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Garrincha: o gênio que só não driblou o vício e a morte
Edélcio Cândido
Do Diário do Grande ABC
19/01/2003 | 22:47
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O dia 20 de janeiro de 1983 amanheceu triste para o torcedor brasileiro. Naquela manhã, às 8h30, o futebol perdeu, na Casa da Saúde, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, a magia da camisa 7: morria Manoel Francisco dos Santos, ou Mané Garrincha. Aos 49 anos, o gênio das pernas tortas, boêmio e ingênuo, Garrincha dava o seu último suspiro. Jeito de garoto levado, ele dava entrevistas engraçadas, adorava passarinhos e não ligava para carros de luxo. A cantora e companheira Elza Soares foi um de seus grandes amores. A bola, também.

Vítima do alcoolismo e de mais uma de suas crises renais, que o levaram a tantas internações, Garrincha deu adeus ao mundo da bola. “Daqui a 50, 100, 200 anos, os amantes do futebol ainda vão falar desse homem”, disse, na época, o jornalista João Saldanha. Hoje, completam-se 20 anos sem o mito Garrincha. Duas décadas depois, ainda não apareceu outro ponta igual, que faça o Maracanã calar como ele fazia. Garrincha driblava fácil, deixava os beques no chão com sua clássica paradinha e saída pela direita – tão óbvia quanto infalível. “Por que saio sempre pela direita? Porque é mais fácil do que sair pela esquerda”, disse Garrincha, certa vez, ao jornalista e escritor esportivo Ruy Castro.

Os primeiros dribles começaram na várzea, em sua cidade natal, Pau Grande, situada no interior do Estado do Rio. Ainda jovem, ele começou a fazer Joões. E não parou mais. Garrincha amava a bola e as mulheres. Não dispensava uma cerveja nem uma companhia feminina. A história conta que teve 13 filhos. Oito no primeiro casamento, com a mulher Nair. Também teve um casal com Iraci, em Pau Grande; dois nascidos em Estocolmo, na Suécia; e um filho, já morto, com Elza Soares. Mas a lenda diz que o jogador teve mais filhos pela vida.

A sepultura 4581 no cemitério de Raiz Serra, distrito de Pau Grande, onde foi sepultado, é o símbolo de indiferença do povo pela camisa 7 do bicampeão mundial. Os mais jovens nem sabem quem foi Garrincha – que, na Copa de 1958, na Suécia, fez o soviético Boris Kuznetsev sentar duas vezes. De vez em quando, alguém leva algumas flores, pinta a sepultura de branco, mas tudo é passado. O ídolo foi esquecido e morreu pobre.

Altos e baixos – Depois de ser campeão mundial em 1958, Garrincha transformou-se no maior jogador do Maracanã. Em 1961, levou o Botafogo de Nilton Santos e Quarentinha ao título carioca, que o clube não ganhava desde 1948. Depois, em 1962, viveu a glória do bicampeonato mundial. Mais tarde, sofreu com as dores nos joelhos, com as aplicações para adiar a cirurgia. Pelo Botafogo, Corinthians, Flamengo e Olaria, Garrincha lotou estádios. Foi respeitado. Mais tarde, enfim, faltaria-lhe energia para fugir da própria tragédia: a bebida. O dinheiro era curto. Estava inchado. Os joelhos, arrebentados. Os amigos se afastaram. Nem os jogos no time do Milionários, em São Paulo, conseguiam esconder uma grande tristeza. Certa vez, há alguns anos, em visita à redação do Diário, Elza Soares cantou pela memória de Garrincha e para os repórteres. Em seguida, chorou. “Ele foi meu grande amor”, disse.




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