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Renda média da região cresce 17,5% durante a crise

Movimento é capitaneado pelo setor de serviços, que expandiu principalmente de 2015 a 2019

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
14/07/2019 | 07:21
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Marcello Casal Jr/Agência Brasil


A renda média do trabalhador com carteira assinada do Grande ABC aumentou em 17,55% durante a crise econômica. Atualmente, a remuneração mensal é de R$ 3.212,50, o que representa R$ 479,52 a mais do que era pago há cinco anos. O crescimento foi impulsionado pela expansão do setor de serviços, porém, a região ainda não recuperou o patamar de uma década atrás, quando os trabalhadores recebiam, na média, R$ 213,70 a mais do que atualmente.

O levantamento tem como base os dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Os valores foram tabulados e deflacionados com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) pelo coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio.

Os números mostram que a renda dos trabalhadores do setor de serviços, em maio, de R$ 2.883,25, subiu 12,55% comparado com o mesmo mês de 2009, quando era de R$ 2.561,69, e 27,96% em relação há cinco anos, R$ 2.253,25. Em compensação, a indústria de transformação teve queda de 21,27% em uma década – em 2009 era de R$ 4.912,41. Ante 2015, a remuneração, que era de R$ 3.867,78, aumentou 14,86%, e hoje totaliza R$ 4.442,62, o que significa que ainda é R$ 469,72 menor do que em 2009.

De acordo com Maskio, o crescimento do setor de serviços é explicado por dois fatores: a terceirização de demandas da própria indústria e também a mudança nos hábitos da região. “Há uma alteração no comportamento de demanda da sociedade, que pede mais demandas ligadas ao setor de serviços, por conta de celular, internet, TV a cabo e outros. Também temos o setor de Saúde, que tem um faturamento grande e inclusive demanda profissionais capacitados, e o educacional, que também cresceu muito. O crescimento também é reflexo do repasse da indústria para o setor de serviços”, disse.

Além disso, também é possível destacar a mudança de empresas importantes do setor para a região. Por exemplo, a CVC Corp, o maior grupo de turismo do País, que concentrou toda a sua operação para Santo André, após realizar aquisições, e a Gafisa, que atua no ramo imobiliário e transferiu sua sede para São Caetano. As movimentações trouxeram mais executivos à região, e elevaram a média salarial.

Dentro do setor de serviços industriais de utilidade pública, onde estão incluídas empresas fornecedoras de energia elétrica e telecomunicações, o salário saltou de R$ 2.616 em 2015 para R$ 4.116,81 (aumento de 57,37%). Dentro do segmento está classificada a TIM, que possui centro tecnológico em Santo André.

“São empresas onde a demanda aumentou muito e, consequentemente, o faturamento também. Em alguns destes setores há necessidade de mão de obra mais qualificada, o que gera esse efeito na massa salarial”, destacou Maskio.

Segundo o economista, apesar do crescimento do setor na região, é difícil que a remuneração deste trabalhador ultrapasse a da indústria na média. “Certamente alguns setores de serviços demandam mão de obra de alta capacidade, muitas vezes até maior do que a da indústria, mas no geral eu acho difícil. É um setor muito heterogêneo. A indústria, ainda mais na região, possui uma presença muito forte (leia mais abaixo) na média adicionada no mercado de trabalho”, afirmou.


Mudança na situação passa pela indústria

Apesar da queda no salário do trabalhador da indústria da região, a recuperação dos índices ainda dependem do setor produtivo. De acordo com o professor Sandro Maskio, o crescimento econômico é a chave para a melhora do mercado de trabalho e da massa salarial.

“Ainda temos um caminho muito longo para chegar lá, mas é inevitável: a única coisa que gera emprego de maneira sustentável e sólida é o crescimento econômico. Por isso, são necessárias políticas públicas que favoreçam o estímulo do processo produtivo a longo prazo. O empregador não contrata porque é um bom samaritano, mas porque, com o mercado melhor, ele precisam produzir mais”, afirmou Maskio.

Conforme matéria publicada pelo Diário na última segunda-feira, se a indústria não recuperar o crescimento, o setor de serviços pode sentir os efeitos daqui a três anos. “Temos uma concentração industrial grande e muitos empregos dependem tanto diretamente quanto indiretamente do segmento”, disse.

Para o especialista, o processo de automação do setor também dificulta a recuperação. “Essa é uma tendência mundial e um ciclo que já vem de muitos anos. Ainda temos de avançar no processo de automação no Brasil, até porque não dá para nadar contra a corrente. Mas outras possibilidades podem surgir, por isso há necessidade da política econômica para ter capacidade de criar diferentes vocações nesse grande desafio”, destacou.
 




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