35), a carne de panela mineirinho, com costelinha, lombo, tutu, feijão tropeiro, batata e couve (R$ 169,70). O suco de limão-cravo (R$ 7) naturalmente doce ‘cai como uma luva’.

INUSITADO

O turista que aprecia um doce não pode deixar de visitar a Jane’s Apple, cafeteria pertinho da rodoviária que criou maçã verde caramelizada com sabores inusitados e sensacionais. Um deles é o de avelã, chocolate belga ao leite e branco e crisps salt caramel (R$ 35). Um dos sócios do negócio familiar, que vive na vizinha São João del-Rei, Felipe Vicente conta que a ideia, que veio dos Estados Unidos, foi adaptada para que o caramelo, que é duro, ficasse mais macio. E funcionou perfeitamente.

Outras iguarias do lugar são a porção de pastel de angu artesanal de frango com ora pro nobis (R$ 27) e a de coxinha de rabada com massa de abóbora servida sob requeijão (R$ 32). Deleite-se e coma ‘rezando’!
 




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