Cultura & Lazer Titulo
Wollner lança autobiografia '50 anos de design'
Ricardo Ditchun
Do Diário do Grande ABC
06/07/2003 | 18:56
Compartilhar notícia


Alexandre Wollner é daquelas pessoas cujo trabalho se transformou em referência. Ele é designer, brasileiro nascido em 1928 e se dedica à arte de criar, relacionando estética e técnica, há meio século. Essa trajetória pessoal em muitos momentos é a própria história do design visual no Brasil. Wollner celebra seus 50 anos de carreira por meio de uma notável autobiografia (Cosac & Naify, 21cm x 30cm, 336 Págs., R$ 139) que deve chegar às livrarias a partir desta segunda.

Alexandre Wollner – Design Visual 50 Anos, por motivos óbvios, é um livro que tinha mesmo de ser visualmente impressionante. A começar pela sobrecapa que ostenta título e serigrafia colorida (a assinatura de Wollner) sobre papel vegetal. A capa dura é revestida em tecido Frankonia (azul na capa, verde na quarta capa e amarelo na lombada) e a impressão foi realizada em papel alemão Phoenixmotion Xyrrus – um nome pomposo que, para resumir, transmite uma agradável sensação tátil ao leitor.

Wollner optou pela feitura de um livro didático, capaz de satisfazer interesses e públicos variados. Destaque para os textos (a edição inclui versão em inglês) que contêm informações suficientes para situar corretamente o design no Brasil em relação aos movimentos estéticos mais significativos do período que vai da formação básica à consolidação das atividades profissionais do artista. Há prefácios fundamentais assinados por Décio Pignatari, Goebel Weyne e Laïs Moura Wollner.

Além dos textos, a obra apresenta fotografias de época e reproduções de projetos, todos comentados e muitos detalhados desde seus esboços. Por fim, Wollner revela ao leitor as entranhas de sua autobiografia. Ou, em outras palavras, explica em raro making of literário (oito belas páginas em papel reciclado) todo o processo de realização do trabalho. Dá a receita do bolo e, com isso, prova que nunca é por acaso que um produto chega primoroso ao mercado.

Revolução Industrial – No princípio era o artesanato. Depois, por causa dos efeitos irresistíveis da Revolução Industrial, todas as etapas da produção de bens de consumo tiveram de se adaptar aos padrões repetitivos das máquinas. Desde então, a aparência das coisas em geral passou a ser essencialmente determinada pela necessidade de planejamento racional. O design, então, migrou de sua condição atrelada apenas a um sistema artesanal para ajudar a conceber objetos equacionados a partir da conjugação dos elementos tempo, custo, funcionalidade e beleza estética.

Como conseqüência natural do desenvolvimento da forma dos produtos materiais, o design visual adquiriu significativa importância. Um instante mais na evolução econômica e também as marcas se transformaram em valor. Coisas como os símbolos das empresas que fazem carros, refrigerantes, sanduíches, emprestam dinheiro, seguram bens, transportam as pessoas, informam etc.

É nesse ambiente que Wollner circula. Criou entre tantas, as marcas de instituições como Hering, Papaiz, Hering, Klabin, MAC, MAM (RJ), Luminar, Ultragaz, Philco, Moinho Santista Têxtil, Bergamo, Metal Leve, Sadia, Equipesca e Itaú. São símbolos fortes, objetivos e esteticamente perfeitos que dispensam informações complementares.

Construtivismo – A obra de Wollner é profundamente influenciada pelo movimento construtivista que, no Brasil, chegou no início da década de 50. No momento em que o artista finalizava seus estudos de design no IAC (Instituto de Arte Contemporânea do Masp), em 1953, ganhou o Prêmio Revelação de Pintura na segunda edição da Bienal de São Paulo. Em 1954, foi convidado pelo escultor, arquiteto e designer suíço Max Bill (1908-1994) a ingressar na Escola Superior da Forma, em Ulm, na Alemanha, padrão do design moderno como é a também alemã Bauhaus. Ficou por lá até 1958, período em que abandonou a pintura para se dedicar às artes gráficas. Além de Bill, teve aulas com Josef Albers e Johannes Itten, entre outros mestres.

Em 1955 e 1957, ainda na Alemanha, Wollner teve seus cartazes escolhidos para as terceira e quarta edições da Bienal de São Paulo. Quando retornou a São Paulo, foi trabalhar no Forminform, o primeiro escritório brasileiro de design. Entre os fundadores, além dele, estavam Geraldo de Barros, Rubem Martins e Walter Macedo. Pouco depois, com Pignatari e Hermelindo Fiaminghi, abriu um departamento de design na Panam Propaganda. Em 1963, com mais um time de notáveis designers e artistas, Wollner fundou a primeira escola de design do Rio, a ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial).

Sobre todas essas pessoas, basta dizer que foram os responsáveis pela divulgação da arte concreta no Brasil. O andreense Luiz Sacilotto (1924-2003) foi outro pioneiro do concretismo e também conviveu com Wollner no tempo do Grupo Ruptura, responsável pela consolidação dos novos princípios estéticos no país. Max Bill, em particular, foi o mentor de todos os “ruptores”.

A Escola Superior da Forma de Ulm completa 50 anos de fundação em setembro deste ano e já convidou Wollner para as atividades comemorativas. No mês seguinte, o Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo, abrigará uma mostra individual das fotografias de Wollner, que também é um apaixonado pela questão do movimento nessa linguagem artística.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;