Economia Titulo Negociação
Produção da Ford em S.Bernardo pode parar antes de novembro

Mesmo com previsão de estabilidade, empresa vai demitir 750 operários do chão de fábrica

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
16/07/2019 | 22:58
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Adonis Guerra_smabc


Mesmo com a expectativa de ter sua produção funcionando até novembro deste ano, a operação da fábrica da Ford em São Bernardo, que teve fechamento anunciado em fevereiro, pode não resistir até a data estipulada. Por conta do encerramento da produção do New Fiesta, a empresa vai demitir 750 funcionários a partir da próxima semana, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade da planta. No início do ano eram 2.800 funcionários, que agora somam aproximadamente 2.200, isso sem considerar o recém-anunciado desligamento.

Além disso, alguns trabalhadores já aderiram ao PDI (Plano de Demissão Incentivada), anunciado em maio, que determina o pagamento de até dois salários por ano trabalhado – ainda não foram divulgadas informações sobre quantos já saíram da empresa. Porém, o metalúrgico que tiver o interesse de participar do processo de seleção do grupo que comprar a planta, considerando a possibilidade de venda da fábrica, vai receber o índice de 1,5.

Em assembleia realizada no interior da unidade, na manhã de ontem, pelo SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), o presidente da entidade, Wagner Santana, o Wagnão, afirmou que orientou que os trabalhadores demitidos a optarem pelo plano com pagamento de dois salários. “Em fevereiro, quando a Ford anunciou o encerramento das atividades, alertamos que ela estava antecipando a morte dos produtos. Isso porque, quando a fábrica anuncia o fechamento, o consumidor não vai comprar aquele item. O nível de produção foi diminuindo e as negociações com o possível comprador não aconteceram no mesmo ritmo. Em um primeiro momento, vários trabalhadores já se voluntariaram com o acordo (PDI) e, agora, como Ford está desligando por um erro estratégico dela, ela deve pagar os dois salários.”

O encerramento da produção do New Fiesta ocorreu em 13 de junho. Desde então, os trabalhadores estavam em banco de horas, e retornaram na segunda-feira. Segundo a entidade, eles devem atuar na produção de caminhões, que tem capacidade de 80 unidades diárias, nesta semana.

Mesmo com a previsão inicial de que a fábrica funcionaria até novembro, Wagnão apenas disse: “Não ouso dizer o período”. “Quanto mais rápido se resolver essa questão do comprador, melhor”, afirmou, ao completar que não há número certo de caminhões que ainda serão produzidos.

NEGOCIAÇÕES - Outro fator de preocupação é a absorção de funcionários pela possível nova compradora. A única empresa que assumiu publicamente o interesse na compra da unidade até agora foi a Caoa. “A cada semana mudam a possibilidade e a perspectiva, mas o que temos ouvido falar é sobre a aquisição da fábrica de caminhões, já que a de automóveis não é fator de especulação. Para essa operação, são necessários de 750 a 800 operários.”

O sindicalista admitiu que conversou com alguns interessados sobre a situação dos colaboradores. Na assembleia, chegou a dizer que já houve diálogo com a Caoa e que algumas questões, como a PLR (Participação de Lucros e Resultados) – neste ano, os colaboradores da Ford São Bernardo receberam R$ 17,5 mil –, e os salários, devem ser revistos, caso o negócio se concretize. “Quais foram as condições que colocamos nessa conversa? O salário, que é a principal preocupação de quem se candidata. Se de fato der certo, o que poderíamos avançar em relação a isso é que, para a função de montador, 80% do que é praticado pela Ford, e funções de ferramenteiro e eletricista, por exemplo, 70%.” Em conversa com o Diário, ele destacou que é difícil que uma empresa que já esteja estabelecida no País pague a mesma remuneração da região, e que isso seria um meio-termo.

Apesar de destacar a assinatura das cláusulas sociais da convenção coletiva, Wagnão afirmou aos trabalhadores que, caso a Caoa assuma, a empresa deve ter modelo diferente de banco de horas e até mesmo na estabilidade aos trabalhadores acidentados. “O que eles praticam em Anápolis (Goiás) e Jacareí (Interior), enfim, no grupo inteiro, são condições que podem ser diferentes das daqui. A PLR eles pagam R$ 3.500 em Anápolis e R$ 6.000 em Jacareí. Nós dissemos que o ponto de partida aqui será de pelo menos R$ 11 mil”, disse, destacando que as questões trabalhistas devem ser negociadas e que a venda ainda não está concretizada.


Para Meirelles, situação pode ter mudanças

O secretário da Fazenda e Planejamento do Estado, Henrique Meirelles (MDB), acredita que os trabalhadores demitidos podem ser recontratados pelo novo comprador da Ford. Segundo ele, quando o negócio for fechado, os operários devem ser readmitidos, já que possuem mão de obra qualificada.

Além disso, o secretário afirmou que, se a nova companhia aderir ao IncentivAuto, vai precisar gerar pelo menos 400 empregos para ter acesso a até 25% de desconto no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Para fazer parte do programa de incentivo, as montadoras também precisam investir, no mínimo, R$ 1 bilhão.

Ontem, em evento, o prefeito Orlando Morando (PSDB) também falou sobre o assunto, o qual ele soltou uma nota de repúdio na última sexta-feira. “Não posso antecipar o teor, mas estamos entrando com uma ação duríssima (na Justiça) contra a Ford, por ela não ter apresentado um plano de desmobilização. E vou continuar, pessoalmente, colaborando para que o novo investidor possa adquirir esta planta e garantir os empregos”, disse.

Questionada pelo Diário sobre as negociações da venda da planta de São Bernardo e as demissões recém-anunciadas, a Ford afirmou que não iria se pronunciar sobre o assunto. A Caoa destacou que ainda não há nenhuma confirmação sobre a conclusão das negociações.

(Colaborou Daniel Tossato)
 




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