A transição de governo nunca é tranquila. Quem está chegando, na maior parte das vezes, pensa de maneira diferente daqueles que estão de saída. O encaminhamento dado a determinados assuntos, as decisões tomadas ou as omissões. Tudo transforma-se em combustível para reaquecer disputas que, meses antes, incendiaram a campanha política.

Três dias após receber o Palácio dos Bandeirantes, João Doria e sua equipe deparam-se com herança maldita deixada pelo antecessor Márcio França. Nada menos que 175 importantes obras completamente paralisadas e que, caso tivessem sido adequadamente tocadas, melhorariam a vida das pessoas em áreas como Educação, Transportes e saneamento básico.

Uma delas interessa diretamente ao Grande ABC. Trata-se da canalização de 7,5 quilômetros do Córrego Oratório, entre a Capital e Santo André, iniciada em 2012 com a promessa de reduzir enchentes na Bacia do Tamanduateí e custo de R$ 80 milhões, sendo R$ 64 milhões financiados pela Caixa. O tempo passou e nada aconteceu.

O ‘início’ da obra, há quase sete anos, foi acompanhado pela equipe de reportagem deste Diário. Na época o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) não estipulou prazo de conclusão, pois isso estaria diretamente vinculado ao processo de desapropriação das moradias situadas em área de risco.

Uma das pessoas que deixaram suas casas espera até hoje que algo realmente seja feito. A cada chuva mais forte, ela e a família se afligem. O que seria provisório tornou-se permanente.

Assim como ela, outras centenas de cidadãos sofrem com o descaso. São 76 creches que não foram construídas, moradias não erguidas, estradas abandonadas...

Governador João Doria, o senhor herdou um passivo complicado, mas que precisa ser destravado. É o que os paulistas esperam. Empenho para fazer o que outros, menos comprometidos, ignoraram.