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Gilbert vive Ezequiel com emoção real
Renata Petrocelli
Da TV Press
13/11/2002 | 18:16
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Gilbert relutou muito antes de aceitar o papel de Ezequiel, em Esperança. Com 35 anos de carreira musical, ele chegou a trabalhar como ator na década de 70, quando emprestou a voz a diversos temas de trilhas sonoras de novelas da TV Tupi. Na esteira de sucessos como F. Comme Femme, que embalou o romance dos personagens centrais de Beto Rockfeller, Gilbert atuou em A Fábrica, O Machão, Vittoria Bonelli e Meu Rico Português. Depois de quase 30 anos, o convite de Benedito Ruy Barbosa deixou-o receoso. “Temia prejudicar minha imagem de cantor. Já pensou ficar uma semana no ar e não dar certo? Eu ia me matar”, exagera Gilbert, que já gravou mais de 30 álbuns. No Grande ABC, o ator e cantor é conhecido por ter apresentado por muitos anos o programa Chansons D‘Amour, na rádio Scala FM.   

O personagem, no entanto, foi irresistível. Filho de judeus, Gilbert nasceu no Egito, de onde sua família saiu afugentada pelo governo muçulmano. Depois de uma passagem pela França, eles chegaram ao Brasil em 1964, no porão de um navio. Com Ezequiel, patriarca de uma família judaica, o ator celebra e relembra sua própria trajetória. A emoção já o levou a desmaiar na cena em que cortava as roupas de Camille, personagem de Ana Paula Arósio, depois do aborto. “É um costume tipicamente judaico. Foi uma emoção muito verdadeira”, justifica, lembrando que o enlutado passa sete dias com a mesma roupa, cortada em diagonal na altura do coração. Além de lembranças, a novela rendeu outros frutos. Seu CD A Esperança – Hatikva, que traz o tema de abertura da novela em hebraico, já vendeu quase 100 mil cópias. Confira a seguir trechos da entrevista com Gilbert.   TV PRESS - Como você avalia o retrato que Esperança faz da cultura judaica? GILBERT - Historicamente é muito importante, por vários motivos. Em primeiro lugar, porque muita gente se lembra apenas do nazismo, mas não de outras perseguições que os judeus sofreram. Não se lembram da Primeira Guerra, da perseguição aos judeus no Egito, se esquecem do Oriente Médio. E o Benedito coloca isso de uma maneira bonita, porque mostra também que o Brasil recebeu o judeu de uma maneira muito simpática. Por outro lado, é uma das primeiras vezes que o judeu não é mostrado como ranzinza, muquirana, que quer tirar proveito de tudo. A novela mostra os judeus totalmente abertos, permitindo até o casamento da filha com um imigrante italiano. O que, para a época, era impensável.   TV PRESS - Você utilizou recordações de sua família no perfil do personagem Ezequiel? GILBERT - Muitas. E acabei conseguindo cobrir um leque grande do judaísmo, porque meu pai era esquenazi, judeu da Áustria, e minha mãe, sefaradi, da Península Ibérica. O Ezequiel tem muitas coisas do meu pai. Tem aquele “oi, oi, oi, oi, oi”, que ele sempre falava, tem o jeito como ele andava, meio displicente, com a cabeça torta, parecendo um pingüim. E da minha mãe eu peguei as expressões e o modo de falar.   TV PRESS - Como foi voltar a atuar depois de quase 30 anos? GILBERT - Eu tive muito medo. Disse ao Benedito que se não desse certo ia querer me matar. Fui trágico mesmo. Ele disse que atuar era como andar de bicicleta, e que eu só precisaria ser responsável. Acabou sendo tranqüilo. Foi tão tranqüilo que chegou a assustar. Mas, como o personagem canta, foi bem mais fácil, porque associou aquilo que eu sei fazer ao que já fiz há algum tempo.   TV PRESS - Por que você não investiu na carreira de ator? GILBERT - Eu estava na Tupi, que ficou seis meses sem pagar salários. E fazia sucesso como cantor, era sempre convidado para fazer shows no exterior. Eu pensei: “Para que ficar sofrendo, se posso viajar, ganhar minha vida cantando?”. E comecei a viajar muito. Na época, por causa do sucesso de F. Comme Femme, fiz shows no Canadá, na Coréia, no Caribe, na América Latina, na Europa inteira. Não tinha como e nem por que voltar a atuar. Não que eu só visasse ao lucro, mas, como diz um bom judeu: “Negócios são negócios!”.   TV PRESS - Com Esperança rendendo “bons negócios”, você acha que pode mudar de idéia? GILBERT - Eu optei pela carreira de cantor. É muito difícil conciliar as duas coisas. Agora mesmo, eu tenho recebido convites que não posso aceitar. Em função do CD com as músicas em hebraico, já recebi ofertas de até US$ 30 mil para cantar em cerimônias judaicas nos Estados Unidos. Mas eu me centrei neste objetivo: vou fazer a novela e depois capitalizar este resultado.




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