Economia Titulo Análise
Conexões Barcelona e Grande ABC
Daniel Vaz*
08/03/2019 | 07:14
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Em 27 de fevereiro deste ano, em Barcelona, capital da Catalunha, Espanha, encerrou-se mais uma edição do MWC (Mobile World Congress). O evento de 2019, do qual participamos, apresentou com destaque o avanço da tecnologia 5G, tanto em sua cobertura, cada vez mais ampla, como nos equipamentos, e será tratado em futura Carta de Conjuntura da USCS.

Esse é somente um dos cerca de 200 eventos internacionais que ocorrem em Barcelona, anualmente, que apoiam a consolidação da cidade como o primeiro destino turístico mundial de eventos de negócios. Há oito anos, a cidade realiza a principal feira sobre cidades inteligentes do mundo. Em 2018, o evento reuniu cerca de 700 representantes de 146 diferentes países. Os participantes são atraídos – assim como os que participaram do MWC – pela qualidade do evento e grande quantidade de iniciativas que podem ser geradas a partir do networking e do ambiente de negócios diferenciado.

Ainda hoje a cidade desfruta dos investimentos realizados na organização dos Jogos Olímpicos de 1992, que colaboraram com o desenvolvimento estrutural de Barcelona, além do próprio evento esportivo em si. Aproximadamente 9% dos investimentos foram direcionados para a construção de estruturas esportivas destinadas à Olimpíada; o restante (91%) foi utilizado em processos de requalificação urbana. Com isso, Barcelona descobriu vocações para o seu desenvolvimento local, tema que se encontra na ordem do dia da maioria das cidades. A economia sofre os efeitos positivos e negativos da globalização e do avanço da utilização das tecnologias de informação e comunicação.

Barcelona foi objeto de atenção para as primeiras iniciativas de revitalização do Grande ABC, implementadas sob o comando do saudoso Celso Daniel (morto em 2002) no início dos anos de 1990. Naquele momento, a região sofreu a perda de cerca de 50% dos seus postos de trabalho na indústria – fruto do processo de desindustrialização ocorrido na região e no País. Entretanto, o mundo atual gira ainda mais rápido do que na década de 1990. Para os países emergentes como o Brasil, os impactos negativos podem ser ameaçadores, como anunciam as notícias sobre a indústria automobilística regional nesses primeiros meses de 2019, com os casos da GM e da Ford.

As informações recentes sobre os planos de indústrias automobilísticas de fechar ou reconfigurar suas unidades produtivas localizadas em nossa região acendem novamente o alerta sobre a urgência na retomada do debate sobre os rumos de desenvolvimento do Grande ABC. Se, há duas décadas, o investimento na atração de empresas de serviços remediou o problema, qual será o caminho a partir desse novo momento?

Nesse sentido, Barcelona – assim como outros modelos de cidades – pode servir como referência para a nossa região. A cidade conseguiu reinventar-se a ponto de alcançar postos de liderança global sobre diversos pontos de análise. Apesar de tratarmos de localidades (Barcelona e Grande ABC) que possuem diferenças em vários aspectos, o sentido da comparação segue pertinente pela necessidade atual e urgente de novas alternativas que ofereçam perspectivas para o futuro da região.

Uma das temáticas centrais para a atratividade econômica de regiões metropolitanas, bem como de cidades médias e grandes, é a mobilidade urbana, questão que causa muitos efeitos negativos a essas localidades quando não tratados de maneira adequada. No Brasil, estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) apontou em 2015 que os congestionamentos, as vias mal planejadas e a precariedade do transporte público retiraram da economia brasileira mais de R$ 110 bilhões por ano. O estudo denominou isso de “produção sacrificada”, o equivalente a 4,4% do PIB (Produto Interno Bruto) daquele ano.

Neste contexto, São Caetano dará importante contribuição ao debate sobre esse processo, realizando, entre 7 e 9 de maio, o V Eimus – Encontro Ibero-Americano sobre Mobilidade Urbana Sustentável. A primeira edição do evento foi realizada justamente em Barcelona, em 2008. Depois de passar também por Bogotá, Lima e Quito, ele chega ao Grande ABC. O encontro reunirá representantes de dez países, que, apresentando suas experiências, poderão nos ajudar a encontrar os caminhos para o desenvolvimento que tanto desejamos. Mais informações sobre o evento em eimusbrasil.com.
 

* Pesquisador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano)




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