Política Titulo
Covas: Integra do discurso de posse
Do Diário do Grande ABC
10/01/1999 | 18:18
Compartilhar notícia


A íntegra o discurso de posse do governador de Sao Paulo, Mário Covas (PSDB):   

``Senhoras e Senhores, ao dirigir-me aos membros desta casa é ao povo de Sao Paulo que falo. É a ele que saúdo como companheiros de viagem se saúdam: com entusiasmo e confiança no sucesso da jornada.  No umbral de mais um milênio, às vésperas dos 500 anos da descoberta do Brasil, é para uma nova travessia que nos aprestamos, rumo à conquista do inadiável mundo do desenvolvimento, da solidariedade e da justiça social.  Nosso caminho nao é apenas o da esperança. Sao Paulo já provou ser capaz de renascer do caos em que foi atirado pela inépcia, pela incúria e pela incompetência. E a dignidade reconquistada por Sao Paulo foi, com justiça, atribuída menos à atuaçao dos governantes, que ao reclamo do seu povo, há muito exigente da honradez e da ética. Honra nao é palavra inventada para inflamar discurso, é virtude que deve ser exercida pelos governantes que entendem e respeitam as dificuldades da sua gente. Porque, exatamente sob a égide da honradez e da ética, os brasileiros de Sao Paulo construíram suas vidas: nas comunidades modestas das periferias; no anonimato das usinas e das fábricas; na exaustao dos canteiros de obras; na faina árdua dos campos; na solidao do quartinho dos fundos do apartamento burguês.  Os necessitados do meu Estado, os pobres da minha cidade, terao no exercício da minha autoridade, ainda e sempre, o cuidadoso e obstinado esforço de diminuir as distâncias sociais, porque cabe colocar na equaçao autoridade-liberdade o ideal superior da igualdade. Esta é a minha visao da social-democracia. É, pois, uma sociedade solidária que urge criar, superando toda forma de exclusao e preconceito, diminuindo as distâncias sociais, tornando objetivo o anseio de justiça e eqüidade.  Propiciar oportunidades iguais é indispensável, mas nao suficiente, à formaçao de uma sociedade fraterna, na qual cada homem e cada mulher reconheçam no outro mais um irmao. Unamos, pois, nossas forças para construí-la, neste mandato que encerra um século, mas que inicia um milênio.  Enganam-se os que tentam semear desesperança em terra paulista. Aqui o sonho é permitido, porque nos recusamos a dormir em berço esplêndido, esperando que nos ajudem hoje os algozes de ontem, os rejeitados e expulsos do poder, os acossados pela justiça, os que nao acreditam e os que torcem pelo caos.  Inegável porém, é que turbulências do Leste trouxeram momentos severos. Para ultrapassá-los, é imperativo que o País promova um intenso ajuste, assegurando, assim, o seu destino, que é o do desenvolvimento. O País, porém, nao é um ente distante, apartado da nossa realidade imediata. Nao é apenas um mapa pendurado na parede. O Brasil somos nós, todos nós.  Sao Paulo se atribui a responsabilidade de chamar para si, como se sua por inteiro fosse, qualquer missao de interesse nacional. Sao Paulo tem plena convicçao de que o Estado e o País sao uma única alma, um único corpo, e que nao há dor ou afliçao que ferindo um nao afete o outro. Portando, se o Brasil é ameaçado, Sao Paulo reage, recusando a irresponsabilidade como bússola e o quixotismo como estandarte.  Igualmente, é preciso nao confundir discordância com ultimato. Nem lealdade com subserviência. Lealdade é um valor praticado entre companheiros, mas há uma forma de lealdade que se sobrepoe a todas: a lealdade aos destinos do país.  Apoiar nao significa deixar de emitir discordância. É o que Sao Paulo tem feito. Nao apenas em seu interesse, mas também no da sociedade brasileira.  A história republicana ensina e reitera que o povo e os políticos de Sao Paulo nunca desertaram da responsabilidade e do interesse. Importa, entao, assumir a questao política com dignidade e audácia.  Em alguns momentos históricos, o inimigo da melhor vitória acaba sendo o bom senso trivial. Em outros, o melhor a fazer, ainda que mais arriscado, é ousar.  Novos tempos requerem ousadia. Hoje vivemos o paradoxo de ver operários a ocupar fábricas, nao para fazer greve, mas para poder trabalhar. A moeda estável, a derrota da inflaçao, a nova dinâmica da sociedade, tudo isso impoe que nos libertemos das regras ortodoxas. O Brasil nao é um País que seja presa fácil ou inerme aos ataques da especulaçao predatória. Nossa economia já reúne instituiçoes conquistadas e lideranças testadas e vitoriosas, além de políticos experientes e decididos.  Adversidade? Nao... Nao me venham falar em adversidade. A vida me ensinou que, diante dela, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer ! Por isso temos pressa. Sao Paulo nao pode esperar um dia, um minuto, para oferecer ao País a sua parcela de luta para a construçao do Brasil que o povo brasileiro merece. E se essa luta se trava em várias frentes, Sao Paulo estará - como sempre esteve - presente e atuante. Seja por uma questao de seriedade, seja por patriotismo, seja até por conveniência, Sao Paulo jamais virará suas costas ao Brasil.  Exatamente por isso, Sao Paulo honrará todos os compromissos assumidos. Exatamente por isso Sao Paulo vai lançar mao, com igual denodo, de todos os meios ao seu alcance para buscar o ponto de equilíbrio entre a indispensável estabilidade econômica e a urgente retomada do desenvolvimento.  Nosso Estado espera, para muito cedo, que se rompa a aparente contradiçao entre crescimento e estabilidade. Na realidade, ambos sao conceitos indissociáveis para a concretizaçao do desenvolvimento sustentado. A existência da estabilidade nao gera necessariamente desenvolvimento. Da mesma forma, desenvolvimento nao implica forçosamente a estabilidade.  Para que ambos convivam, é preciso vontade política nacional. E é essa vontade que deve ser perseguida. Nao pensam assim os que nao acreditam nos valores na democracia e tudo atribuem às forças do mercado. Nao é este o caso da social-democracia. Reforçaremos a posiçao de Sao Paulo como pólo de competitividade e desenvolvimento sustentado, mas como protagonista, e nao como vítima, da globalizaçao. Sem abrir mao do rigor orçamentário, o governo de Sao Paulo vai aprofundar a modernizaçao da máquina pública, reforçar a infra-estrutura, atrair novos investimentos. Vai estimular as micro, pequenas e médias empresas, para ampliar os postos de trabalho, enfrentando, assim, a questao central da sociedade moderna: a da geraçao de empregos.  É indispensável construir nao um cenário, mas uma realidade na qual se universalize a qualidade de vida, dilatando-se os horizontes, abrindo-se novas oportunidades de futuro. É possível sonhar, mas é indispensável unir o sonhador àquele que realiza. É imprescindível juntar o que idealiza ao que executa, e apropriar-se do mundo com criatividade. Se é verdade que tudo que molesta o Brasil afeta Sao Paulo, é igualmente verdadeiro que tudo que prejudica Sao Paulo compromete o futuro do Brasil.  Sao Paulo está preocupado com questoes que, envolvendo o nosso e os demais Estados, envolvem todo o País. Refiro-me à necessidade, urgente, de baixar as taxas de juros a patamares que permitam estimular a produçao e gerar empregos.  Nao é inteligente, e muito menos socialmente justo, que o País condene sua juventude e sua força de trabalho à escuridao da desesperança. O Estado deve à criança o acesso à educaçao. Aos homens e mulheres em idade adulta, condiçoes de vida compatíveis com o exercício da cidadania. E, aos idosos, a possibilidade de envelhecer com dignidade. Estes deveres se materializam em escola, habitaçao, segurança, transporte, e em muitas outras frentes, todas elas dependentes de recursos tributários originados da atividade produtiva.  A equaçao é simples, e cruelmente singela. Os juros altos diminuem a produçao, que gera menor receita tributária, que inviabiliza investimentos do setor público. Urge romper este círculo vicioso, para que Sao Paulo e o Brasil possam oferecer a seus filhos algo mais que palavras vas de fé e de esperança.  Essa fusao com o coletivo, fui buscá-la na política. E é a ela que devo um conhecimento mais profundo do povo de Sao Paulo. Moldados por uma multiplicidade de raças e de crenças, do operário do ABC ao assentado do Pontal, do empresário e do pesquisador da Universidade ao bóia-fria dos canaviais que ondulam sobre a terra roxa - em todos eles, em cada um deles, se reconhece o mesmo direito à felicidade, a mesma confiança no futuro, e uma enorme disposiçao para a solidariedade.  É essa gente que devemos honrar, e é essa gente que será honrada. As urnas apontaram um inequívoco desejo de estabilidade. Mas indicaram também - com eloquência - a exigência premente de maior justiça social. Povo e governo nao podem seguir dissociados. E quando aquele indica a rota, cabe a este persegui-la, conclamando para tanto toda a sociedade. Este País tem urgências.  O Brasil nao suporta mais adiar a retomada do desenvolvimento. Sao Paulo convoca a todos para esta árdua tarefa de construçao e oferece, desde logo, todo seu vigor e amor à Pátria, sem temor e sem vacilaçao. Ao trabalho, paulistas!"




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;