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Badan é internado e nao depoe na CPI
Do Diário do Grande ABC
18/11/1999 | 17:46
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A CPI do Narcotráfico aprovou a transferência do depoimento do legista Fortunato Badan Palhares para a próxima quarta-feira em Brasília. Nesta quinta-feira, uma pedra no rim com quatro milímetros de diâmetro livrou o legista Palhares do depoimento que deveria prestar à CPI em Campinas. Os deputados esperam que o depoimento de Badan possa revelar ligaçoes entre o crime organizado e as mortes do empresário Paulo Cesar Farias, o PC, e sua namorada, Suzana Marcolino, em 1996.

O legista foi internado às 8h30 na Casa de Saúde de Campinas pouco antes de se dirigir ao fórum local, onde deveria ser ouvido pelos parlamentares. "Ele sofreu uma crise aguda fortíssima", explicou o urologista e diretor clínico do hospital, Sergio Bisogni. O médico rebateu os boatos de que a internaçao seria um pretexto para livrar Palhares do depoimento. "Foi uma coincidência infeliz", garantiu.

De acordo com o médico, Palhares nao poderia falar com os jornalistas por estar sedado e recebendo soro. O perito também foi submetido a uma ultrasonografia que, segundo o médico, evidenciou o cálculo renal. O resultado dos exames apresentados por Bisogni mostram que a pedra está alojada no ureter direito, entre o rim e a bexiga. Segundo o médico, há outras três pedras no mesmo rim.

Caso o legista nao consiga expelir a pedra naturalmente até o final da noite, ele será submetido a uma cirurgia nesta sexta-feira (19) para retirar o cálculo. O médico apresentou um atestado médico à CPI, justificando o afastamento de Palhares por três dias. "Se a pedra sair de maneira natural, as chances de recuperaçao serao bem mais rápidas", disse.

Bisogni explicou que Palhares sofre de problemas renais há 15 anos. "Nao é a primeira vez que ele passa por uma crise aguda", afirmou. Na última terça-feira, quando a CPI foi instalada na cidade, o legista foi submetido a uma litotripsia, técnica que utiliza ondas acústicas para "explodir" os cálculos renais sem necessidade de cirurgia e anestesia. "O quadro agravou-se", constatou.

Segundo o médico, Palhares estava ansioso para depor à CPI. "Ele já estava pronto e veio para o hospital com a roupa que usaria no depoimento", contou. Nesta quarta (17), o legista passou o dia deitado em uma sala do fórum, em funçao das fortes dores que dizia sentir, esperando a vez para falar à CPI. Os parlamentares porém, resolveram modificar a ordem dos depoimentos e agora terao de tomar o seu depoimento em Brasília ou retornar a Campinas quando o legista já estiver recuperado.

Um dia antes de a CPI chegar à cidade, Palhares disse que desejava aproveitar a sua convocaçao para esclarecer "de uma vez por todas" a polêmica sobre as mortes de PC Suzana. "Se me derem oportunidade, pretendo encerrar esse assunto definitivamente", dizia.

No dia seguinte, o relator da CPI referente a Campinas, deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), desembarcou na cidade acusando o legista de "vender laudos". O depoimento desta quinta deveria ser marcado, principalmente, por um confronto entre os dois.

Pompeo havia se preparado para o duelo. Como muniçao, usaria 51 fotografias que registraram a necrópsia feita nos corpos de PC e Suzana. As fotos foram encontradas no estacionamento de um posto de saúde da Vila Castelo Branco, em março do ano passado, mas só na última quarta-feira se tornaram públicas, através do atual diretor do Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Molina de Figueiredo, desafeto declarado de Palhares.

Com as fotografias de PC e Suzana, foram encontradas outras fotos com imagens da necrópsia do ladrao de cargas Jonas Artur Gomes, o "Capeta", morto em um confronto policial em março de 98. O material foi deixado dentro de uma pasta encontrada sob o portao do posto de saúde. No dia seguinte, o vigia as encaminhou para a Polícia Civil, que passou a investigar o caso. "Queremos saber o que teria motivado a desova das fotos na calada da noite", disse Mattos.

As suspeitas de que o crime organizado poderia estar ligado à morte de PC surgiram em razao dos depoimentos do motorista Jorge Méres à CPI. Segundo ele, o empresário Willian Walder Sozza teria ligaçoes com o chamado "esquema PC". A morte do tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello teria beneficiado Sozza, que está foragido desde o dia 14 de outubro, além de outros integrantes da suposta quadrilha.

O legista continua sustentando que Suzana matou PC com um tiro no peito e depois cometeu suicídio. "Nao tenho a menor dúvida a esse respeito", garante. Palhares considera "um absurdo" qualquer tentativa de envolver seu nome com o crime organizado a partir da morte de PC. O legista teve o sigilo de suas contas bancárias, telefônicas e fiscais quebrado pela CPI.

Embora as mortes de PC e sua namorada estejam na mira da CPI Palhares foi convocado para esclarecer as denúncias de que o deputado maranhense José Gerardo Abreu (ex-PPB), teria mandado matar o estudante José Antonio Penha Brito Júnior, de 13 anos, desaparecido em Sao Luís em junho de 1988. O legista é acusado de manipular o laudo sobre a morte da suposta vítima para beneficiar Gerardo, apontado como um dos integrantes do crime organizado no País.

Segundo depoimento obtido pela CPI, o crime teria ocorrido porque o pai do estudante, José Antonio Penha Brito, que na época trabalhava como gerente de banco, recusou-se a conceder um empréstimo a Gerardo. O adolescente desapareceu em 19 de junho de 1988, na praia da Marcela, em Sao Luís. Um corpo encontrado cinco dias depois chegou a ser identificado pelo dentista do estudante, mas a família decidiu aprofundar os exames.

Palhares e o legista José Eduardo Zappa foram designados pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para exumar o corpo. Exames realizados em Campinas, segundo Palhares, revelaram que o corpo nao era de Brito Júnior. Segundo Palhares, a superposiçao de imagens nao foi coincidente e as análise feitas a partir de fios de cabelos e fragmentos ósseos apontaram tipos sangüíneos diferentes. O legista garante ter toda a documentaçao necessária para desfazer as suspeitas.




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