Economia Titulo
Polo deve buscar setores alternativos
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
26/10/2009 | 07:08
Compartilhar notícia


Para viabilizar um parque tecnológico é preciso tirar obstáculos e incentivar. Esta é a avaliação de Mario Salerno, chefe do departamento de engenharia de produção da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), participante do Seminário Polo Tecnológico do Grande ABC, realizado na semana passada em Santo André.

Em relação ao polo que se pretende desenvolver na região, ele opina que é preciso optar por temas que favoreçam mobilidade e inovação, atrelados a desafios ambientais. "Embora as indústrias automobilística e petroquímica sejam fortes no Grande ABC, elas já têm seus próprios centros tecnológicos e não vão se mudar para o parque. Não necessariamente o parque tem de ter a ver com o que ocorre hoje. Áreas como pré-sal, energia e telecom têm dinheiro e têm oportunidades, principalmente se amarradas com a questão ambiental. Aqui existe a represa Billings, onde é possível trabalhar com biotecnologia", destacou Salerno.

O presidente da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), Guilherme Ary Plonski, concorda e afirma ser necessário olhar para o futuro. "Não existe um modelo adequado a seguir. É preciso delinear um modelo singular. O parque tecnológico de Taiwan permitiu a criação de um segmento que não existia, o de semicondutores", apontou Plonski.

INCENTIVOS - Para o engenheiro, outro ponto fundamental é criar incentivos para que as empresas se instalem dentro do polo tecnológico, sendo isto muito mais fácil para os pequenos negócios. "A saída para o desenvolvimento das micro e pequenas não está necessariamente no Sebrae", diz. "Para empresas que se deslocarem para o parque poderia haver uma política pública de fundo garantidor a fim de que elas tenham subsídios para fazer negócios", defende.

Seria fundamental também, como integrante do polo, uma agência de despachantes para interpretar e traduzir os processos burocráticos da inscrição de projetos na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e na Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

Outra sugestão de Salerno caberia às universidades participantes. "Alunos que tenham iniciativas interessantes podem concorrer a um prêmio de aluno empreendedor. Quem ganhar, tem assegurado um local alugado com tudo pago e isento de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), dentro do parque."

De acordo com Plonsky, existem hoje no País 25 parques tecnológicos em operação tendo sido o primeiro projeto aprovado em 1984. No Exterior, são mais de 1.000.

Desde dezembro de 2008 74 iniciativas estão tramitando no País. "Acredito que em 2010 vamos ganhar pelo menos mais cinco parques", estima Plonski.

Somente no Estado de São Paulo são 24 propostas - incluindo as do Grande ABC. Destas, dez já entregaram o projeto.

Exportação de conhecimento deve ser o alvo do Grande ABC

É unânime, entre os presentes ao Seminário Polo Tecnológico do Grande ABC, que o parque da região tem de estar preparado para receber todas as novidades que virão junto com este processo.

Para Adonis Bernardes, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, é fundamental que a região ofereça conhecimento e não somente mão de obra para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. "Hoje, as pequenas empresas da região somente reproduzem as peças. Precisamos de mais; desenvolver know-how e exportá-lo". É aí que entraria a contribuição do polo.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, concorda. Mas defende que é preciso investir em educação também. "O piso dos metalúrgicos varia entre R$ 600 e R$ 900 e somente 20% têm acesso à universidade. O valor de uma mensalidade é maior do que o salário deles. O Prouni (Programa Universidade para Todos) só contempla quem tem até 22 anos. Nossa categoria tem, em média, 30 e poucos anos."

Otimista, Thomas Jeisein, economista da subseção Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato dos Químicos do ABC, alega que a região tem menos a construir e mais a agregar. "Não existe um local que congregue tantas esferas produtivas como o Grande ABC. Precisamos implementar ações convergentes, fazendo com que as entidades dialoguem mais".

Jeisein afirma que seria importante, para isto, romper a ideia de que a produção do conhecimento só se dá na universidade e não junto a quem está no dia a dia de trabalho.

Fausto Cestari Filho, vice-presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e um dos organizadores do evento, conclui que o diagnóstico está claro: a região deve se colocar obstinada em busca da inovação. O próximo passo é buscar recursos financeiros junto às empresas. "Vamos ter de dividir isto de alguma forma, para captar verba e sair do zero".

Esta é a lição de casa para os encontros do Grupo de Trabalho do Polo Tecnológico, que deve, agora, iniciar o desenvolvimento do projeto.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;