A caminhada até a Cachoeira dos Cristais leva três horas. À medida que a manhã avança e o sol se torna mais forte, a neblina dá lugar a uma imensidão verde rica em bromélias, begônias, orquídeas e canelas-de-ema. Num primeiro momento, parece pouco provável que em meio àqueles chapadões cobertos de uma vegetação predominante de campos rupestres haja água, e em abundância. Depois de um longo trecho irregular e de uma descida íngreme surge o rio Paraguaçu, um dos mais extensos da Bahia, que vence pedras e se embrenha na mata.
A partir daí, a maior parte do caminho segue o curso do rio. Antes do destino final, é feita uma escala em outra cachoeira, das Três Barras, também pouco conhecida. Mais uma subida – das muitas enfrentadas – e meia hora pelo fundo de um imponente cânion e lá está ela, a Cachoeira dos Cristais, descoberta oficialmente em março último por um guia de Andaraí, cidade a 48 km de Mucugê. Foi assim batizada em alusão às pedrinhas transparentes encravadas nas escarpas da rocha por onde passa a queda d’água de cerca de 100 m. Para o guia, elas pareciam cristais. Até o início de setembro não mais que 500 pessoas tiveram o privilégio de se banhar em suas águas cristalinas, que no poço formado pela cachoeira adquirem coloração escura, semelhante a ferrugem, provocada principalmente pelo tanino, pigmento desprendido pelas plantas. O fenômeno acontece na maioria das cachoeiras da chapada.
Toda a parte sul da chapada, inclusive aquela situada fora dos limites do Parque Nacional, está repleta de paisagens pouco exploradas pelo turismo ou tocadas pelo homem há pouco tempo. A região abrange, além de Igatu e Mucugê, cidades como Itaetê – onde estão os poços Azul e Encantado – e Ibicoara – que abriga a recém-descoberta Cachoeira do Buracão. Acredita-se que, em alguns locais, nem garimpeiros, na época áurea do diamante e do ouro na região, já estiveram.
Até alguns meses atrás a vista do majestoso Vale do Pati e do cânion do rio Paraguaçu permanecia imune aos olhos humanos. Essa paisagem agora pode ser observada a partir da Rampa do Caim, maravilhoso local alcançado depois de duas horas por uma árdua e bela trilha a partir de Igatu. Para quem quer se aventurar por rincões como esse é imprescindível contratar um guia, cujas diárias variam de R$ 25 a R$ 40 por grupo, de acordo com o passeio.
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