Turismo Titulo
Vestígios do século 18 na Serra do Mar
04/03/2010 | 07:00
Compartilhar notícia
Divulgação


Às margens da Rodovia Rio-Santos, a menos de seis quilômetros do centro de São Sebastião, no Litoral Norte paulista, um tesouro do século 18, descoberto há pouco mais de uma década por arqueólogos da USP (Universidade de São Paulo), leva agora o turista a uma viagem pelo ciclo colonial do açúcar.

Na mata fechada do Parque Estadual da Serra do Mar, após uma hora e meia de caminhada por trilha bem conservada e ornamentada com incrível aqueduto de 1,3 quilômetro, construído por escravos com barro e concha moída, o visual 300 metros acima do nível do mar impressiona.

Antigas colunas de cinco metros de altura e ruínas de uma imensa fazenda com 20 mil metros quadrados de área construída, com escadarias de pedra, senzalas e capelas, formam o Sítio Arqueológico São Francisco, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e recém-aberto para visitação monitorada.

O patrimônio remanescente da época em que o Litoral Norte foi uma das mais ricas regiões do Sudeste, entre 1750 e 1880, tem se tornado uma opção turística. Além do São Francisco, existem outros cinco locais onde antigas fazendas de escravos podem ser admiradas com o acompanhamento de monitores que cobram R$ 100 por trilha, para grupos de quatro pessoas.

Também ao lado da Rodovia Rio-Santos, a Fazenda Santana tem, ainda em pé e cercada pela sombra de mangueiras centenárias, um conjunto de senzalas e ruínas de um engenho e suas peças usadas na fabricação do açúcar.

Três sítios arqueológicos estão em Ilhabela e outros dois, em São Sebastião. Nas duas cidades e nas estradas, as prefeituras colocaram placas indicando a localização dos antigos engenhos.

O São Francisco, com área do tamanho do Parque do Ibirapuera, é o maior e com vestígios mais conservados de um período no qual os senhores de engenho, para fugir das regras rígidas que tentavam colocar fim à escravidão, construíam fazendas acima do nível do mar. Era uma forma de manter, no meio da mata, uma linha de produção cada vez mais ameaçada pelo açúcar das Índias e pela campanha abolicionista.

"O São Francisco tinha como fachada um engenho, mas servia também como esconderijo e base para o tráfico de escravos no seu ponto mais alto. Tanto que foi a única fazenda com senzalas construída num nível tão acima do mar", explica o arqueólogo da USP Clayton Galdino, 35 anos.

O passeio às ruínas leva três horas. Ao longo da trilha, também pode ser observado um cemitério de escravos em meio a orquídeas. No pico mais alto, escritas nas paredes das senzalas e um pátio de cerimônias que tem como contraste ao fundo o azul do canal de São Sebastião faz valer a pena a subida de quase duas horas.

Os passeios ao Sítio São Francisco e à Fazenda Santana têm de ser agendados com a prefeitura de São Sebastião, pelo telefone (0xx12) 3892-2620. Por ser uma área do patrimônio nacional tombada, nenhuma operadora e monitor sem cadastro no Iphan podem fazer a trilha.

Mais tesouros rústicos em Ilhabela

Em Ilhabela, nem é preciso andar em trilhas para encontrar tesouros do passado colonial. Próximo de praias centrais do arquipélago, existem ruínas nos sítios Engenho Pacuíba 1, Engenho Jabaquara e Engenho Feiticeira, todos batizados com os nomes das praias onde foram mapeados. Esses engenhos podem ser observados pelos turistas perto da areia.

Outros 12 sítios em Ilhabela, alguns que remontam há cerca de 2.500 anos, ainda estão sendo analisados, após recente localização por um grupo comandado pela arqueóloga Cintia Bendazzoli.

"Queremos saber que tipo de população havia no arquipélago. Sabemos que o local era ocupado por sambaquieiros (primeiros habitantes do litoral brasileiro) que viviam da caça e da coleta de vegetais, além de serem exímios remadores, o que explica a sua dispersão pela ilha", diz Cintia.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;