O bombástico anúncio feito na tarde de ontem pela direção nacional da Ford, de que vai encerrar a produção de veículos na planta de São Bernardo, obriga o Grande ABC a pautar discussão que vem sendo adiada demasiadamente: a região consegue sobreviver sem a indústria automobilística? A pergunta é oportuna diante do reposicionamento global das grandes montadoras, às voltas com prejuízos provocados pelos novos hábitos de consumo, entre eles a redução do desejo de se ter veículo próprio.

Diante da complexidade do tema, e também do envolvimento quase passional da região com o setor automotivo, compreendem-se as razões do protelamento do debate. A decisão da Ford de encerrar as linhas de montagem em São Bernardo e a ameaça da GM (General Motors) de abandonar São Caetano, todavia, chamam os agentes públicos e representantes da sociedade civil organizada ao ringue. Não dá mais para ignorar o assunto, imaginando que o segmento não enfrenta mudanças profundas.

Uma das primeiras autoridades nacionais a questionar o desenvolvimento regional sustentado na indústria automobilística foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em palestra realizada em Santo André, inclusive promovida por este Diário no já longínquo fevereiro de 2014, o sociólogo fez alerta que, à luz da situação atual das montadoras, talvez tenha sido premonitório: “O Grande ABC tem futuro desde que a gente entenda o futuro dele”.

É exatamente isso. Falta debate sobre o que será das sete cidades caso o setor que fez a fama e a riqueza da região, da década de 1950 em diante, perca a relevância que sempre teve no mundo. Necessário discutir, com rigor, desprendimento e responsabilidade, se está esgotado o histórico ciclo de desenvolvimento regional baseado nas montadoras. E, em caso de se concluir que a indústria automobilística é, de fato, coisa do passado, quais as alternativas para que o Grande ABC mantenha as pujanças econômica e social. A encruzilhada se apresenta; por qual caminho seguir?