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Agência quer proporcionar o desenvolvimento do ABC
Carolina Rodriguez
Do Diário do Grande ABC
30/08/2003 | 20:12
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Paulo Eugênio Pereira Junior pediu exoneração do cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico de Mauá no início deste ano para encarar um novo desafio em sua carreira: assumir a secretaria-executiva da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. A entidade, criada em outubro de 1998, recebeu muitas críticas nos últimos anos, principalmente de empresários, pela falta de atuação na região. Segundo os representantes da indústria e do comércio dos sete municípios, a Agência cumpria o papel de articulador, porém não colocava em prática as ações propostas nas reuniões. Depois de perder apoio das sete associações comerciais e das delegacias dos Ciesps (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) do Grande ABC no ano passado, ficou definido que o próximo dirigente da entidade seria indicado pelo setor privado. Indicado e aceito pela maioria dos empresários da região, Paulo Eugênio assumiu a secretaria-executiva da Agência em março deste ano em substituição a Carlos Paim. Para a direção-executiva da entidade foi eleito o diretor de novos negócios da PqU, Jorge Rosa.

DiÁRIO – Qual será o papel da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC em sua gestão?

PAULO EUGÊNIO PEREIRA JÚNIOR – Eu cheguei na Agência no fim de março e percebi que faltava definir melhor o nosso foco de atuação. Tinha diretor que defendia a Agência como uma articuladora de políticas públicas e outros que a defendiam como um órgão executivo. Além disso, não estava muito claro o seu papel, onde ela deveria atuar, o que era competência da Agência e o que era de competência das secretarias de Desenvolvimento Econômico dos municípios. Como sugestão, surgiu a proposta de fazer um planejamento estratégico, com todos os parceiros, para definir a missão, a visão e as linhas de atuação.

DiÁRIO – Como ficou definido o novo planejamento estratégico da Agência?

PEREIRA JÚNIOR – A nossa missão é unir as forças de instituições públicas e privadas para promover o desenvolvimento econômico sustentável do Grande ABC. Parece uma frase simples, mas para chegar na construção desse conceito tivemos meio dia de debates.

DIÁRIO – Quem participou dos debates?

PEREIRA JÚNIOR – A diretoria da Agência, formada por membros do Sebrae, empresários do Pólo Petroquímico, representantes de universidades, sindicatos e prefeituras. Nesta primeira fase do planejamento, que era para definir a missão, a visão e a linha de atuação, nós convidamos também entidades que no ano passado se retiraram, entre elas, as associações comerciais e os Ciesps.

DIÁRIO – Como foi voltar a discutir com as associações comerciais e Ciesps?

PEREIRA JÚNIOR – A idéia da diretoria era convidá-los para discutir a Agência, porque, quando eles se retiraram, um dos argumentos defendidos era de que a Agência não cumpria o seu papel. Então, nós convidamos essas entidades para ajudar a definir o papel da Agência e eles participaram, deram idéias e sugestões.

DIÁRIO – O que podemos entender por visão da Agência?

PEREIRA JÚNIOR – A visão é como a Agência pretende ser vista pelas pessoas. Ser a entidade promotora de ações que tornem o Grande ABC competitivo, moderno e empreendedor, com justiça social e qualidade de vida para a sua população. Há uma diferença entre os dois conceitos. Na missão houve um consenso geral e na visão, um consenso amplo, porque demorou ainda mais para chegar nesta definição. Havia várias propostas, idéias e conceitos diferentes, o que é até normal, porque discutimos com poder público, iniciativa privada e sindicatos, todos eles com demandas, anseios e expectativas diferentes.

DIÁRIO – Quais serão as linhas de atuação?

PEREIRA JÚNIOR – Uma delas será marketing regional. Conduzir ações de marketing regional para promover uma imagem positiva da região e elevar a autoestima da população local.

DIÁRIO – Seria o mesmo que fazer propaganda do Grande ABC?

PEREIRA JÚNIOR – Segundo os especialistas, a propaganda é apenas uma parte do marketing. Eles dizem que o marketing é um processo, que envolve a propaganda. A idéia é fazer marketing dentro e fora do Grande ABC.

DIÁRIO – O marketing interno seria para incentivar as empresas a permanecer na região e o marketing externo para atrair novas empresas?

PEREIRA JÚNIOR – O marketing não mantém as empresas nas regiões. O objetivo é atrair investimentos, negócios e promover a região. O marketing interno é para elevar a autoestima da população, para que as pessoas tenham orgulho de morar no Grande ABC. Uma das linhas de ação do marketing regional é participação em feiras. Vamos mapear quais interessam para a região e conseguir um espaço lá dentro. Temos a idéia ainda de promover uma feira na região, mas uma pequena feira de negócios. Poderíamos convidar indústrias que produzam embalagens, e estas nos dariam uma lista de empresas que elas gostariam que visitassem a feira.

DIÁRIO – Vocês já definiram onde essas feiras poderiam ser realizadas?

PEREIRA JÚNIOR – Como são pequenas, por exemplo, uma feira com dez empresas, e cada uma nos dá uma lista com 20 nomes de outras que gostariam que fossem lá porque têm condições de fornecer. Poderiam ser realizadas em hotéis da região. Temos também a idéia de promover o turismo no Grande ABC, como estratégia de produzir uma imagem positiva de beleza da região.

DIÁRIO – Em todas as cidades?

PEREIRA JÚNIOR – Quando falamos em região nos referimos aos sete municípios, mas é claro que alguns têm mais vocação do que outros. Outra meta é produzir uma homepage da Agência com informações de eventos e investimentos que estão acontecendo no Grande ABC. Queremos fazer uma pesquisa de imagem para saber como as pessoas de fora vêem a região e como as pessoas da região se vêem. Ainda dentro do marketing regional, não temos hoje um material de divulgação do Grande ABC. Se vier um investidor aqui na Agência e disser; 'Eu quero investir na região; você tem um mapa com a lei de zoneamento de cada cidade?' Nós não temos. Então, a idéia é produzir um mapa que seja importante para quem está investindo e divulgar esse trabalho em embaixadas, consulados e feiras.

DIÁRIO – Existe algum trabalho novo?

PEREIRA JÚNIOR – A linha de trabalho e qualificação profissional. A idéia é que a Agência passe a discutir temas relacionados a geração de trabalho e renda e qualificação profissional. Vamos discutir, por exemplo, o programa Primeiro Emprego do governo federal que, pela própria legislação, exige uma entidade com o nosso perfil para ser a gestora do projeto.

DIÁRIO – E como será feita essa qualificação?

PEREIRA JÚNIOR – Pelo próprio Ministério do Trabalho. Queremos aproveitar o encontro que teremos em setembro para tirar dúvidas e entender alguns detalhes da operação. Precisamos ter certeza que podemos cumprir todas as exigências. Ainda na linha de trabalho e renda, a Agência apoiará as discussões sobre economia solidária, que envolvem as cooperativas, associativismo e empresas de auto-gestão. Temos também outros projetos em andamento, como o Alquimia, realizado em parceria com o Sindicato dos Químicos.

DIÁRIO – Por que as montadoras nunca participaram das discussões?

PEREIRA JÚNIOR – Tenho duas teorias. Uma é a de que as montadoras ainda têm ajustes de mão-de-obra excedente a serem feitos nas fábricas e por isso não querem sentar numa mesa de negociação. A outra é de que elas não sentem necessidade de discutir com a localidade, porque elas já discutem diretamente com o governo federal e resolvem seus problemas na mesma hora, como acabamos de ver a redução do IPI. É um erro estratégico das empresas, porque as coisas acontecem na região.

DIÁRIO – O governo federal anunciou há poucos dias uma nova política industrial para o país, com incentivo aos segmentos de farmácos, softwares e semicondutores. O que achou deste programa? Ajuda de alguma forma a região?

PEREIRA JÚNIOR – Existem os fóruns nacionais de competitividade, entre eles, o do setor plástico, que a região já participa, e recentemente foi instalado o fórum do setor automotivo, os dois que interessam para o Grande ABC. Agora estamos defendendo a região e o governo deve defender o país.

DIÁRIO – A região ainda é atrativa para as empresas?

PEREIRA JÚNIOR – A região continua sendo atrativa. O que existe é que o nosso parque industrial é antigo e, com a abertura da economia nos anos 90, as grandes empresas que puderam se atualizaram, as que não puderam fecharam ou foram vendidas para grandes grupos, e isso provocou uma reestruturação. A modernização gerou uma massa de trabalhadores desempregados e, conseqüentemente, diversos efeitos, como problemas de segurança, aumento da demanda por saúde pública. Surgiram também problemas de infra-estrutura, o que causou uma impressão ruim nas pessoas. Mas a média histórica do Valor Adicionado industrial do Grande ABC é de 14%, e ela se manteve igual. É um processo, e eu não considero isso um processo de esvaziamento. O atrativo principal da região é a sua localização privilegiada e o potencial mercado consumidor. Já os problemas de infra-estrutura, como enchentes, estão sendo resolvidos. É um planejamento de longo prazo. Mas estamos no caminho certo.

DIÁRIO – Quanto tempo levará para acabar com essa impressão ruim de esvaziamento da região?

PEREIRA JÚNIOR – De acordo com o planejamento feito pela Câmara de Desenvolvimento Regional em 2002, uns 10 anos.




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