Internacional Titulo
Vaticano fica mais severo por causa de abusos sexuais
Das Agências
23/03/2001 | 15:14
Compartilhar notícia


O escândalo de abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra freiras, que comoveu durante os últimos dias os conventos femininos e o clero católico, levou o Vaticano a se mostrar mais severo quanto a escolha de candidatos à vida sacerdotal e religiosa.

Os primeiros sintomas do fenômeno foram denunciados no final dos anos 80. Jovens moças, procedentes de Kerala (Índia), que foram recrutadas com espantosa facilidade e sem critérios por ordens religiosas, foram surpreendidas nas ruas de Roma.

Esse escândalo deu origem a quatro investigações, realizadas por uma religiosa canadense, a irmã Marie McDonald, e por uma irlandesa, a irmã Maura O'Donohue, publicadas esta semana pelo jornal católico norte-americano National Catholic Reporter.

"A irmã Maura cita 23 países do mundo inteiro, mas na realidade a África é a mais afetada, com 98% dos casos. Na Europa e nos Estados Unidos, os casos são esporádicos", informou um religioso romano, próximo da investigação.

"Existem bispos africanos que dão com muita rapidez a autorização para pequenas novas comunidades de religiosas, que não têm mais do que uma modesta formação", assegura sob anonimato um sacerdote da congregação Vaticana para a vida consagrada.

"Foram tomadas medidas muito firmes. Agora, é extremamente difícil que se aceitem nos colégios romanos noviças e seminaristas procedentes do terceiro mundo, que não sejam religiosos já consagrados ou sacerdotes ordenados", afirma.

Além disso, ele lembra que sempre existiram casos de "fragilidade" na história da Igreja. Há dois anos, um padre do arquivo secreto da Santa Sé, monsenhor Filippo Tamburini, escreveu um livro dedicado a episódios significativos dessa natureza, que acontecem desde o século XV.

Os superiores e superioras de ordens religiosas da Igreja Católica, sem esconder o problema, afirmam que a grande maioria dos 200 mil religiosos e do um milhão de religiosas "estão em condições de viver fielmente com seus votos de castidade, obediência, pobreza e serviço".

Segundo o padre Bernardo Cervellera, diretor da agência vaticana Fides, "é muito importante uma melhor formação das futuras religiosas, com o objetivo de reduzir também sua dependência cultural dos homens".

A irmã McDonald destaca a urgente necessidade de se levar em consideração "a posição inferior das mulheres na sociedade e na Igreja", como um dos fatores provocadores do fenômeno, sobretudo na África.

"Parece impossível para uma religiosa se opor a um sacerdote que peça serviços sexuais. As religiosas foram educadas para se considerarem inferiores, serem serviçais e obedecer", afirma, acusando de abusos sexuais, inclusive, os bispos.

A irmã McDonald denuncia as chantagens econômicas que as jovens estrangeiras sofrem, ao serem enviadas ao exterior, especialmente a Roma. "Os serviços sexuais são, às vezes, o preço que devem pagar para receber ajuda dos seminaristas ou dos sacerdotes".

Segundo a irmã canadense, quando uma religiosa fica grávida, o sacerdote só pode pedir a ela que aborte. "Enquanto, em geral, a religiosa é expulsa de sua congregação, o sacerdote é simplesmente transferido para outra paróquia", explica.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;