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Rota do Frango com Polenta perde mais um restaurante

Tradicional São Francisco, inaugurado em 1962, vai encerrar as atividades em agosto

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
31/07/2019 | 07:03
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Celso Luiz/DGABC


Após 57 anos de funcionamento na tradicional Rota do Frango com Polenta, no bairro Demarchi, em São Bernardo, o Restaurante São Francisco vai fechar as portas no próximo mês. Entre os principais motivos, estão a crise econômica e a desindustrialização da região, o que também preocupa outros estabelecimentos do entorno que sofrem com a queda na movimentação de clientes.

O último dia de funcionamento será 25 de agosto, um domingo. Segundo um dos sócios do estabelecimento Nelson Morassi, 56 anos, além de questões burocráticas, como a complexa manutenção da sociedade, que é antiga, a rentabilidade do negócio deixou de acontecer. Prova disso é de que o espaço, que tem capacidade para 1.200 pessoas, estava operando com 30% da ocupação atualmente.

“Tivemos uma queda de 70% no movimento, desde o fim do governo Lula (2011). Também mudou muito o perfil de cliente, que antes fazia um jantar (no local) para toda a família, mas hoje até os casais dividem a conta. O restaurante é muito tradicional, e tem um processo todo artesanal, desde a confecção dos alimentos até a mão de obra. Eu precisaria comprar três vezes mais do que compro de alimento, (e comercializá-los) para pagar todo estes custos.” Ele também citou o fechamento de companhias na região. “Muitas empresas que faziam festas de fim de ano com a gente foram vendidas ou se mudaram”, disse. “Chegamos ao ponto em que era necessário pagar para trabalhar”, desabafou.

Desde o início do ano, algumas reduções já foram feitas. Cerca de 30% da folha de pagamento foi enxugada, sendo que atualmente os 40 funcionários estão cumprindo aviso prévio. Em janeiro, os jantares também deixaram de ser servidos durante a semana.

O São Francisco foi inaugurado em 1962 como bar e restaurante. Fioravante Morassi, que morreu em outubro de 2018, aos 82 anos, fundou o local junto com os irmãos. Ele permaneceu no comando da casa até os últimos dias. “Eu fui criado atrás de um balcão atendendo cliente. Estou muito triste, vivi minha vida inteira aqui dentro”, afirmou Morassi, filho do fundador.

Entre os artistas que já se apresentaram no local figuram nomes como Elba Ramalho, Chico Anysio e Sérgio Reis, entre outros. No dia 23, a apresentação da dupla Rick e Renner será o último antes do encerramento da casa. “Estou cumprindo os contratos com os clientes. Cancelei festas que já estavam agendadas e os ressarci. Não quero sujar a imagem de quem lutou e trabalhou tanto por esse lugar.”

O local não foi o primeiro restaurante da rota a fechar, já que o São Judas Demarchi encerrou as atividades em 2016. Na época, houve especulação sobre possível reabertura, o que acabou não acontecendo. A rede apostou em modelos express de franquia, mas a unidade do Shopping São Bernardo também fechou as portas.

FLORESTAL

Fundado em 1956, sendo o mais antigo da Rota do Frango com Polenta em funcionamento, o Restaurante Florestal negou os boatos de fechamento, porém, confirma que há muitas dificuldades para tocar o negócio. “Muita gente fala, mas não vai fechar. A nossa ideia é manter, mas vamos ver como vai ficar de janeiro em diante”, contou um dos sócios Angelin Nini Demarchi, 81.

Há duas semanas, o local está fechado durante a semana e não serve mais almoço por conta da baixa demanda. Porém, o funcionamento continua normalmente aos fins de semana com foco na agenda de shows, e possui três atrações esgotadas e programação até o fim do ano. O local tem capacidade para 2.500 pessoas.

“Todas as despesas são muito caras. Aos fins de semana temos 200 pessoas trabalhando (65 são registradas e, o restante, é freelancer, porém o local já chegou a ter 120 funcionários contratados). Essa crise nas empresas é muito difícil. A Volkswagen chegou a ter 40 mil empregados e agora tem bem menos do que isso. A Ford está indo embora. Sem falar que, antigamente, todo mundo vinha de São Paulo, que agora tem muitas opções gastronômicas. Hoje padaria e shopping tem comida. Costumo dizer que só falta a farmácia também”, afirmou Nini.

O presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), Roberto Moreira, endossou que a queda no número de indústrias prejudicou estes locais. Ele também citou o alto custo de manutenção das grandes estruturas. “Os consumidores daqueles locais eram funcionários de indústrias e quem as visitava. As que ficaram, tiveram redução na força de trabalho e ainda não houve melhora”, lamentou.


Após 28 anos, Vereda do Bacalhau fecha as portas hoje em Santo André

Inaugurada em 1991, a Vereda do Bacalhau encerra as suas atividades hoje. Instalado na Avenida Padre Manuel da Nóbrega, bairro Jardim, em São Bernardo, o restaurante tradicional também sentiu os efeitos da crise econômica.

Segundo o proprietário Nilo Fernandes de Souza, 66 anos, descendente de avô português, questões familiares e financeiras se somaram à redução do número de clientes, sentida há pelo menos quatro anos. “Tive uma diminuição de 15% no fluxo de pessoas. Quando se perde o emprego, a primeira coisa que se corta é a alimentação fora de casa e o lazer. E o pior é que as despesas continuam aumentando. Para nós, que estamos no ramo, esta é a pior crise da história”, destacou.

Ainda dá tempo dos apreciadores da culinária portuguesa degustarem os pratos de última hora. Hoje, o estabelecimento abre para o almoço (das 11h30 às 15h) e jantar (das 19h às 22h). 




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