Política Titulo Ex-presidente preso
Petistas marcam presença em despedida de irmão de Lula e criticam decisão de juíza
Por Caroline Garcia
Do dgabc.com.br
30/01/2019 | 12:13
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Caroline Garcia/DGABC


Lideranças petistas marcaram presença no velório e enterro de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (30), no Cemitério da Pauliceia, em São Bernardo. A despedida serviu de palco para críticas à decisão tomada nesta madrugada pela juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execução Penal do Paraná, que negou, após horas de impasse e batalha jurídica, pedido de Lula para deixar temporariamente a prisão a fim de participar da cerimônia. Embora o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, tenha autorizado a saída mais tarde, a decisão chegou quando Vavá já estava sendo sepultado, por volta das 13h.

“Não é a primeira vez que temos uma injustiça com o Lula. Um grande amigo (o advogado Sigmaringa Seixas) dele morreu e ele não foi autorizado a ir no velório e enterro. Inclusive, no despacho de negação, a alegação foi que não havia vínculo familiar. Que para ir a uma cerimônia do tipo teria de ser cônjuge, mãe, pai ou irmão. Agora morre um irmão de Lula, quem ele sempre teve como referência paterna e ele não pôde vir”, disse Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.

Gleisi, que reforçou que Lula é tratado como preso político, afirmou que a legenda se prontificou a custear os encargos para trazer o ex-presidente de Curitiba até São Bernardo. “O PT se dispôs a pagar as despesas de locomoção do Lula para não dizerem que estávamos gastando dinheiro público. Íamos juntar recursos do partido e da nossa bancada. A justificativa (de falta de logística) é muito rasa, sem consistência. Estamos esperando uma explicação do (ministro da Justiça) Sérgio Moro a respeito dessa negativa e da declaração de incompetência da PF (Polícia Federal) de fazer essa logística.”

Para Paulo Pimenta, deputado federal petista do Rio Grande do Sul, a lei que vale para Lula só lhe tira os direitos. “Não bastava matar Tiradentes, tinha que esquartejar, mutilar, pendurar e espalhar para que as pessoas soubessem o que aconteceria com quem fosse contra o poder na época. Na escravidão, os escravos não eram açoitados escondidos, iam ao Pelourinho para que todos assistissem e para que as pessoas não tentassem fugir. Lula é um refém de uma lógica perversa que impõe por meio do tratamento que é dado a ele uma forma de sinalização para intimidar a todos e todas nesse País.”

Já Emídio de Souza, ex-prefeito de Osasco e deputado estadual eleito pelo PT, lembrou episódio no qual, em 1980, no regime militar, o ex-presidente, que na época tinha sido preso por liderar uma greve na região, foi autorizado pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) a comparecer ao velório de sua mãe, Eurídice Ferreira, a Dona Lindu. “O trágico dessa história é que um direito que foi garantido ao Lula durante a ditadura militar, de ver a mãe quando morreu, foi negado agora, nessa democracia capenga que nós temos.”

De acordo com José Ferreira da Silva, o Frei Chico, a liberação que ocorreu no caso de Dona Lindu, poderia ter se repetido na tarde de hoje, na despedida de seu irmão. “Na época, quem tomou conta foram dois policiais e sindicalistas. Não teve nenhum problema. Ele faria isso de novo. Se conhecessem o caráter do Lula, saberiam que ele faria com toda a tranquilidade”, contou o irmão do ex-presidente.

O ex-prefeito de São Bernardo pelo PT Luiz Marinho rechaçou o fato de ventilar-se que Lula poderia usar o velório de Vavá para fugir da prisão. “Se ele tivesse aqui, não precisaria de um policial federal, podia liberar para o PT, para a nossa militância que nós tomaríamos conta do Lula e ele voltaria como foi. Se ele quisesse fugir, teria fugido antes de ser preso, todo mundo sabe disso, o mundo sabe disso. Portanto, é inaceitável essa desculpa da juíza.”

Durante missa que ocorreu logo antes do sepultamento, Gleisi disse que Lula pediu para falar que ele nada poderia fazer quanto à decisão. Segundo ela, o recado do ex-presidente dizia: “O que posso fazer é chorar e rezar pelo Vavá aqui (em Curitiba). Mas a gente tem que denunciar o que está acontecendo porque não é pouca coisa.”

Entre os presentes no velório também estavam o ex-prefeito de São Paulo e candidato à Presidência da República nas últimas eleições Fernando Haddad, o vereador de São Paulo Eduardo Suplicy, o ex-deputado federal José Genoino, o deputado estadual Teonílio Barba, o ex-prefeito de Diadema José de Filippi Júnior e o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.

Amigos e militância prestam homenagens a Vavá

Com a sala de velório cheia, família, amigos e também militantes do PT foram se despedir de Vavá nesta quarta-feira, que morreu vítima de câncer de pulmão, aos 79 anos.

O agente de trânsito Josuel Alexadre, 51 anos, conhecia Vavá desde 1986, quando trabalharam juntos na Prefeitura de São Bernardo. “Ele foi meu chefe por 20 anos, mas não tinha dessa de não se misturar, ele almoçava com a gente de igual para igual. Era um ser humano e tanto. Tinha um coração enorme, era humilde e muito alegre. Ele não merecia que lhe fosse negado a companhia do irmão (Lula) nessa despedida.”

O motorista Francisco Rodrigues, 60, também cultivava amizade com Vavá desde os anos 1980. “O conheci durante campanha política. Desde então mantivemos contato. Em 2002, quando minha mãe morreu, tivemos um problema de documentação e ele ofereceu o jazigo da família dele para enterrarmos ela. Acabei não precisando, mas agradeci imensamente.”

Apesar de não conhecer pessoalmente o irmão de Lula, a indígena Maria Florguerreira, da etnia pataxó, veio de Recife para prestar homenagem aos familiares e amigos. “Vim pela gratidão que tenho à Lula e sua família. Comprei duas passagens para chegar até aqui. A primeira o voo atrasou, então fui em outra companhia. Cheguei 2h13, desembarquei no portão 13 e também peguei um Uber que a placa tinha o número 13”, disse a militante, formada em sociologia na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), e que afirma já ter passado 200 dias acampada em Curitiba em solidariedade à prisão do ex-presidente.

Impasse

O pedido de Lula para deixar temporariamente a prisão foi feito pela defesa do ex-presidente às 15h50 de ontem, mas a juíza Carolina Lebbos só deu a palavra final à 0h25 de hoje. Em sua decisão, ela concordou com os argumentos da força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal) e da Polícia Federal, que foram contrários à saída de Lula. “Este juízo não é insensível à natureza do pedido formulado pela defesa. Todavia, ponderando-se os interesses envolvidos no quadro apresentado, a par da concreta impossibilidade logística de proceder-se ao deslocamento, impõe-se a preservação da segurança pública e da integridade física do próprio preso”, diz trecho da decisão da juíza.

A princípio, a defesa do ex-presidente foi à Justiça Federal do Paraná pedir permissão para que Lula viesse ao enterro, mas, à noite, devido à demora, recorreu ao TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). A defesa de Lula ingressou com habeas corpus no Tribunal pedindo que Lula fosse ao velório e sustentando que o ex-presidente estava sofrendo “coação ilegal” da juíza Carolina Lebbos, que “deixou de decidir em tempo hábil”. Para os advogados, a magistrada não deveria abrir prazo para ouvir o MPF, mas apenas cumprir o artigo 120 do Código Penal, que permite que presos deixem a cadeia em caso de morte do “cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão”.

A juíza acabou pedindo manifestação da Polícia Federal. Por volta das 22h, a PF indeferiu o pedido alegando ser inviável o transporte de Lula até o Cemitério da Pauliceia, em São Bernardo. Em seu parecer, o delegado Luciano Flores de Lima alegou que “seria necessário um transporte de helicóptero” e que “no momento os helicópteros que não estão em manutenção estão sendo utilizados para apoio aos resgates das vítimas de Brumadinho (Minas Gerais)”. A PF também sustentou que a liberação de Lula poderia ocasionar na “fuga ou no resgate do ex-presidente”; “atentado contra a vida” do petista ou “comprometimento da ordem pública” devido a protestos.

Logo em seguida, a Lava Jato também foi contra a saída de Lula, sob o argumento de que o ex-presidente “não é um preso comum e que a logística para realizar a sua escolta depende de um tempo prévio de preparação e planejamento”. Lula cumpre pena de 12 anos de prisão desde maio do ano passado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. (Com informações de Caroline Garcia, Daniel Tossato e Júnior Carvalho




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