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Fé, batalhas e glórias
Heloísa Cestari
Enviada a Portugal
27/10/2005 | 09:40
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Castelos medievais protegidos por imensas muralhas, mosteiros gigantescos e histórias de batalhas sangrentas empreendidas entre mouros e cristãos na época das Cruzadas pontuam o percurso de quem parte de Lisboa rumo ao Norte do país com lembranças de um passado marcado por glórias e lutas em nome da fé. Em um único dia, é possível visitar localidades como Mafra, Óbidos, Batalha, Alcobaça e ainda contemplar o belíssimo pôr-do-sol à beira do Atlântico em Peniche – segundo ponto mais ocidental da Europa, atrás apenas do Cabo da Roca – antes de retornar à capital.

Primeiro ponto de parada: Mafra. Eternizada pelo escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, no livro Memorial do Convento, a cidade abriga um dos maiores símbolos da opulência da Igreja Católica: o convento de Mafra, construído em 1717 a mando de D. João V como forma de pagar a promessa que fez em troca de ter um herdeiro. Deslumbrados com toda a riqueza advinda das jazidas de ouro brasileiras, os ambiciosos sacerdotes transformaram o projeto, inicialmente modesto – deveria abrigar apenas 13 padres franciscanos – em um audacioso edifício barroco, com nada menos que 4,5 mil portas e janelas (naquela época, o imóvel era avaliado com base no número de janelas) e uma das maiores bibliotecas da Europa, servindo de residência a 300 padres e toda a família real.

As tendências megalomaníacas que imperavam no alto clero da época, aliás, brindam o turista com verdadeiras pérolas da arquitetura ao longo de todo o trajeto. Por isso, não perca tempo. Retorne à auto-estrada A8 e prossiga até a cidade medieval de Óbidos, que esbanja romantismo em suas ruas de pedras dos séculos XV e XVI, com muros floridos, igrejas seculares, ermidas góticas e casinhas brancas pintadas com cal. Tudo cercado por uma imensa muralha, de aproximadamente 2 km, que "protege" os cerca de 200 habitantes e confere um charme todo especial à vila.

Não é para menos que tantos reis portugueses ofertavam Óbidos como presente de casamento a suas esposas, que garantiram vários benefícios à região. Hoje, o que se vê são turistas vendo suas mulheres torrarem o cartão de crédito internacional nas dezenas de lojinhas de artesanato da rua Direita depois de um romântico passeio de charrete pela vila-museu.

Eventos culturais, museus e restaurantes encantadores, a propósito, não faltam para entreter os casais de pombinhos à noite. Assim que encerrar, amanhã, a temporada de concertos de cravo em homenagem aos 250 anos do terremoto que pôs abaixo boa parte de Lisboa, a vila já começará a se preparar para o Festival Internacional de Chocolate, em que um júri elegerá as melhores receitas à base do ingrediente entre os dias 8 e 13 de novembro. Haja tentações!

Os apaixonados por água, por sua vez, podem dar uma esticadinha até as termas da vizinha Caldas da Rainha – indicadas ao tratamento de doenças de pele e problemas respiratórios – ou praticar esportes náuticos na Reserva Natural da Ilha de Berlenga, a única do gênero no país e, sem sombra de dúvida, um dos mais belos cartões-postais da costa Oeste lusitana. Cerca de 30 empresas partem do porto de Recreio, em Peniche, para passeios de barco pela região, com direito a pesca, mergulho (com visibilidade a 50 m, uma das melhores da Europa) em naufrágios e até num avião inglês da Segunda Guerra.

Mas se a preferência for mesmo o roteiro histórico-religioso, volte à A8 e siga mais cerca de 30 km até o Mosteiro de Santa Maria, em Alcobaça. Erguida em 1153, a construção – declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco – abriga a maior igreja do país, além dos túmulos gótico-flamejantes de Pedro I e Inês de Castro, datados de 1360. Destaque para a cozinha – com uma enorme chaminé e um tanque de onde os peixes eram pescados indo direto à panela – e para a estreita portinha no refeitório dos monges: quem entalasse na passagem teria de fechar a boca para evitar o pecado da gula. Que os donos de spa não leiam essa dica...

Por fim, dirija-se a Batalha e visite a abadia dominicana de Santa Maria da Vitória, erguida a partir de 1388, a mando de D. João I (o filho bastardo de Pedro com Inês, eleito pelo povo), como forma de agradecer à Virgem a vitória sobre os castelhanos na batalha de Aljubarrota, mesmo possuindo um exército três vezes menor que o dos rivais. Também reconhecida como Patrimônio da Humanidade, a abadia levou quase 200 anos para ser concluída. Conseqüência: uma verdadeira obra-prima do estilo gótico português.




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