D+ Titulo
Folia para alguns, descanso para outros
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
14/02/2010 | 07:46
Compartilhar notícia


Como você definiria o Carnaval?

a) Festa divertida cheia de gente feliz, que é a cara do Brasil; b) Festa barulhenta cheia de gente bêbada, que denigre a imagem do País; c) Feriado legal para descansar e viajar.

Estas são algumas das opiniões que o D+ ouviu durante a apuração desta reportagem.

Quem não gosta, diz que não há sentido algum no Carnaval e considera absurdo ver gente pelada rebolando por aí. Mas quem gosta jura que a comemoração é bacana e divertida. Tem quem trabalhe o ano inteiro para apresentar o melhor durante os desfiles das escolas de samba na avenida.

O diretor do Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro, Hiram Araújo, explica que o Carnaval é festa universal criada há milhares de anos. Era comum na Europa, mas agora o Brasil reina. Mudou com o tempo e hoje virou grande espetáculo, em grande parte, por interferência da mídia. "Não dá para condenar quem gosta nem quem não gosta, mas que é uma grande manifestação cultural, isso é", afirma o diretor.

Não é porque essa comemoração faz tanto sucesso, que todos os brasileiros têm de amá-la. Aliás, segundo Hiram, quando o Carnaval chegou aqui, em 1723, os ricos constumavam se refugiar durante essas festas e realizar bailes de máscaras em locais fechados, enquanto a população mais pobre saia às ruas para bagunçar e jogar ovos e farinha uns nos outros.

O assunto é bem polêmico, mas o fato é que uma das maiores festas populares do mundo já está rolando e movimentando a vida de muita gente, inclusive a sua, não?

Não existe só desfile
O universo do Carnaval não se restringe apenas aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, transmitidos pela TV. Quem gosta de folia tem várias opções para se divertir.

Muitos clubes promovem bailes. A ordem é caprichiar na fantasia e dançar a noite toda ao som de samba, axé e marchinhas. Nas cidades do Interior, os blocos de rua costumam levantar poeira por onde passam durante esta época. Os foliões seguem os trios elétricos nas ruas, com muito confete, serpentina e espuminha.

Aliás, trio elétrico é o que não falta no Carnaval do Norte e do Nordeste. Em Salvador, o babado são os blocos embalados por Ivete Sangalo, Cláudia Leite, entre outros artistas, além dos blocos afros como Olodum e Ileyaê, que são tradição. Os camarotes ficam lotados de artistas.

Em cidades como Olinda, as ruas ficam entupidas de gente que curte o Carnaval no ritmo do frevo e do maracatu. Os desfiles de bonecos gigantes, em Recife, são uma das principais atrações da cidade.

Até os egípcios curtiam
Os egípcios já gostavam do Carnaval há 6.000 anos. Claro que não tinha Cleópatra cantando marchinha. Eles faziam uma festa para comemorar o período de boas colheitas, às margens do Rio Nilo.

Os europeus curtiram a farra e, ao longo dos tempos, esse tipo de celebração se espalhou pela Europa. Na Grécia, em 600 a.C., rolavam as Dionísias, em comemoração a Dioniso (deus da festa e do vinho). Cerca de 300 anos depois, outro deus ganhou homenagem, Saturno, protetor da agricultura. Ele era cultuado nas Saturnálias, quando os escravos tinham permissão de sair às ruas para se divertir.

Com a formação da Igreja Católica, surgiu um novo tipo de comemoração, já que a religião não aceitava as festas populares, mas os fiéis - nem um pouco bobos - queriam se divertir, e a Igreja não queria perder gente. Em 590 d.C., criou-se o Carnaval Cristão, realizado 40 dias antes da Páscoa, período em que era permitido o consumo de carne. Depois, os fiéis teriam a Quaresma para se purificar.

O importante é respeitar
"Meu pai sempre foi mestre de bateria e eu sonho em ocupar esse cargo um dia. Para isso, é preciso muita dedicação. Quem nasce numa comunidade de samba, de periferia, não tem como não gostar de Carnaval. Nos esforçamos o ano todo para mostrar um trabalho bonito na avenida. O coração bate mais forte, é inexplicável. Também sempre curti samba e pagode. Não critico quem não gosta, o que importa é um respeitar o outro",
Gabriel Nascimento Vieira, 15, da Escola Tradição, de Santo André

Tira o estresse
"Desfilo desde que estava na barriga da minha mãe. Passei pelas alas mirim e juvenil e agora estreio como rainha de bateria. Não há emoção igual. É a festa mais alegre do ano. As pessoas aproveitam para se livrar do estresse. Quem não gosta deveria experimentar sair numa escola."
Daniella Marcondes, 15 anos, rainha de bateria juvenil da Escola de Samba Ocara, de Santo André

Não vejo sentido
"Não entendo o porquê desta festa. Não vejo motivos para todo mundo sair seminu dançando por aí. Realmente não vejo um objetivo nesta comemoração. Para mim, Carnaval é ideal só para quem gosta de samba, de axé. Como eu não gosto, nem ligo a televisão nestes dias. Passo o feriado todo descansando ou saio com os amigos. Vou até o clube, mas não entro nos bailes de Carnaval. Não gosto que as pessoas joguem coisas em mim."
Giovanna Carvalho, 14 anos, Santo André

Não curto bagunça
"Não gosto da bagunça, sou mais tranquila. Para mim, Carnaval é sinônimo de descanso. Ninguém da minha família curte. Também não acho que esta festa signifique alguma coisa. Talvez na época das marchinhas ainda fizesse algum sentido, hoje não vejo sentido algum em um monte de gente bêbada e mulher pelada rebolando. Não tem nada a ver."
Carolina Feltrin, 14, Santo André

Serve para mascarar
"O Carnaval é uma festa banal e hipócrita também, porque o País acaba escondendo tudo o que há de errado - como pobreza e violência - com o brilho das escolas de samba. É um jeito de mascarar os problemas. Não me incomodo com a música, porque gosto de todos os ritmos. O que não gosto mesmo é da festa em si. Vou viajar nestes dias."
Felipe Nardoni, 17, Ribeirão Pires

Como se fosse aniversário
"Minha família inteirinha ama Carnaval, e eu não sei como é não gostar desta festa. A gente fica mais unido quando organiza os desfiles e isso é muito bom. Eu toco ganzá na escola, mas gosto também de cantar e sambar. Para mim, Carnaval é como se fosse o meu aniversário. A emoção é a mesma. As pessoas ficam felizes. Tem gente que exagera na comemoração, mas a maioria sabe aproveitar direitinho."
Thamires Morales, 11 anos, toca na bateria da Mocidade Alegre de São Leopoldo, de São Bernardo

Razões para gostar
*
As pessoas ficam felizes e a alegria é contagiante
* São quatro dias para poder descansar
* Dá para conhecer muita gente legal
* Os enredos das escolas de samba transmitem cultura e sempre ensinam algo
* É momento de descontração
* A diversão em família ou entre amigos une mais o grupo
* Se é fã de samba, pagode, axé e funk vai curtir
* A emoção transmitida pela escola é contagiante, bem como a comemoração da escola campeã

Razões para odiar
*
Se você mora perto do barracão de uma escola de samba ou bloco, não vai conseguir dormir
* Mesmo que não queira, vai voar confete e espuminha em você
* As estradas ficam megacongestionadas
* A TV só fala sobre Carnaval durante noite e dia
* Mesmo que não goste, samba, pagode, axé e funk dominam os espaços nestes dias
* Como as pessoas bebem demais, a violência é maior
* Há muita promiscuidade e apelação
* É sempre tudo muito igual

No mundo também rola
O Carnaval brasileiro é incontestavelmente o maior e mais conhecido. Os gringos até tentam fazer o deles, mas passa bem longe. Em cada local, a festa ganha características próprias de acordo com a cultura regional.

Na Europa, por exemplo, é comemorado em pleno inverno, o que muda a maneira de festejar e a de os foliões se vestirem. Em Berlim, na Alemanha, a festa lembra um pouco os desfiles brasileiros, com carros alegóricos e fantasias. Já em Veneza, na Itália, as pessoas usam máscaras e assumem outra identidade.

Dia diferente - O Carnaval não tem data fixa porque é definido a partir da Páscoa dos católicos, que segue o calendário lunar. É que a festa que celebra a ressurreição de Cristo cai sempre no primeiro domingo de lua cheia depois do início da primavera no Hemisfério Norte. A partir daí, volta-se atrás no calendário para contar oito domingos e definir o domingo de Carnaval, totalizando 50 dias. Mas por que então falam de quaresma, depois da Quarta-feira de Cinzas, se a conta dá mais de 40 dias? É que, na verdade, esse período se completa um domingo antes da Páscoa, chamado Domingo de Ramos, quando a Igreja inicia as celebrações dessa festa.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;