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Traços certeiros de tinta

Artista de Diadema, Edson Jesus da Silva pinta em muro da cidade obra de 195 metros

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
27/01/2019 | 07:12
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Nario Barbosa/DGABC


Os traços de tinta deixados pelas mãos de Edson Jesus da Silva, o Edinho, são certeiros e têm razão de existir. O artista andreense, radicado em Diadema, 49 anos, acredita que com a arte que realiza, por meio do grafite, pode deixar a cidade mais bonita e alertar a população e autoridades das mazelas espalhadas pelo País.

Seu interesse pela arte surgiu quando fazia pichação, em 1987. Dois anos depois já estava envolvido com o grafite. Nunca mais parou. Espalhou suas obras em diversos lugares, inclusive na região, optando na maioria das vezes por estêncil – fôrma vazada de acetato ou papel –, conhecida por stencil art, e algumas vezes à mão livre. O mais novo de seus trabalhos está cravado em um muro em Diadema, na Avenida Ulysses Guimarães, ao lado do Centro de Detenção Provisória.

A obra tem nada menos que 195 metros, segundo ele, a maior da região feita com estêncil. A intervenção no muro começou há um ano. Era menor. O artista diz que ganhou algumas tintas e escolheu o espaço por estar abandonado. “Queria apenas colorir o local e chamar atenção para a questão do racismo”, conta. “ Indignado com algumas notícias de abuso de crianças, na semana passada, resolvi interferir no meu próprio trabalho e elaborei um estêncil denunciando está prática horrível. Queria ajudar de alguma forma”, diz.

De perto a pintura talvez não tenha tanto impacto. Mas à distância, como em um ‘passe de mágica’, os traços dão vida a diversos rostos que estão ao lado de várias formas coloridas e de palavras que remetem ao amor.

A obra não foi pedido de ninguém e o artista não recebeu um centavo por ela. “Essa é a essência do grafite. Pintar sem ser pago”, afirma ele. “Quando alguém me paga para fazer, já não chamo de grafite, mas de arte urbana. Há artistas que discordam, mas é assim que é”, reforça.

Uma das características de suas pinturas, além do fato de serem na maioria das vezes questionadoras, são os rostos em preto e branco. “Acho que dá mais visibilidade para o meu trabalho.”

Edinho fez oficina e conseguiu dicas com alguns artistas. Mas sua escola, para valer, aconteceu nas ruas. E foi nelas que estampa o que cria. Ele diz que não escolhe onde pintar, mas sim o contrário. “Às vezes estudo muito o local a ser pintado, e tem lugar em que eu já chego fazendo”, conta.

Uma de suas artes, também em Diadema, no bairro Eldorado, é de um garoto segurando um enorme coração. Segundo ele, é apologia ao amor. “O amor é contagioso”, afirma. Locais como Novo Iguassu e Jardim Promissão, também na cidade onde mora, ganharam obras assinadas por Edinho.

Fora do Grande ABC, ele espalhou seus traços em São Paulo, Itanhaém, Mongaguá, Santos, Belo Horizonte (Minas Gerais), Guarapari (Espírito Santo) e Salvador (Bahia). E as peças chamam a atenção tanto depois de prontas quanto durante o processo de criação. Ele lembra que uma vez, no Acre, enquanto pintava na rua, uma senhora que trabalha com limpeza, pediu para que desenhasse em seu carrinho de lixo para que ficasse bonito. Fez na hora.

Edinho acredita que toda comunidade carente deveria ter alguém para ensinar grafite para a população. Assim, ocuparia a cabeça das crianças e adolescentes com arte. “Mesmo que (eles) não seguissem o caminho da arte urbana, seria porta para outras atividades artísticas”, finaliza. É possível ver trabalhos do artista no Instagram (edinhostreet). 




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