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Centrais sindicais vão fazer pauta única

Objetivo é se defender de futuras propostas semelhantes às realizadas pela GM; Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano rejeita nove dos 22 pleitos

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
30/01/2019 | 07:24
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As centrais sindicais se reúnem na sexta-feira para elaborar, em conjunto, pauta em resposta ao modelo de negociações imposto recentemente pela GM (General Motors). A reunião acontece no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e conta com a participação da Força Sindical e da CUT (Central Única dos Trabalhadores), entre outras. Ontem, foi realizada mais uma reunião entre diretores da montadora norte-americana e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, dando prosseguimento às negociações para novos investimentos na planta da região. O sindicato rejeitou nove das 22 propostas.

O intuito das centrais é elaborar propostas coletivas e direcionadas às montadoras, se antecipando ao fim da vigência dos acordos coletivos, que se estendem até 2021, e se protegendo de possíveis propostas similares às feitas pela GM. O presidente da Força Sindical, CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos) e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Miguel Torres, afirmou que a postura da empresa é a de chantagem social. “Somos contra o fechamento das fábricas, pois defendemos o desenvolvimento, mas repudiamos a pressão das empresas que, para garantir o aumento de seus lucros, tentam impor mais sacrifícios aos trabalhadores”, disse.

Em relação às conversas regionais, o presidente da entidade representativa dos trabalhadores, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, disse que as propostas relacionadas à reforma trabalhista, como terceirização irrestrita, trabalho intermitente e contrato de trabalho de regime parcial, foram negadas. “Não tem como construir as negociações em cima de uma pauta que envolve terceirização e trabalho intermitente. Nós não aceitamos, mas vamos aguardar o posicionamento da empresa na próxima reunião (na sexta-feira) ante o nosso veto”, assinalou.

Além delas, também foram negados: a revisão das regras de aplicação e o valor da PLR (Participação de Lucros e Resultados), que não seria paga neste ano; exclusão da estabilidade para trabalhadores acidentados; fim do subsídio do transporte; jornada de trabalho de 44 horas; e revisão do piso salarial de R$ 1.800 para R$ 1.600. “Vamos preservar o que já está definido em acordo que fizemos com a montadora em 2017. Além disso, direitos como o transporte foram garantidos pela nossa luta. Estamos levando em consideração a convenção coletiva”, destacou Cidão.

A alteração do plano médico é um dos tópicos que estão em discussão entre as partes. De acordo com o sindicalista, não haverá mudança no modelo ou na operadora, e a coparticipação sequer foi cogitada, mas a empresa propôs mudanças na categoria do plano e também no valor subsidiado (hoje 72% do montante, o que pode cair a até 50%, de acordo com as negociações).

Outro tópico que está em aberto é a possibilidade de rescisão de contrato durante o afastamento para o trabalhador que já possui o tempo para se aposentar. “Precisa ser analisado cada caso, e ver qual a situação deste trabalhador, o motivo do afastamento e a situação do plano de saúde.”

A montadora pretende resolver as negociações com trabalhadores, poder público, concessionárias e fornecedores até a primeira quinzena de fevereiro. O prazo, confirmado por participantes da negociação, é dado pela GM para que o plano seja apresentado aos investidores.

Informações de bastidores sinalizam que o aporte da empresa às plantas do País, em contrapartida à flexibilização dos direitos, chegaria na casa dos R$ 13 milhões. Ainda não há mais detalhes sobre o montante que iria para cada uma das unidades, mas Cidão acredita que outro modelo seria fabricado em São Caetano, além do SUV previsto para dezembro, em decorrência do aporte anterior, de R$ 1,2 bilhão.

Questionada sobre o conteúdo da reunião pelo Diário, a GM respondeu que não vai se manifestar sobre o assunto.


Prefeitura estuda incentivos no IPTU e na conta de água

A Prefeitura de São Caetano estuda conceder incentivos relacionados ao IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e até mesmo na conta de água para a GM. Reunião entre representantes da montadora e a administração municipal deve acontecer ainda nesta semana para alinhar os benefícios.

Segundo o deputado estadual eleito Thiago Auricchio (PR), a contrapartida da Prefeitura, a fim de contribuir para a permanência da GM na cidade, considera fornecer incentivos no “IPTU e na água”. “Em São Caetano, a maior renda vem da GM e ninguém quer perder uma empresa desse porte”, afirmou, sem entrar em detalhes.

A GM, ao lado da Transpetro e da Via Varejo são as maiores arrecadadoras de impostos de São Caetano. Em 2018, conforme dados preliminares do Paço, o recolhimento de ISS (Imposto Sobre Serviços) na cidade atingiu R$ 216 milhões, R$ 6,5 milhões provenientes da fabricante. Quanto ao repasse de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), que totalizou R$ 330 milhões, 24%, ou R$ 80 milhões, se devem à montadora.

O deputado, que acompanha as negociações desde a primeira reunião entre os envolvidos, realizada há uma semana na planta de São José dos Campos, Interior, afirma que as conversas estão encaminhadas. “As prefeituras estão se esforçando ao máximo. Com o governo do Estado também já existe toda uma negociação entre o secretário (da Fazenda, Henrique) Meirelles e o governador João Doria (PSDB). Acordo com as concessionárias está muito avançado, com a redução da comissão sobre as vendas. Já com os fornecedores ainda está um pouco complicada”, explicou.

Em relação ao sindicato, ele destacou que entende que os trabalhadores estejam mais resistentes. “Eles tiveram um acordo em 2017. Amanhã (hoje) eu e o prefeito vamos nos colocar à disposição para conversar com o presidente da entidade, o Cidão”, revelou.

Declarações da presidente global da montadora, Mary Barra, e comunicado distribuído aos trabalhadores, assinado pelo presidente da GM na América do Sul, Carlos Zarlenga, alertou sobre a possibilidade de retirada dos investimentos do País. As negociações tentam trazer mais investimentos da empresa para as plantas produtivas.
 




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