Mesmo com previsão de estabilidade, empresa vai demitir 750 operários do chão de fábrica
Mesmo com a expectativa de ter sua produção funcionando até novembro deste ano, a operação da fábrica da Ford em São Bernardo, que teve fechamento anunciado em fevereiro, pode não resistir até a data estipulada. Por conta do encerramento da produção do New Fiesta, a empresa vai demitir 750 funcionários a partir da próxima semana, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade da planta. No início do ano eram 2.800 funcionários, que agora somam aproximadamente 2.200, isso sem considerar o recém-anunciado desligamento.
Além disso, alguns trabalhadores já aderiram ao PDI (Plano de Demissão Incentivada), anunciado em maio, que determina o pagamento de até dois salários por ano trabalhado – ainda não foram divulgadas informações sobre quantos já saíram da empresa. Porém, o metalúrgico que tiver o interesse de participar do processo de seleção do grupo que comprar a planta, considerando a possibilidade de venda da fábrica, vai receber o índice de 1,5.
Em assembleia realizada no interior da unidade, na manhã de ontem, pelo SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), o presidente da entidade, Wagner Santana, o Wagnão, afirmou que orientou que os trabalhadores demitidos a optarem pelo plano com pagamento de dois salários. “Em fevereiro, quando a Ford anunciou o encerramento das atividades, alertamos que ela estava antecipando a morte dos produtos. Isso porque, quando a fábrica anuncia o fechamento, o consumidor não vai comprar aquele item. O nível de produção foi diminuindo e as negociações com o possível comprador não aconteceram no mesmo ritmo. Em um primeiro momento, vários trabalhadores já se voluntariaram com o acordo (PDI) e, agora, como Ford está desligando por um erro estratégico dela, ela deve pagar os dois salários.”
O encerramento da produção do New Fiesta ocorreu em 13 de junho. Desde então, os trabalhadores estavam em banco de horas, e retornaram na segunda-feira. Segundo a entidade, eles devem atuar na produção de caminhões, que tem capacidade de 80 unidades diárias, nesta semana.
Mesmo com a previsão inicial de que a fábrica funcionaria até novembro, Wagnão apenas disse: “Não ouso dizer o período”. “Quanto mais rápido se resolver essa questão do comprador, melhor”, afirmou, ao completar que não há número certo de caminhões que ainda serão produzidos.
NEGOCIAÇÕES - Outro fator de preocupação é a absorção de funcionários pela possível nova compradora. A única empresa que assumiu publicamente o interesse na compra da unidade até agora foi a Caoa. “A cada semana mudam a possibilidade e a perspectiva, mas o que temos ouvido falar é sobre a aquisição da fábrica de caminhões, já que a de automóveis não é fator de especulação. Para essa operação, são necessários de 750 a 800 operários.”
O sindicalista admitiu que conversou com alguns interessados sobre a situação dos colaboradores. Na assembleia, chegou a dizer que já houve diálogo com a Caoa e que algumas questões, como a PLR (Participação de Lucros e Resultados) – neste ano, os colaboradores da Ford São Bernardo receberam R$ 17,5 mil –, e os salários, devem ser revistos, caso o negócio se concretize. “Quais foram as condições que colocamos nessa conversa? O salário, que é a principal preocupação de quem se candidata. Se de fato der certo, o que poderíamos avançar em relação a isso é que, para a função de montador, 80% do que é praticado pela Ford, e funções de ferramenteiro e eletricista, por exemplo, 70%.” Em conversa com o Diário, ele destacou que é difícil que uma empresa que já esteja estabelecida no País pague a mesma remuneração da região, e que isso seria um meio-termo.
Apesar de destacar a assinatura das cláusulas sociais da convenção coletiva, Wagnão afirmou aos trabalhadores que, caso a Caoa assuma, a empresa deve ter modelo diferente de banco de horas e até mesmo na estabilidade aos trabalhadores acidentados. “O que eles praticam em Anápolis (Goiás) e Jacareí (Interior), enfim, no grupo inteiro, são condições que podem ser diferentes das daqui. A PLR eles pagam R$ 3.500 em Anápolis e R$ 6.000 em Jacareí. Nós dissemos que o ponto de partida aqui será de pelo menos R$ 11 mil”, disse, destacando que as questões trabalhistas devem ser negociadas e que a venda ainda não está concretizada.
Para Meirelles, situação pode ter mudanças
O secretário da Fazenda e Planejamento do Estado, Henrique Meirelles (MDB), acredita que os trabalhadores demitidos podem ser recontratados pelo novo comprador da Ford. Segundo ele, quando o negócio for fechado, os operários devem ser readmitidos, já que possuem mão de obra qualificada.
Além disso, o secretário afirmou que, se a nova companhia aderir ao IncentivAuto, vai precisar gerar pelo menos 400 empregos para ter acesso a até 25% de desconto no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Para fazer parte do programa de incentivo, as montadoras também precisam investir, no mínimo, R$ 1 bilhão.
Ontem, em evento, o prefeito Orlando Morando (PSDB) também falou sobre o assunto, o qual ele soltou uma nota de repúdio na última sexta-feira. “Não posso antecipar o teor, mas estamos entrando com uma ação duríssima (na Justiça) contra a Ford, por ela não ter apresentado um plano de desmobilização. E vou continuar, pessoalmente, colaborando para que o novo investidor possa adquirir esta planta e garantir os empregos”, disse.
Questionada pelo Diário sobre as negociações da venda da planta de São Bernardo e as demissões recém-anunciadas, a Ford afirmou que não iria se pronunciar sobre o assunto. A Caoa destacou que ainda não há nenhuma confirmação sobre a conclusão das negociações.
(Colaborou Daniel Tossato)
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