Economia Titulo Consumo
Inadimplência preocupa bancos

Especialistas, no entanto, dizem que tendência é de redução nos calotes

Pedro Souza
do Diário do Grande ABC
25/04/2012 | 07:00
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O cenário atual é de alta nas taxas de inadimplência dos bancos. Bradesco e Itaú Unibanco, maiores instituições privadas, apresentaram em seus balanços do primeiro trimestre que os clientes pessoas físicas estão atrasando mais as contas. E isso é um dos principais fatores para definir taxas de empréstimos e financiamentos. Especialistas ouvidos pela equipe do Diário avaliam que, mesmo neste contexto, as taxas de juros reduzidas continuarão por bom tempo. Entre as explicações para a duração estão a inflação controlada e o posicionamento dos acionistas dos bancos, que não deverão enfrentar o governo.

No entanto, o consumidor tem grande dificuldade em encontrar essas novas taxas. A equipe do Diário esteve em agências dos principais bancos o País e constatou que conseguir as menores taxas anunciadas pelas instituições é tarefa bem difícil. Tem banco que para financiar veículo com juro abaixo de 1% exige conta-corrente salário, entrada superior a 40% e o restante tem que ser pago em apenas uma parcela.

A inadimplência nos bancos é caracterizada quanto clientes deixam de pagar suas prestações de crédito por mais de 90 dias. No Itaú Unibanco, a inadimplência passou de 5,7% para 6,7%, ou seja, R$ 6,70 a cada R$ 100 contratados no banco. O lucro líquido teve queda de 3% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2011 e atingiu R$ 3,425 bilhões. O banco atribuiu a queda do resultado à piora da inadimplência.

No Bradesco, esse indicador atingiu 6,2% no fim do primeiro trimestre. Sobre o mesmo período do ano passado, o resultado foi 0,7 ponto percentual superior. Hoje, o Banco Central publica os resultados de crédito do País referentes a março. Até fevereiro, a inadimplência dos consumidores estava em 7,6%. E no segundo mês de 2011, a autoridade tinha apurado 5,8%.

Na avaliação do diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e economista da FIA, Celso Grisi, os esforços do governo são benéficos à economia nacional. "Os juros mais baixos vieram para ficar."

Os primeiros bancos a anunciar a redução dos juros foram a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. A Federação Brasileira de Bancos, que representa a maioria das instituições, tentou conversar com o governo para conseguir incentivos para reduzir juros. Mas não houve acordo e os principais bancos privados reduziram as taxas sem contraproposta do Executivo.

O gestor dos cursos de tecnologia de gestão da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e professor de Finanças, Norival Caruso, avalia que o governo tem muita força para segurar as taxas de juros dos privados lá embaixo. "Mas eles vão apresentar resistência", avaliou, lembrando que queda nos juros resulta em diminuição do lucro da instituição. "Em geral, o lucro dos bancos é bem maior do que o restante dos setores. Há espaço para reduções", disse. "Agora os acionistas vão querer mais lucro pela maior quantidade de (operações e clientes) e não pelo tamanho dos juros."

EXPECTATIVA- Coordenador das pesquisas de juros e vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel Ribeiro de Oliveira apresentou alguns pilares que sustentarão os juros em baixa. O primeiro é a redução da taxa básica de juros Selic, que passou de 9,75% ao ano para 9%, o que reflete na precificação do crédito em geral. "E juros mais baixos estimulam a queda na inadimplência."

O especialista pontuou que a previsão para a atividade econômica é de melhora nos próximos meses e a inflação caminha controlada. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou 5,24% em um ano encerrado em março. Este é o menor resultado desde outubro de 2010 e a sexta queda consecutiva.

 

Inflação vai determinar o caminho do crédito

 

Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto Fractal e economista da FIA, salientou que a inflação é um dos principais inimigos para a manutenção dos juros baixos que os bancos anunciaram neste mês. Ele disse que o resultado da prévia do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o IPCA-15, publicado ontem pelo IBGE, apresentou variação diferente à série do índice oficial.

Segundo IBGE, o IPCA-15 acumulado em um ano encerrado em abril foi de 5,25%, sétima queda consecutiva. No entanto, o indicador acelerou neste mês em relação ao mês passado, atingindo 0,43% contra 0,25%.

"Quanto maior a inflação, menos você tem que estimular o consumo." Explicou que os preços sobem, principalmente pela alta demanda. Para reduzir a procura por produtos e serviços, o governo tem como uma das principais ferramentas o aumento dos juros, ou seja, encarecimento do crédito.




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