Cultura & Lazer Titulo
Juca: meio clássico, meio pop
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
26/03/2004 | 18:36
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Ele poderia ter sido o maestro Jurandyr Chaves. Mas, preferiu uma música mais popular e o humor para aproximar-se do público. Aos 65 anos, Juca Chaves planeja lançar sua obra completa em CD. Neste sábado, às 21h, o menestrel se apresenta no Teatro Municipal de Santo André (tel.: 4433-0789), com ingressos a R$ 30.

O espetáculo é intitulado Juca Bom de Câmara, no qual o artista mistura suas modinhas com o característico “humor sofisticado”. “Componho modinhas desde os meus 15 anos. Neste show canto as mais famosas da minha carreira, algumas que eu fiz na Itália e em Portugal e outra de Carlos Gomes”, disse.

Na entrevista que concedeu ao Diário por telefone, de Salvador, onde mora, Juca falou que não é comediante e que gosta mais de música que de humor. “Um dia eu ainda vou conseguir fazer uma apresentação com a orquestra daí, a Sinfônica de Santo André”, afirmou. Mesmo assim, não deixou de fazer comentários irônicos:

DIÁRIO – Por que você optou por cantar com um quarteto de câmara?

JUCA CHAVES – A modinha verdadeira nasceu na corte de Portugal, em 1740, já com a música de câmara. Só que era violino, viola e cello. O Brasil é que botou uma flauta. A música fica com aquele colorido meio clássico, mas que ao mesmo tempo é popular. Acho que esse é um trabalho cultural, porque eu estou trazendo de volta a música brasileira.

DIÁRIO – É um trabalho de resgate, mas o público nota que está ouvindo uma música que não está na TV ou no rádio?

JUCA – A gente percebe que sim, inclusive os jovens têm uma reação de espanto, porque é uma forma que eles têm de ouvir música sem precisar abanar os braços como débeis mentais, é muito gozado. O brasileiro entende de barulho, uma tendência imposta pela televisão.

DIÁRIO – E é difícil levar a modinha para o rádio e a TV?

JUCA – As rádios, principalmente as FMs, são todas vendidas, são prostitutas da arte. Elas se vendem para poder ganhar o jabazinho. Eu sei porque cada vez que eu vou, faço a entrevista e falo “Posso tocar um CD meu?”. Dizem: “Não, não, não pode, mas a gente põe de fundo”. Mas, isso já se sabe há muito tempo.

DIÁRIO – Você estudou música com Guerra Peixe...

JUCA – Muito. Eu me formei em música, fui até a regência. Tive outros grandes professores, o Osvaldo Lacerda, Bernardo Federowski e Eleazar de Carvalho.

DIÁRIO – Não gostou da música erudita?

JUCA – Engraçado, no final eu acabava caindo no popular, me dei bem melhor. Se fosse músico erudito eu teria que tirar fotografia com uma mão no queixo, olhando para o lado, fumando cachimbo, com aquela cara de intelectual imbecil. Ainda bem que eu fugi. O ambiente na música erudita, vou te contar, o sujeito tem mais cultura, então tem mais inveja. Na música popular, se você é bom, você se destaca. Na erudita é difícil porque todos se acham destacados.

DIÁRIO – Em 1974, você teve a música Rimas Sádicas censurada...

JUCA – Eu tive muitas modinhas censuradas, ao todo foram mais de 70 censuradas e proibidas. Rimas Sádicas só foi liberada dois anos depois, com um mandato de segurança. O censor da época era uma mulher terrível, chamada Judite de Castro Lima, que dizia: “A mulher brasileira não está preparada para ouvir a palavra tesão”, gozado né?

DIÁRIO – É mais fácil compor com liberdade?

JUCA – É igual. Eu já sofri os quatro tipos de censura. A censura moral, dos anos 70; a censura política de 74 em diante; e depois a pior de todas que foi a censura econômica, quando surgiu a Nova República. E, agora, as chamadas censuras da patrulha, terríveis também. O cara do jornal te corta, porque acha que não gosta de você, porque você gosta da cor roxa, sei lá. Mas, o resto eu vou driblando, nunca tive medo de censura.

DIÁRIO – A faceta humorista é uma exigência do público ou você não consegue não fazer humor?

JUCA – O público me cobra isso, porque é um humor mais sofisticado, mais inteligente. Eu gosto muito do humor inglês, portanto eu procuro manter um tipo rápido de piadas, e o pessoal gosta. Mas, já estavam me chamando até de comediante, o que não sou, aí é que voltei a fazer música. Umas pessoas me paravam na rua e falavam: “Você não canta mais aquelas modinhas bonitas?”, e eu respondia: “Ah! vou cantar então”. Gosto mais da música que do humor.

DIÁRIO – Você não criou inimigos com suas sátiras?

JUCA – Você pode fazer sátira sem ofender. Aliás todos aqueles que receberam uma sátira, de um modo geral, gostaram. Até os políticos. Fiz uma sátira sobre o Collor, que é fortíssima, e ele gostou.

DIÁRIO – Os presidentes são seus principais alvos. Já preparou algo sobre o Lula?

JUCA – Um ano é pouco, esperei um tempo para acontecer mais fatos. Mas, já tenho alguma coisa.

DIÁRIO – Dá para adiantar algum trecho?

JUCA – No show eu vou falar, senão não tem graça. É como a noiva transar com o noivo um dia antes do casamento. Um dos dois decide não casar.

DIÁRIO – Seu show tem censura de 12 anos.

JUCA – No espetáculo eu evito palavrão. Só coloco uma palavra mais forte quando ela tem humor. Sem humor, eu não coloco.

DIÁRIO – Muito obrigado...

JUCA – Quando você me colocar na capa do jornal, no lugar em que está escrito Diário do Grande ABC, tira essa parte e põe “Hoje: Show do Juca”, em vermelho. É difícil? E o meu retrato colorido na primeira página inteira, pulando para a segunda. Não é muito não, né? Ou então, na seção de anúncios fúnebres, bem pequenininho: “Hoje show do Juca. Entre um enterro e outro, assista.”




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