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Gasolina 'batizada' custa mais caro
Adriana Mompean
Do Diário do Grande ABC
19/03/2002 | 19:19
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   O barato pode sair caro. Como se fala no dito popular, adquirir gasolina por preços mais em conta não significa necessariamente que o consumidor irá economizar. A gasolina adulterada, comum atualmente por conta da acirrada concorrência entre postos e distribuidores, pode ocasionar sérios problemas para o motor do carro.

Na chamada gasolina batizada, normalmente são colocados solventes de borracha e tintas, que são derivados do petróleo, para baratear o custo final do produto. Além disso, existe a possibilidade da adição de álcool à gasolina acima do nível permitido pelo governo, que é de 24% da composição.

Segundo o coordenador do curso de mecânica automobilística do Centro Universitário UniFEI, de São Bernardo, Ricardo Bock, os motores mais antigos que utilizam carburador e trabalham com gasolina adulterada são os mais suscetíveis a falhas. Podem apresentar problemas, como dificuldade para funcionar quando frio, alteração na marcha-lenta e até falhas durante a aceleração. “Motores mais novos possuem alto gerenciamento eletrônico que disfarça muitas dessas falhas, pois o motor se auto-regula a todo instante”, diz.

A gasolina adulterada provoca a formação de resíduos pastosos – que são polímeros – no fundo do tanque, e aumenta a possibilidade do entupimento da bomba do tanque e do filtro de combustível, o que pode provocar a parada total do carro. “O motor pára de funcionar pela falta de alimentação do combustível. Porém, é uma deficiência que ocorrerá a longo prazo”, afirma.

Outro problema resultante da utilização de gasolina adulterada é a carbonização, processo acumulativo que forma carvão tanto no topo do pistão, quanto ao redor das válvulas, o que pode resultar na quebra do motor. “O carvão é formado, pois uma fração da gasolina adere às peças, começa a ficar espessa e com a alta temperatura transforma-se em carvão”.

A formação do carvão facilita a pré-ignição – ou batida de pino – que é uma explosão espontânea da mistura antes do ponto correto de ignição (centelha gerada na vela de ignição), devido à formação de pontos incandescentes no pistão. A pré-ignição provoca aquecimento e mau rendimento do motor, e em casos muito acentuados, até mesmo a perfuração do pistão.

De acordo com Celso Pellegrini, proprietário da Auto Mecânica e Retífica Pellegrini, em Santo André, a introdução de solvente no combustível deteriora as mangueiras, que ficam flácidas e até se rompem ou trincam. “Nos cilindros, devido à queima que é misturada e irregular, cria-se um desgaste. As velas também podem ficar pretas”, diz.

Pellegrini afirma que não é de uma hora para outra que o motorista irá notar problemas com seu carro. “Isso acontecerá com o uso contínuo da gasolina adulterada. Se o proprietário tiver problemas com o pistão, por exemplo, ele terá de fazer retífica no motor”, diz.

De acordo com Ricardo Bock, alguns sintomas demonstram que o veículo está com problemas no motor. “Se o propulsor estiver na temperatura ideal de trabalho e começar a falhar, já é um indício do uso de combustível adulterado”, diz.

Bock também alerta que, como o rendimento do motor diminui, muitos motoristas aceleram mais para compensar a falha e, desse modo, o veículo gastará mais combustível.

Em muitos casos, o mecânico experiente percebe que a gasolina adulterada foi a responsável pelo problema ocasionado no carro. “No cheiro do combustível dá para notar a presença de solvente, que tem odor semelhante ao tinner. Uma média de três entre dez automóveis que chegam na oficina com problemas no sistema de alimentação têm a gasolina batizada como causa do defeito”, afirma.

Depois de solucionado o problema com o mecânico, o consumidor deve fazer uma troca de óleo, devido aos abrasivos da gasolina que são jogados na câmara de combustão. Também deve-se trocar os filtros de ar para não haver rasuras nos cilindros.




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