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Serviços vão perder forças com estagnação da indústria

Se em até 3 anos fábricas não reagirem à crise, prestadores da região começarão a demitir

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
08/07/2019 | 08:31
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Pixabay


Conhecido por ser um polo industrial e, principalmente, do setor automotivo, o Grande ABC vem passando por processo de perda de empregos e da geração de valor agregado do segmento nos últimos anos. Tal situação vem se moldando desde o início da crise econômica, em 2014 e, com a demora a sair desse cenário, o setor perde cada vez mais. Ao mesmo tempo, o ramo de serviços veio ganhando espaço no vácuo deixado pela indústria e já corresponde pela maioria do valor agregado do PIB (Produto Interno Bruto) da região (R$ 35,3 bilhões em 2016, enquanto que a indústria representa R$ 24,8 bilhões em valores deflacionados). Porém, se a situação de estagnação refletida nas fábricas não mudar o quanto antes, em até três anos a região pode começar a assistir a perda da força no setor de serviços – isso porque cerca de 50% desse segmento está ligado ao industrial.

Segundo levantamento do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano) com base nos dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), o setor de serviços já soma maioria dos empregos formais na região. São 319.657, em 2017 (43,5% do total dos postos de trabalho), enquanto a indústria mantém 182.168 (24,99%). Em 1989, para efeito de comparação, eram apenas 120.613 empregos no setor (20,49%), enquanto a indústria mantinha 363.333 vagas (61,71%), ou seja, houve inversão da representatividade dos ramos.

Segundo o professor e coordenador do Conjuscs, Jefferson José da Conceição, os dados apontam um X, enquanto um setor teve queda, o outro cresceu, por conta de fatores como a terceirização de departamentos da própria indústria e a própria crise. “Da década de 1990 para cá, as grandes indústrias terceirizaram boa parte das atividades, e parcela disso foi para a área de serviços. Só esse fato faz com que a gente deduza que, se a crise da indústria aumenta, esses serviços serão atingidos no seu principal cliente. São milhares de pessoas que trabalham nessas áreas e que não vão ter emprego. Se falarmos em desindustrialização, vai representar grande impacto na área de serviços, porque se ele cresce hoje, isso se deve, em parte, a essa migração, ou seja, não são dois grupos independentes como demonstra a própria estrutura da região.”

Conforme dados da Fundação Seade, o peso do PIB de serviços também já representa maioria na região, apesar de ambos terem caído em relação a 2012, por conta da crise econômica. Conforme o especialista, cerca de 50% do setor de serviços depende diretamente do ramo industrial. “Como o peso da indústria ainda é muito grande na região, temos diversas empresas no segmento de limpeza, alimentação, segurança patrimonial, transporte, manutenção, contabilidade, marketing, finanças, entre outros, que atendem ao setor industrial.”

O professor de história econômica geral e história do pensamento econômico da USCS e da Universidade Anhembi Morumbi, Roberto Vital, também cita a dependência indireta da indústria nos serviços. “O setor de serviços cresceu para atender as indústrias, mas, indiretamente, para as famílias das pessoas que vieram morar no Grande ABC. Os moradores consomem educação, saúde, beleza, e precisam desses serviços. A tendência não é tranquilizadora, já que, se você perde a indústria, tem menos pessoas consumindo.”

“Tínhamos uma indústria muito grande e cidades dormitórios no início dos anos 1990. Havia uma carência grande de hotéis, restaurantes, áreas de entretenimento, tecnologia, contabilidade. Então, esse gap foi gradativamente sendo preenchido porque essas empresas perceberam um espaço de crescimento. Isso, somado à desverticalização da indústria no mesmo período, fez crescer a demanda de serviços”, completou Conceição.

Além disso, o especialista afirmou que a capacidade de relacionamento entre diversos setores é maior na indústria. Ou seja, como ela é responsável pela compra de matérias- primas e produção, acaba tendo maiores impactos na economia do que um supermercado, por exemplo, que só comercializa produtos prontos. Por isso, há maior reflexo quando uma fábrica fecha as portas. “A capacidade de ser uma locomotiva econômica é maior que a de serviços. Por isso, os países mais avançados não desistiram das indústrias. Claro que o setor de serviços tem uma dinâmica que não é 100% dependente da indústria e os empregos são gerados pelo próprio crescimento das cidades. Mas boa parte da região é diretamente ligada a ela. Se ela não retomar a competitividade, deve haver queda no número de empregos e no valor adicionado”. assinalou Conceição.
 




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