Cultura & Lazer Titulo
Evangelho de Saramago em peça
Mônica Santos
Da Redaçao
29/04/1999 | 18:13
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O evento Encontro com Saramago, realizado na quinta no Sesc Vila Mariana, em Sao Paulo, deve render bons frutos ao teatro brasileiro: existe um projeto para que o trecho utilizado na leitura dramática do evento se transforme numa peça, que teria estréia em Sao Paulo, em outubro.

O anúncio foi feito pelo ator Odilon Wagner, que, ao lado de Sérgio Mamberti, Tuca Andrada e Júlia Cateli, interpretaram A cena do nevoeiro, adaptaçao de um capítulo do livro O evangelho segundo Jesus Cristo, de José Samarago. O trecho escolhido é um dos mais polêmicos da obra do autor, e causou muitas discussoes na época do lançamento do livro, por questionar a existência de Deus, seus poderes e o papel das religioes, especialmente do catolicismo.  

A leitura dramática, que teve narraçao do também ator Davi Taiu (atualmente no elenco de Pérola, de Mauro Rasi), arrancou gargalhadas da platéia com a conversa de Jesus (Andrada) com Deus (Mamberti) e o diabo (Wagner). A direçao foi de José Possi Neto, que nao pôde estar presente porque encontra-se na Europa, em turnê com o Balé da Cidade de Sao Paulo.

Na primeira fileira do teatro, ao lado de Chico Buarque e Luiz Schwarcz, proprietário da editora Companhia das Letras, Saramago também mostrou-se satisfeito e, mais tarde, quando lhe deram a palavra, disse estar muito feliz por poder recordar trechos que nao lia há muito tempo.

Na segunda parte do evento, dividiram uma mesa no palco Saramago, Chico, Schwarcz e Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc. A Chico coube fazer a leitura de um conto de Saramago. "Essa oportunidade me fez reler a obra de Saramago, em busca do que poderia mostrar aqui, e isso foi muito prazeroso. Decidi ler A velha senhora e os canários, mas agora, depois de ver a excelente leitura dos atores, nem sei se deveria", elogiou.

A platéia irrompeu em aplausos - e o fez sempre que Chico ou Saramago lhes dirigia a palavra. E os aplausos, diga-se de passagem, eram sempre na mesma intensidade para os dois.  Terminada a leitura de Chico, chegou a vez de Saramago. O escritor, como de costume, esticou os 20 minutos programados para quase uma hora.

Com um discurso sério, porém recheado de ironia, Saramago mais uma vez preferiu expor suas inquietaçoes. Referindo-se ao trecho lido de O evangelho, ele considerou que o homem é o inventor de tudo e, portanto, poderia ter inventado Deus. "Inventamos a humanidade. Um dia um homem e uma mulher se conheceram, como prefere dizer a Igreja, e entao inventamos que isso era o amor. Porém, inventamos também todas as amputaçoes do ser humano, como a humilhaçao e a falta de respeito". A seguir, Saramago lembrou da Declaraçao Universal dos Direitos Humanos. "Já completou 50 anos e nao vale nada", criticou.




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